Ser amigo dos filhos é estar sempre presente e impor limites

Com a modernização da sociedade, os pais estão mais abertos, mais permissivos e tolerantes quando o assunto é sexo. Na criação dos filhos procuram responder suas perguntas e até fazem vista grossa com um ou outro material pornográfico à disposição. Programas de TV, revistas, imagens e publicidades tratam a sexualidade e suas expressões de forma insinuante e reveladora, muito além de qualquer orientação sexual, invadindo as casas, a vida e a educação de todos os jovens.

A modelo nua, os beijos ardentes da novela, as insinuações das relações sexuais mais evidentes, o liberalismo dos padrões de moral, os palavrões, as tramas violentas tornam ainda mais difícil a tarefa de educar. Não é de hoje que os pais querem ser amigos de seus filhos e entendem que, principalmente nos últimos anos, amizade, companheirismo e cumplicidade fazem parte da educação. Mas na hora da verdade muitos pais não souberam equilibrar essa balança e se perderam.

Pais e filhos precisam ser amigos, isso é fundamental.  Mas os pais não podem se esquecer da sua missão por conta disso. Os pais andam de um lado para o outro nessa relação, alternando posturas, sem muito critério. Porém eles que se gabam de ter alcançado uma relação estreita de amizade com seus filhos não podem esquecer de sua função primária, que é educar, orientar e nortear os caminhos desses jovens. Ter filhos adolescentes não é uma tarefa simples. Ser amigo é um ótimo começo, mas essa amizade tem restrições.

Pai amigo não é aquele que enche a cara com o filho na balada ou que deixa os filhos encherem a cara, que fuma ?baseado? com a turma, que ?pega? as ?menininhas?. Mãe amiga não é aquela que ?fica? com os amiguinhos da filha na balada. Pai não é aquele que fala das suas transas abertamente, que libera o quarto para o namorado no final de semana e deixa o moço ou a moça andar em trajes sumários pela casa e outras tantas atitudes que não somam intimidade e cumplicidade ao relacionamento entre eles e os filhos. Com certeza muitos vão dizer que seus filhos são crescidos, que estão acostumados, que foram criados dessa maneira, que as coisas hoje são assim, mas infelizmente é preciso encontrar limites para deixar essa relação íntima mais saudável.

Muitos jovens sentem falta dos pais e carecem de direcionamento, dos limites, da autoridade, do rumo, do conforto do colo, da sobriedade, da referência, na segurança que se busca na família, principalmente no pai e na mãe.

Com certeza muitos pais assumiram tais posturas por sentirem muita dificuldade em se estabelecer como o provedor de idéias e padrões, alterando sua relação com os filhos para sobreviver dentro dela. Em algumas famílias, os filhos são órfãos de pais presentes e os pais podem não se dar conta disso. Esses jovens não têm escolha quanto ao rumo que a relação entre eles e seus pais tomou, mas essa orfandade gera uma série de dificuldades emocionais que os pais não prevêem. Dificuldade de relacionamento, comprometimento da atenção, depressão, síndrome do pânico, angústia, desmotivação para os estudos são alguns dos problemas mais observados entre as famílias. Ser amigo dos filhos  é estar presente, impor limites, ouvir suas histórias, dizer não, conhecer os amigos, suas famílias, e os locais freqüentados, orientar quanto ao uso de álcool e drogas, orientar o exercício da sexualidade, valorizar o respeito, a dignidade e a verdade, dentre outras coisas. O resto não é amizade e em nada contribui para a formação desses adolescentes.

Silvana Martani, psicóloga clínica

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