Questão de tempo

A pessoa começa a suar frio, sente falta de ar, palpitações. O coração fica acelerado e, de repente, pára. Pode ser o primeiro, e o último, aviso de doença coronariana. A dona de casa curitibana Ana Lúcia Teixeira Santos, de 59 anos, recebeu uma segunda oportunidade para viver quando a ambulância do Samu – Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – chegou ao posto de saúde do Campo Comprido, onde havia ido procurar ajuda, desconhecendo a gravidade do seu problema. Diagnosticado o infarto, recebeu atendimento emergencial e foi encaminhada a um hospital especializado. Após passar por um cateterismo para desobstrução das artérias, vem se recuperando bem.

Um levantamento feito no Hospital Cardiológico Costantini mostra que, no dia-a-dia de uma emergência cardiológica 24 horas, pelo menos 80% das pessoas atendidas chegam reclamando de dores no peito. Destas, perto de 40% acabam confirmando algum quadro de problema cardíaco. São números como estes que levam as equipes médicas a alertar cada vez mais a população sobre a necessidade de prestar muita atenção em qualquer sintoma que possa revelar um problema cardiovascular e a importância do socorro imediato.

Ressuscitação

Entre os assuntos mais discutidos está a atualização dos procedimentos para ressuscitação de uma vítima de parada cardiorrespiratória, como explica o cardiologista José Rocha Faria Neto, chefe da emergência do Hospital Cardiológico Costantini. ?Estamos chamando a atenção para a importância maior da massagem cardíaca e da reversão de uma arritmia por meio do desfibrilador – aparelho que, por meio de estímulos elétricos, auxilia o coração a voltar à atividade normal?, comenta o médico. O Hospital Cardiológico Costantini promove o curso de Suporte Básico de Vida, no qual as noções essenciais de ressuscitação de uma vítima de parada cardiorrespiratória são ensinadas a todas as pessoas interessadas.

Ricardo Luiz Ripinski, representante comercial, de 52 anos, batia uma ?bolinha? com os amigos debaixo de um sol escaldante quando começou a passar mal. Sem o mínimo conhecimento sobre infarto, seus companheiros de pelada demoraram para chamar o serviço de emergência. Hoje, já recuperado de uma cirurgia, o zagueiro brinca dizendo que a hora dele ainda não tinha chegado, tal a demora no atendimento. No Brasil, segundo dados do Datasus, acontecem aproximadamente 60 mil mortes decorrentes de infarto agudo do miocárdio por ano. Quanto maior o tempo de demora do atendimento, menor as chances de sobrevida do paciente. ?A sobrevida é reduzida em 7% a 10% a cada minuto após uma parada cardíaca?, explica o cardiologista Sérgio Timerman. Dessa maneira, o procedimento de emergência é fundamental para salvar a vida da pessoa ou diminuir os danos ao músculo cardíaco.

Sinais de alerta

Quando um paciente chega a uma emergência cardiológica com dor no peito, passa por uma rotina que vai determinar a existência ou não de algum problema cardiovascular. Primeiramente, o cardiologista faz uma análise clínica do paciente, verificando seus sintomas, histórico familiar e presença de fatores de risco. Em seguida, é encaminhado para o exame de eletrocardiograma, que vai mostrar se a pessoa está sendo acometida por um infarto. Então, uma amostra de sangue é colhida para um teste conhecido como ?de enzimas?. Por meio desse exame, é possível observar a alteração do comportamento de substâncias produzidas pelas células do coração. ?Quando uma artéria que leva sangue ao órgão é obstruída, uma parte do músculo morre e as células passam a liberar essa enzima, caracterizando um infarto?, afirma Faria Neto.

Após esses procedimentos, o paciente é encaminhado para o teste na esteira ergométrica, onde a função cardíaca é colocada à prova por esforço físico. Se todos esses exames demonstrarem normalidade, é pouco provável que o paciente tenha alguma disfunção cardiovascular. Mesmo assim, o paciente é alertado para prestar atenção em outros sintomas e voltar ao hospital para exames mais detalhados.

Fatores de risco

não-Modificáveis

* Idade

* Histórico familiar

Modificáveis

* Colesterol alto

* Diabetes

* Tabagismo

* Sedentarismo

* Hipertensão arterial

* Circunferência abdominal (acima de 102 cm nos homens e de 88 cm nas mulheres)

* Estresse

* Altas taxas de triglicerídeos

Outras emergências

Muitas vezes, as pessoas que procuram emergências cardiovasculares estão com problemas de palpitação ou coração disparado, além de tonturas e alguns casos de desmaio. Nestes casos, pode ser caracterizada uma arritmia – um descontrole nos estímulos elétricos que fazem funcionar o coração. Em situações como esta, pode ser preciso transmitir choques elétricos para que o músculo volte ao funcionamento normal.

Em outros casos, os médicos da emergência cardiovascular atendem pacientes que se queixam de falta de ar. O risco de o problema ter alguma relação com o coração é maior no caso de diabéticos – 50% dos portadores desta doença não sentem dor no peito quando infartam, mas geralmente notam a falta de ar.

Os casos mais graves observados em uma emergência cardiovascular são aqueles em que a artéria acaba se rompendo pela pressão sangüínea. Esses casos requerem a urgência no diagnóstico e tratamento cirúrgico imediato. Se o paciente não for socorrido, as chances de morte aumentam consideravelmente. Quem sofre esse tipo de lesão sente muita dor no peito e nas costas. São mais comuns em casos de hipertensos graves.

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