Trombose: Uma síndrome de todas as classes

Aconteceu com a gerente comercial Laura Maria. Dois dias depois de voltar de uma viagem de férias à Paris, ela começou a sentir dor e inchaço nas pernas. Ao buscar ajuda médica, teve que ser internada às pressas e passou alguns dias na UTI. O diagnóstico foi uma trombose venosa profunda (TVP), uma doença que vem se tornando bastante comum entre os passageiros de viagens longas. Laura correu risco de morte, pois, muitas vezes, os profissionais das emergências médicas não conseguem socorrer as vítimas do distúrbio a tempo de salvá-las.

Entre a população, muitas vezes a TVP é tratada com desprezo ou desconhecimento, já que existe prevenção e, até mesmo, nos vôos mais longos, as companhias passam algumas orientações para que a pessoa não corra o risco de sofrer o transtorno durante a viagem. O angiologista e cirurgião vascular Júlio Siqueira explica que a doença se caracteriza por ser complexa e silenciosa, podendo trazer sérias conseqüências quando não tratada de forma rápida e adequada. ?O tromboembolismo pode acontecer em diversas ocasiões, devido, geralmente, a longos períodos de imobilidade?, esclarece. Assim, pode ocorrer tanto em viagens longas (por qualquer meio de transporte) quanto em pacientes que passam longos períodos acamados. Um em cada cem passageiros em vôos de longa distância sofre de TVP, segundo estimativa internacional.

De acordo com o médico, a doença se caracteriza pela interrupção do fluxo sangüíneo de uma veia, provocada pela formação de um coágulo. ?Este pode entrar na corrente sangüínea e chegar ao pulmão, causando uma embolia pulmonar?, explica. Em aproximadamente 90% dos casos, a TVP atinge as veias das pernas, em especial da região da panturrilha, apresentando sintomas como dor, inchaço, edemas, aumento da temperatura e, em situações mais graves, palidez e coloração azulada. A maior parte dos portadores de TVP não apresenta sintomas, particularmente os acamados ou submetidos a alguma forma de imobilização.

Viagens longas

A TVP tem causado preocupação para pessoas que fazem viagens longas, já que elas passam muito tempo sem se movimentar. A doença foi apelidada de ?síndrome da classe econômica?, em referência ao pouco espaço disponível entre as poltronas. Máximo Asinelli, especialista em Medicina Aeroespacial, explica que a doença não é exclusiva de um meio de transporte, e sim, atinge pessoas que ficam sentadas e imóveis por muito tempo. ?No carro, no trabalho ou mesmo em casa?, adverte. De acordo com o médico, as veias profundas das pernas quando comprimidas pelo peso do próprio corpo têm uma circulação sangüínea mais lenta, aumentando a pressão e se sujeitando à formação dos temidos coágulos.

Segundo Asinelli, não há motivos para se preocupar ao marcar uma viagem mais demorada. As pessoas com histórico de doenças circulatórias ou cardíacas devem buscar orientação médica antes de iniciar a viagem. Pode ser necessária a prescrição de medicamentos específicos e o uso de meias elásticas para compressão das pernas. O médico também aconselha aos passageiros que evitem o consumo de bebidas alcoólicas e remédios para dormir, além do uso de roupas leves e confortáveis. ?Tanto na primeira classe quanto na classe econômica, se o passageiro não se levantar, caminhar ou fizer alguns exercícios simples, pode correr risco de sofrer do distúrbio?, admite.

A preocupação é a mesma para os pacientes que passam muito tempo hospitalizados. Apesar da alta incidência da doença, boa parte deles, com alto risco de desenvolver a TVP, não recebe nenhum tipo de tratamento preventivo. A conclusão faz parte de um estudo em pacientes com doenças clínicas. Uma pesquisa mostrou que, mesmo com a complexidade das patologias e a gravidade das mesmas, a profilaxia foi prescrita para apenas 41% dos pacientes. Ao analisar as estatísticas existentes a respeito da doença, é possível perceber que os casos de óbitos decorrentes da TVP são mais comuns do que se pensa.

Sem comprovação

Ao lado das medicações de ação anti-hormonal existem outras de ação local e ainda não bem compreendidas. "Medicações de uso tópico são sempre mais trabalhosas e possivelmente têm mais chances de provocar irritação, mas a vantagem é que quase não há efeitos colaterais sistêmicos", acredita o dermatologista Arthur Tykocinski. Além desses medicamentos, existem outros, cuja ação e eficácia ainda não são muito bem estabelecidas, como fitoterápicos, loções e xampus.

O uso da finasterida, eventualmente, pode diminuir o apetite sexual (libido), mas isso ocorre em menos de 2% dos casos e é totalmente reversível com a suspensão da medicação. Acredita-se que pacientes na faixa dos 40 em diante podem ter uma incidência maior. Existe ainda um fator psicológico importante e muitos pacientes podem ficar induzidos a pensar nisso. Em geral os sintomas desaparecem com o uso continuado.

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