Caminhos

Levado a sério, o jornalismo sobre o futebol de Curitiba transforma-se em um ofício de critica negativa. Nossos clubes, pelos mais diversos motivos, começam a temporada remendando aquela que passou. O consolo é que eles estão dentro da regra atual do futebol brasileiro.

Atlético e Coritiba começam 2016 assim: aquele catando sobras de mercado, e esse negociando fazendo pechinchas. O Paraná é pior – pois, parecendo ter perdido a noção do tempo, dá a impressão de que o ano de 2016 nem começou. Os três mantêm-se na encruzilhada de sempre, lembrando Fernando Pessoa quando faz poesia das dúvidas sobre o caminho a seguir: “Se é bom, se é mau o por onde ir, ninguém o sabe ou saberá… Tudo é não saber e seguir: o resto Deus dará, ou não dará”.

A maior prova desse estado é que o fato mais importante tem caráter duvidoso e ainda está por terminar: a contratação de Walter pelo Furacão. Dispensado por nota oficial, voltou imediatamente como um filho pródigo. Há quem aponte vários motivos para a volta de Walter. Não é preciso tanto. Só há um: dinheiro.
Os dois – jogador e clube – buscaram os seus interesses usando as regras do jogo de pôquer. Ao confessar publicamente que “iria jogar no Sport, seu time de coração”, o artilheiro nada mais quis do que fazer uma aposta forçada: provocar o Atlético para dar mais dinheiro a ele e ao seu faminto empresário. Em nenhum momento Walter teve a pretensão de ir embora.

Só que o Furacão foi além: não só afirmou que não iria recontratá-lo, como deu uma razão forte e definitiva: a obesidade de Walter torna de alto risco o seu custo-beneficio. Essa mão fez surgir um novo personagem: Vanessa, a mulher de Walter. Sabendo do marido que tem, devolvê-lo para as praias e os botecos de Recife seria um desastre familiar. Vanessa pensou como toda a mulher pensa: perde-se dinheiro, mas não se perde o marido. Ainda mais nos dias atuais, em que não se pode dispensar um marido que ganha um salário de mais de três dígitos. Em nenhum momento, o Atlético teve a pretensão de perder Walter. O Atlético ganhou a mão.

Esse caso de Walter mostra definitivamente uma importante mudança no futebol. Antes, a sua única verdade era a vitória. Agora são duas as verdades escaladas nessa ordem: o dinheiro e a vitória. Sem aquele, essa se torna impossível. E se agora o Atlético, titular dos direitos por dois anos com uma cláusula indenizatória alta, negociar Walter com os milionários chineses, não estranhem.