Torcer faz bem à saúde

Uns trabalham no clube, outros se tornam conselheiros e muitos se realizam freqüentando as arquibancadas. Quem diz que médico não xinga o juiz?

Paralelo a sua atividade médica, Edílson, Gilberto e Macedo fazem parte de uma equipe de 170 milhões de técnicos, vivendo num país batizado pelo escritor Nelson Rodrigues de ?a pátria de chuteiras? ? uma paixão de proporções imensuráveis. Os estudiosos desse fenômeno chamado futebol explicam que a relação do brasileiro com esse esporte se diferencia do resto do planeta nem tanto pela intensidade, mas sim pelo comportamento típico do brasileiro. É um tipo de sentimento descrito como lúdico que se torna espontâneo, alegre.

Na interação entre pais e filhos é que o futebol vai apaixonando gerações. Foi o que aconteceu com o cirurgião vascular José Fernando Macedo. Sempre levado por seu pai aos jogos do Coritiba, no Estádio Belfort Duarte, hoje Couto Pereira, Macedo se tornou um fanático torcedor coxa-branca. O médico ainda guarda com orgulho a sua primeira carteira de sócio do clube, datada de 1958. Um ano antes, na sua estréia como torcedor, o Coritiba ganhou o título paranaense. Depois de acompanhar muitas conquistas alviverdes da arquibancada, Macedo recebeu um convite do amigo Evangelino Neves, presidente vitorioso do time do Alto da Glória, e passou a responder pelo Departamento Médico do clube. Os laços dessa amizade perduram até hoje. ?Todos os dias, às sete e meia da manhã, levo a Tribuna do Paraná para o Evangelino ler?, relata.

Sem camisa

Para Macedo, dois jogos do Coritiba se tornaram inesquecíveis: a conquista do título no Maracanã em 1985 e uma decisão por pênaltis no Alto da Glória, em que o Coxa tornou-se campeão ao derrotar o Atlético. ?Neste jogo fiquei sem uma camisa de seda novinha, pois tinha apostado com Liminha, autor do gol decisivo. Tirei-a do corpo e dei para o artilheiro no campo mesmo?, relembra. Até hoje, uma vez por semana, Macedo e outros médicos coxas se reúnem para falar sobre o clube. Macedo diz manter uma rivalidade sadia com médicos atleticanos, inclusive com Edílson Tiele, um reconhecido médico rubro-negro.

Tiele foi campeão brasileiro como médico do clube que aprendeu a gostar, levado pelo pai nos anos 70s. ?No futebol paranaense daquela época, só dava o Coxa, imagine o quanto sofri vendo o time deles ser campeão. Ainda bem que essa fase já passou e que o Atlético também teve grandes conquistas?, ressalta. Apesar de fazer parte do clube quando o Furacão conquistou o título brasileiro, Tiele diz que seus dois jogos inesquecíveis foram contra o grande rival. Um foi a vitória, em pleno Couto Pereira. ?Gol contra do Berg e o título paranaense indo para a Baixada?, rememora. O outro também valeu um título para o rubro-negro e foi no primeiro ano da Arena.

De pai para filho

Para Tiele, sem futebol o brasileiro seria menos feliz. ?Um estádio de futebol e a paixão por um clube faz todos se tornarem iguais, sem distinção de credo, raça, posição econômica?, enfatiza. ?Sem contar as intermináveis discussões com os colegas na segunda-feira?, salienta. Apesar disso, muitos torcedores vêm deixando de comparecer aos estádios. Esse é o caso do médico paranista Gilberto Pascolat, que diz ter presenciado há muito tempo jogos ?estranhos? do seu time, uma referência às constantes suspeitas de manipulação de resultados.

O médico, que já pulou o alambrado para festejar um título do Colorado (precursor do Paraná Clube) no gramado, conta que um dos jogos mais empolgantes do seu time foi justamente este, uma decisão contra o Cascavel, na Vila Capanema. Os outros, foram uma vitória empolgante sobre o Flamengo por quatro a zero e uma virada espetacular sobre o América do Rio, no Couto Pereira. ?Esse jogo foi de matar do coração, só conseguimos virar o jogo no último minuto?, conta. Apesar de ir a poucos jogos do seu time, Pascolat escalou o seu filho para acompanhar os jogos do tricolor e manter viva a tradição tricolor da sua família. O ciclo se repete e a paixão pelo futebol continua viva.

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