Nasce uma lenda

Há algumas imagens que são gravadas em nossa memória, que se tornam eternas. A minha geração gravou uma que de tão forte com tempo passou a ser contada em várias versões. E foi tão bela e provocou tanta emoção, que pode ser contada em forma de lenda. Em 1971, o Coritiba ganhava do Atlético Mineiro, com um gol de Paquito, e o jogo já pegava o caminho do final. Os coxas atacavam para o gol de fundo do “Belfort Duarte”. O capitão Hidalgo, com a bola e com a sua visão de jogo, lançou para Abatiá pelo lado esquerdo do ataque. Com a bola sob o seu domínio, mais próximo da linha de fundo, Abatiá driblou Grapete, e imediatamente deu um corte, projetando Vantuil ao chão. Humilde, ao invés de correr o risco e fazer o gol de Renato, preferiu dar a bola na cabeça de Leocádio. E Leocádio perdeu o gol.

A jogada de Abatiá foi tão bela e causou tanta emoção pelos dribles em sequência em um metro de campo, que Deus interviu e desviou a bola para a trave, que havia de Leocádio. Deus raciocinou rápido: o gol de Leocádio seria um gol simples, absolutamente comum. A jogada de Abatiá foi daquelas que não deveria ter um outro final, esgotando-se em si mesmo. E, assim, eternizou-a. Ao lado do banco do Galo, repórter da Rádio Guairacá, vi o técnico Telê Santana, também emocionado, aplaudir Abatiá.

O tempo serve para quase tudo, mas é incapaz de acalmar alguns sentimentos, que não repousam só para proteger os nossos valores. No máximo, esse tempo tem a capacidade de tornar as nossas emoções discretas. Desconfio que chorei ontem quando soube da morte de Abatiá. Provocava-me com seus gols e a sua ironia bonachona em Atletibas. Perdi um ídolo do meu tempo.

Perda

A eliminação das mulheres do futebol das Olimpíadas, nos pênaltis pela rudimentar Suécia foi uma perda. No entanto não tratem como uma perda do País, mas das jogadores. Essa geração de Marta durante quase dez anos deu sangue para chamar a atenção do comando central para o futebol feminino. A derrota que coincide com o fim dessa geração pode ser fatal para as mulheres que jogam futebol.
Hoje o Brasil dos homens vai decidir a vaga para a final com Honduras. Não por ser homens, mas por enfrentarem Honduras, têm obrigação de irem jogar a final.

Surpresa

Como quem chega do nada, mas ao contrário do “terceiro” que foi atrás de “Terezinha”, de Chico, Thiago Braz trouxe uma vara que não verga carregando o seu talento de atleta. Ganhou o ouro olímpico com a marca recorde que era do francês Renaud Lavillenie. Mas as autoridades que não se promovam da conquista de Braz. Foi individual, porque para ganhar teve que, por conta própria, ir treinar na melhor escola de saltadores, na Itália.

Dúvida

Morreu João Havelange. Ele entrará para a história pelo que fez na primeira metade ou pelo que fez na segunda metade do século que viveu?