Todo dia é segunda-feira

A primeira semana de trabalho após um período prolongado de férias para o empresário Moacir Domingues é marcada por atrasos, compromissos esquecidos e um ritmo mais lento na sua atividade. O mesmo não acontece com o gerente de crédito Dinarte Laertes da Silva, que diz "esquecer" até onde trabalha quando está de férias e que a volta ao batente se reveste de novas expectativas. Para o médico Leslie Marc D’haese, presidente da Associação Paranaense de Medicina do Trabalho, é assim mesmo: esses comportamentos variam de pessoa para pessoa.

Não existem dados estatísticos, mas um número expressivo de pessoas, como o empresário Domingues, quando retorna das férias, sofre de algum tipo de desconforto. Dentre os mais citados por D’haese estão a fadiga, a falta de apetite, alterações no humor e, até mesmo, os distúrbios do sono. O médico insiste que tudo isso é normal, pois todos temos um humor cíclico. Conforme o presidente, no período de férias, sem a pressão de cumprir compromissos ou horários, o organismo tende a reorganizar suas funções, adaptando-se a um novo ciclo, bem mais relaxado. "O retorno, por sua vez, exige um reajuste progressivo desse ciclo", considera.

De volta à realidade

Segundo a médica Suzete Grassi Garbers, especialista em medicina do trabalho, o período de férias é ideal para que as pessoas recarreguem suas baterias e voltem com o ânimo renovado para um novo período de trabalho. Ela também reconhece que nem sempre isso acontece, destacando que o impacto da volta pode se tornar positivo ou negativo. "Depende do modo com que cada pessoa encara a sua realidade", observa. No seu entender, se o indivíduo está bem enquadrado no seu ambiente de trabalho, maiores são as chances de retornar satisfeito, de bem com a vida. "Senão, nem doze meses de férias vão surtir o efeito desejado", comprova. Pessoas como Dinarte da Silva, com muita experiência na atividade, de acordo com a médica, tende a reiniciar o seu trabalho sem muitos sobressaltos.

A especialista lembra que no dia-a-dia o tempo é marcado pela hora de despertar, de começar o trabalho, de almoçar e de dormir, atividades esquecidas quando estamos de férias. "Por isso, o corpo reclama da mudança, daí o cansaço e a sonolência", ressalta. Para D’haese, o problema, logicamente, não está nas férias, mas na forma como cada um encara o seu período de descanso. Por isso, ele orienta que, antes de recorrer aos remédios ou a qualquer tipo de terapia, a pessoa que sofrer dessa síndrome tente fórmulas simples para combatê-la, como dormir uma hora mais cedo, iniciar a prática de atividades físicas e ingerir uma alimentação mais leve.

Auxílio médico

O nível de satisfação e prazer que a pessoa tem no trabalho, em casa ou na escola pesa bastante sobre o impacto da volta às atividades do dia-a-dia. Ser surpreendido com novidades também costuma influenciar, deixando a pessoa ansiosa nos primeiros dias, diz a psicóloga Mariângela Savóia. E isso vale para a mãe que começa o ano com os filhos em uma nova escola, para o profissional que inicia o ano atuando em um novo setor da empresa, para quem mudou de emprego e até para os estudantes que mudaram de turma. "Esse impacto se torna mais forte depois das férias, pois se soma às mudanças nos hábitos e a expectativa criada pela virada de ano", completa a terapeuta.

Após passadas algumas semanas, os trabalhadores conseguem se readaptar e retomar as suas atividades normais. No entanto, se a pessoa, nesse período, permanecer com os sintomas da síndrome, a orientação de Leslie Marc D’haese é para que o auxílio médico seja procurado.

Para sofrer menos na volta

· Procure não retornar das férias às vésperas do trabalho ou das aulas.

· Tente adaptar seu organismo ao novo padrão, tentando dormir uma hora mais cedo.

· Evitar longas jornadas de trabalho.

· Se sentir falta de apetite no horário tradicional do almoço, faça um lanche mais leve, mas não deixe de se alimentar.

· Tente encontrar novas motivações no seu trabalho.

· Mesmo trabalhando, não esqueça de se distrair nas horas de lazer: leia, vá ao cinema, ao teatro, coma algo diferente ou saia com os amigos, por exemplo.

 Como é difícil voltar

· A caneta pesa, o telefone pesa, o computador pesa.

· A preguiça toma conta de todos os atos.

· A mesa continua no mesmo lugar.

· O chefe é o mesmo.

· As contas dos gastos de Natal e das férias não param de chegar.

· O despertador toca sempre no mesmo horário.

· O ônibus está sempre lotado.

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