Terapia-alvo no tratamento do câncer

terapiaalvo241007.jpgAo contrário do que se dizia há algum tempo, o câncer não é uma sentença de morte. Importantes avanços da medicina no combate à doença têm feito esta comprovação. O uso de anticorpos monoclonais no tratamento, por exemplo, considerado por muitos especialistas da área como uma das maiores descobertas da ciência nos últimos 30 anos. A notícia mais recente é boa para os portadores de câncer de rim e de fígado. Um estudo clínico, que contou com a participação de médicos brasileiros, mostrou que pacientes tratados com sorafenibe (substância ativa do Nexavar, da Bayer Schering Pharma) alcançaram uma sobrevida de quatro meses a mais, quando comparados com outros tipos de tratamento.

?Quatro meses pode parecer pouco, mas para pacientes de câncer de fígado pode ser considerado uma eternidade?, comemora o médico assistente do Serviço de Transplantes de Fígado do Hospital das Clínicas da USP e investigador principal do estudo realizado no Brasil, André Cosme de Oliveira. Além disso, a progressão da doença se estabilizou durante esse período, trazendo ainda mais esperanças, conforme o médico. O anticorpo monoclonal, chave para eficácia do tratamento, faz parte do que os especialistas chamam de terapia-alvo ou direcionada, porque atinge única e especificamente as células doentes, preservando as sadias.

?Pulo do gato?

Não há uma maneira única de tratar todas as formas de câncer. Alguns requerem cirurgia, outros são combatidos por radioterapia, quimioterapia, outros, ainda, pela combinação de várias técnicas. ?O sorafenibe vem se somar a todas as outras técnicas?, enfatiza o pesquisador. O câncer tem tudo a ver com mutações sutis nos genes das células que estão se reproduzindo. Algo cria nas células normais uma mutação genética que o sistema imunológico não conhece e contra o qual é incapaz de reagir. Todas as células têm o seu período de vida estipulado. Todas morrem, menos as células cancerígeras, ?elas perdem a ?capacidade? de morrer, geram novos vasos para se nutrir indefinidamente?, explica o oncologista Carlos Barrios, diretor do Instituto do Câncer do Hospital Menino Deus, de Porto Alegre.

A nova substância tem se mostrado eficaz em duas questões, explica André Cosme de Oliveira: inibem as enzimas que estimulam a multiplicação das células, não deixando o tumor crescer e impedem a formação de vasos sangüíneos que nutrem o tumor em crescimento, matando-o de fome. Esse é o ?pulo do gato? da terapia-alvo. No caso do câncer renal, ela tem se mostrado eficaz ao atuar, por exemplo, numa proteína ou enzima específica não expressa nas células normais, mas que tenha um papel importante na célula cancerígena. ?Dessa forma, o paciente receberá um remédio que agirá seletivamente naquela célula tumoral, preservando as suas células normais?, diz o especialista.

A droga pode ser a primeira terapia-alvo indicada para pacientes com câncer de fígado, doença que registra mundialmente perto de 1,5 milhão de novos casos por ano e que conta com poucas e, na maioria das vezes, ineficazes opções de tratamento. Devido à baixa tolerabilidade aos medicamentos convencionais e ao fato de que, muitas vezes, a cirurgia não ser possível, os pacientes no estado avançado desse tipo de câncer (70% dos casos) precisavam recorrer a tais tratamentos. ?Por isso, a eficácia e a segurança da substância, demonstradas no estudo, trazem uma nova perspectiva aos pacientes?, considera Carlos Barrios.

Poucos efeitos colaterais

O desenvolvimento da doença está associado às doenças hepáticas crônicas, como cirrose e hepatites B e C, alcoolismo, e outras doenças metabólicas e infiltração gordurosa do fígado por mau hábito alimentar. A maioria das pessoas que desenvolve hepatomas é portadora de cirrose hepática. Esta doença pode ter diferentes causas, sendo que o excesso de ingestão de álcool é a mais freqüente. De acordo com André de Oliveira, estatísticas mostram que até 80% dos pacientes com cirrose podem desenvolver o tumor e têm 20% de chances de desenvolver câncer a cada cinco anos. Apenas 20% dos casos aparecem em pessoas com o fígado saudável.

?Em todo o mundo, o sorafenibe é aprovado para o tratamento de câncer de rim, mas com os resultados desse estudo é provável que ela seja aprovada para câncer de fígado também?, avalia Tadeusz Robak, hematologista do Hospital Copernicus, da Holanda. Quanto aos efeitos colaterais, a pesquisa indicou que a droga foi bem tolerável, sendo diarréia e as erupções cutâneas seus principais efeitos adversos observados. ?Trata-se de uma droga oral, de fácil administração. A dosagem consiste em quatro comprimidos ao dia?, comenta o pesquisador.

Uma doença silenciosa

André Oliveira: "A expectativa dos médicos é transformar o câncer em uma doença crônica controlável."

Segundo as mais importantes publicações médicas, o câncer de fígado é o quinto tipo de câncer mais prevalente no mundo.

A doença é responsável por 8% do total de óbitos por câncer, com incidência mundial calculada em 1 a 3 para cada 100 mil habitantes. No Brasil, são estimados de 2 a 3 mil novos casos por ano. A doença é dividida em duas categorias: o primário do fígado e o secundário ou metastático (originado em outro órgão e que atinge também o fígado). O tumor maligno primário é o mais freqüente e ocorre em 90% dos casos.

Carlos Barrios: "A terapia-alvo traz uma nova perspectiva
ao efetivo tratamento
do câncer hepático."

O diagnóstico da doença envolve exames laboratoriais, ultra-sonografias, tomografias, ressonância magnética e angiografias, entre outros. No câncer de fígado, o tempo que leva para duplicar o volume de massa tumoral é muito curto: quatro meses. "Por isso, na maioria das vezes, o paciente recebe o diagnóstico já em fase avançada", admite Carlos Barrios.

Dados da Agência Internacional de Pesquisa para o Câncer mostram que mais de 600 mil casos desse tipo são reportados no mundo. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, no ano de 2005, a mortalidade por câncer de fígado vem aumentando mais de 660 mil casos por ano em todo o mundo.

Primeiros sinais

Diagnosticar o câncer prematuramente pode fazer diferença na resposta ao tratamento.

* Mal-estar

* Dor abdominal

* Distensão abdominal

* Perda de apetite

* Anorexia

* Emagrecimento

* Icterícia (peles e olhos amarelados)

* Ascite (acúmulo anormal de líquido no abdome)

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