Reprodução assistida: olhar psicológico

Os avanços da ciência na medicina reprodutiva modificaram para sempre a relação entre sexualidade e reprodução humana.

Na história da humanidade, sexo sempre esteve vinculado à procriação, porém, com o advento das novas tecnologias de reprodução assistida, houve uma separação dessas variáveis, causando um impacto direto na vida sexual dos casais. São muitas novidades a serem elaboradas e inscritas internamente, pois não temos registro psíquico dessas novas formas de concepção, já que o único conhecido é a relação sexo/reprodução.

Os casais que optam ter um filho por reprodução assistida vivenciam uma série de acontecimentos inusitados em suas vidas. A entrada da figura do médico na intimidade do casal muda toda a dinâmica da sexualidade dos parceiros.

Será o médico quem determinará, por exemplo, quando deverão ou não acontecer as relações sexuais, que exames (muitas vezes constrangedores) deverão ser feitos, além de querer saber, detalhadamente, como é a vida sexual do casal. 

Mudanças relatadas
Além disso, é evidente que a sexualidade medicalizada, programada e controlada pelo médico não é nada atraente. Muitos casais relatam perceberem o sexo como uma tarefa obrigatória e não como fonte de prazer.

Nota-se também que se sentem culpados quando têm relações sexuais frequentemente, raramente ou em “horas erradas”. A falta de libido, de satisfação no ato sexual e de orgasmo costumam ser queixas trazidas por muitas mulheres com dificuldades para engravidar.

Elas também relatam sentir-se pouco atraentes e menos femininas, o que acaba atrapalhando-as na qualidade e/ou frequência dos coitos, uma vez que não se sentem bem com o próprio corpo e nem mesmo consigo próprias.

Já os homens falam de seus distúrbios ejaculatórios e de ereção, muitas vezes, associados à autocobrança em concluírem o coito e não frustrarem suas companheiras que aguardam ansiosamente por seu sêmen.

Assim, é muito importante que os médicos, em meio à indicação da técnica de reprodução assistida a ser utilizada, possam considerar também a vida sexual do casal e possíveis disfunções nela presentes, pois, desse modo, não intensificam problemas e nem angustiam ainda mais seus pacientes.  

Disfunção sexual como causa de infertilidade
Não podemos esquecer também que muitas disfunções sexuais podem ser causa de infertilidade. Dentre os principais problemas que não permitem a conclusão do ato sexual ou que fazem com que os casais passem a evitá-lo, encontramos: impotência, dificuldade de ejacular na vagina, dor no ato sexual, vaginismo (contração involuntária dos músculos próximos à vagina, dificultando ou até impedindo a penetração pelo pênis na relação sexual) e falta de libido.

Tais disfunções sexuais podem ser decorrentes de causas orgânicas ou devido a problemas psicológicos. Precisam ser devidamente diagnosticadas para a indicação da melhor forma de tratamento.

Somado a isso, as técnicas de reprodução assistida, muitas vezes, podem encobrir problemas de ordem sexual do casal, que, de alguma maneira, também podem ser resolvidos com o tratamento.

Esse fato deve ser considerado pelos casais, pois a busca por tratamentos médicos e psicológicos pode também ser um caminho para a obtenção de uma vida sexual mais satisfatória.

A cumplicidade e aproximação emocional do casal são muito importantes durante todo esse processo, pois o filho, dependendo da técnica médica a ser utilizada, pode ser concebido até mesmo fora do ato sexual, mas sempre, dentro do vínculo de amor e da sexualidade de seus pais, os quais, apesar das dificuldades, “batalharam” para que ele nascesse.

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