Síndrome de Sjögren afeta glândulas salivares e lacrimais

Sofrer de boca seca, uma condição em que há pouca ou nenhuma produção de saliva. Para algumas pessoas, esta situação pode significar apenas um desconforto transitório causado por influências do dia a dia, uso de alguns tipos de medicamentos, uma situação estressante ou, até, por longos períodos de conversa.

No entanto, para outros, esse pode ser um problema persistente. Em alguns casos, a boca seca é geralmente o efeito colateral de condições sistêmicas mais sérias, principalmente pela incidência de doenças auto-imunes crônicas, como a síndrome de Sjögren, doença descrita pela primeira vez em 1933 pelo oftalmologista sueco Henrik Sjögren.

Tratamentos como quimioterapia ou radioterapia também podem resultar em condições severas de secura de boca. A função da saliva não é apenas manter a boca úmida, mas, também, tornar possível a mastigação e a deglutição dos alimentos, ajudando na digestão.

A saliva também age como um lubrificante, ajudando a proteger os dentes contra a cárie e prevenindo infecções, por meio do controle de bactérias e fungos na boca.

Mais mulheres

Estima-se que mais de dois milhões de americanos sofram da síndrome de Sjögren, muitos deles sem diagnóstico. No Brasil, não se sabe o número exato de portadores.

A doença é auto-imune quando o sistema imunológico do próprio paciente ataca as glândulas produtoras de lágrimas e saliva. O problema se dá porque os linfócitos infiltram-se nessas glândulas, provocando a diminuição da produção de saliva e lágrimas.

“Além da secura nos olhos e na boca, a doença também pode causar ressecamento de pele, no nariz e na vagina, além de afetar outros órgãos do corpo, inclusive os rins, pulmões, fígado, pâncreas e cérebro”, explica o reumatologista Sérgio Bontempi Lanzotti.

A incidência da síndrome é de nove mulheres acometidas para cada homem. Por essa constatação, disfunções hormonais parecem fazer parte da fisiopatologia no seu desenvolvimento, principalmente as deficiências de andrógenos, estrógeno e de progesterona.

Embora a maioria das mulheres diagnosticadas costuma estar na menopausa ou com mais idade, a doença pode ocorrer também em crianças e adolescentes. Conforme o especialista, mulheres jovens com Sjögren podem apresentar complicações na gravidez.

 “O diagnóstico da disfunção não é uma tarefa fácil, uma vez que seus sintomas podem se assemelhar aos de outras doenças, como o lúpus, a artrite reumatóide, a síndrome da fadiga crônica, a fibromialgia, a esclerose múltipla e a doença de Alzheimer”, destaca o reumatologista.

Assim, nem todo ressecamento nas mucosas pode ser resultado da síndrome. Muitos medicamentos, inclusive os usados para o tratamento de hipertensão arterial, depressão, resfriados, alergias e problemas gastrintestinais podem causar secura nos olhos e na boca.

Acompanhamento multidisciplinar

Alguns exames são úteis para o diagnóstico, dentre os quais, destacam-se um teste que mede a produção de lágrimas e um teste em que o oftalmologista observa, por meio de contrastes, as lágrimas dos olhos.

A medida da produção de saliva, o exame das glândulas salivares ajuda a determinar a presença de linfócitos. O exame de sangue para marcadores específicos ou auto-anticorpos indicativos solicitado, por um reumatologista, também é de grande valia.

“Devido a variedade de sintomas, após o diagnóstico, além do acompanhamento reumatológico, o pacien,te precisa ser acompanhado por uma equipe multidisciplinar que inclui outros especialistas, como oftalmologistas, otorrinolaringologistas e dentistas, dentre outros”, observa Lanzotti.

A síndrome de Sjögren não representa risco iminente de vida, mas certamente provoca profundas alterações na vida do paciente. Com uma conduta terapêutica apropriada, a qualidade de vida pode ser melhorada.

Como a doença não tem cura, o diagnóstico e a intervenção precoces podem afetar o curso da doença. O especialista esclarece que o tratamento tem por objetivo o alívio dos sinais e sintomas da doença, com consequente melhora na qualidade de vida dos pacientes, além da modificação no curso da doença a fim de que as sequelas sejam evitadas ou minimizadas.

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