Vale a pena ver de perto (e de longe também)

Também conhecida como "vista cansada", a presbiopia atinge uma parcela considerável da população mundial a partir dos 40 anos de idade. A doença se tornou uma espécie de barreira para os avanços da pesquisa oftalmológica. O motivo é que, ao envelhecer, a lente do cristalino endurece e prejudica a visão nítida de perto. Agora um novo passo foi dado para a solução desse problema: é a lente Acrysof Restor, do Laboratório Alcon, que, pelo seu formato e suas características pseudoacomodativas, chegou prometendo a correção definitiva dessa incapacidade, até então somente conseguida pelo uso de óculos.

O oftalmologista Hamilton Moreira, diretor clínico do Centro de Referência em Oftalmologia Carlos Moreira, do Hospital de Olhos do Paraná, diz que essa lente intra-ocular multifocal tem tudo para ser o objeto de desejo, tanto das pessoas que não se acostumam com o uso de óculos quanto das pessoas que enfrentam o eterno incômodo de tirar os óculos para enxergar longe e colocá-los para ver de perto. O médico, que é o primeiro a utilizar a técnica no Paraná (em menos de um mês já operou quatro pacientes), comprova que os resultados são animadores.

"Detesto óculos"

Benedito Barbosa Neto foi um dos primeiros curitibanos a se submeter ao implante. O empresário de 47 anos teve a presbiopia diagnosticada no começo deste ano. Na ocasião, Moreira lhe receitou o uso de óculos. No entanto, ele relutou em usá-los. "Sempre achei desagradável aqueles óculos apoiados na ponta do nariz – detesto óculos", salientou, completando que, não se conformava por não existir uma opção melhor para solucionar o problema. Assim, ficou durante quase seis meses protelando o seu uso. No entanto, sentia cada vez mais dificuldades em ler ou trabalhar no computador. Por isso, quando soube da novidade, não pensou duas vezes e encarou, prontamente, a cirurgia.

O procedimento foi rápido, em menos de vinte minutos Barbosa ficou livre do problema e nunca mais vai precisar de óculos. "O melhor é que a minha visão para longe, que tinha algum comprometimento, também se normalizou", relata eufórico. Isso se deve, segundo Moreira, a tecnologia dessa lente intra-ocular (refrativa e defrativa), que melhora também a visão intermediária e para longe. Segundo Normand Boudreault, presidente da Alcon no Brasil, estudos clínicos realizados nos Estados Unidos mostraram que 80% dos pacientes que implantaram as lentes puderam realizar, após uma semana, tarefas diárias, como ir ao supermercado, ler ou dirigir, sem o uso de óculos.

Sem efeitos colaterais

Hamilton Moreira explica que o procedimento cirúrgico é realizado com anestesia local, sem internação. Logo após a operação, o paciente é liberado para repousar em casa e passa por cuidados pós-operatórios normais. O tempo de cirurgia é em torno de 15 minutos e o paciente permanece, em média, duas horas na clínica. "E o que é melhor, sem qualquer efeito colateral", enfatiza o oftalmologista.

A nova geração de lentes chegou em boa hora, afinal a incidência da presbiopia tende a tornar-se crescente, principalmente, em decorrência da maior longevidade da população. Conforme dados do IBGE, o brasileiro vive, em média, 75 anos, e a população com mais de 60 anos passará dos atuais 15 milhões para 30 milhões, dez anos. O fato de pertencerem a uma geração de idosos contemplados por diversas inovações tecnológicas, só aumenta essa resistência ao desconforto causado pelo uso de óculos. Além disso, por questões de vaidade, essas pessoas não suportam a idéia de esconder o rosto atrás de uma armação.

Para o oftalmologista, a lente Acrysof Restor representa um avanço expressivo em termos de implantes intra-oculares, ao incorporar uma tecnologia única e altamente avançada. No entanto, o médico faz questão de frisar que existem contra-indicações importantes para o implante. Assim, pacientes portadores de alguma patologia ocular ou que já passaram por outro tipo de cirurgia deverão ter seus casos muito bem estudados. "Os resultados da nova técnica são bastante animadores", assegura Hamilton Moreira. Ele recomenda que, ao primeiro sinal de desconforto visual, a pessoa consulte um especialista. Os principais sintomas, além da dificuldade de leitura, são dores de cabeça constantes, ardência nos olhos ou sensação de pálpebras pesadas.

Outros recursos para combater a presbiopia

Lentes simples – Para ler o jornal, costurar, se maquiar no espelho, sem nunca olhar para além dessa distância, as lentes simples de leitura ou as "meias-luas" são adequadas. Nesses casos, o desconforto se dá quando a pessoa levanta os olhos para ver o que está na visão intermediária e ao longe, pois as imagens se tornam desfocadas. Isso obriga a tirar e pôr os óculos continuamente ou a olhar por cima deles.

Lentes bifocais – Outra opção são as lentes bifocais, que permitem ver de perto e ao longe, mas são caracterizadas por uma linha de separação visível. Esta linha constitui um obstáculo, pois os olhos passam bruscamente da visão de perto à visão de longe, sem beneficiarem o campo de visão intermediário.

Lentes progressivas – Permitem que o olhar passe suavemente da visão de perto para a visão intermediária e depois à visão ao longe, sem muito esforço visual.

Monovisão – Outra técnica utilizada é a da penalização do olho, que também promete resolver simultaneamente os problemas de quem possui miopia e presbiopia. Por meio de uma cirurgia, um dos olhos é corrigido para perto, e o outro, para longe, o que nem sempre rende resultados satisfatórios para o paciente.

A técnica

A lente Acrisof Restor é uma peça única com alças que mantêm a lente centralizada e firme. Normand Boudreault, da Alcon Brasil, explica que a cirurgia é realizada através de microincisão no globo ocular que perdeu a elasticidade. No procedimento, a lente ocular natural comprometida é aspirada e substituída pela lente multifocal. A parte central da lente é responsável pela visão de perto, enquanto que a parte periférica pela visão de longe. O funcionamento da lente é explicado da seguinte maneira: quando o paciente olha para longe, sua pupila está mais dilatada, os raios luminosos vêm paralelamente e, ao passar pela região periférica, que contém a correção óptica para longe, formam uma imagem nítida na retina, sendo esta imagem reconhecida pelo cérebro. Na visão para perto, a pupila está mais fechada e os raios luminosos vindos do objeto próximo são divergentes. Ao passar pela lente são convergidos e focados na retina, proporcionando uma visão nítida.

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