Quando os inimigos se vestem de branco

A violência no trabalho é um problema crescente observado em todos os locais. Os hospitais, principalmente os serviços de urgência, onde os trabalhadores da equipe de saúde lidam diretamente com os pacientes, destacam-se por apresentarem atos de violência com freqüência, o que vêm prejudicando a assistência prestada às pessoas. Vários fatores podem interferir na violência ocupacional tais como: aspectos individuais dos trabalhadores, como personalidade e formação; aspectos relacionados ao próprio ambiente de trabalho, como estratégia organizacional, recursos humanos, recursos materiais e sistema de comunicação; além de aspectos ligados à clientela atendida.

Nesse sentido, as pesquisadoras Eliane Cezar, da Universidade Norte do Paraná, e Maria Helena Marziale, da Universidade de São Paulo, resolveram caracterizar os problemas de violência ocupacional a que estão expostos os médicos e trabalhadores de enfermagem no serviço de urgência hospitalar, e levantar os problemas de violência identificados pela gerência da equipe médica e de enfermagem.

Violência ocupacional

O estudo foi conduzido no serviço de urgência de um hospital geral de 204 leitos em Londrina, no Paraná, com 33 trabalhadores de enfermagem (enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem) e 14 médicos lotados no serviço. De acordo com artigo publicado no informativo Cadernos de Saúde Pública, o expressivo número de trabalhadores do setor de saúde atingidos pela violência em diversos países chamou à atenção da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e de outras instituições que estabeleceram diretrizes para combater o medo, a humilhação, as agressões e os homicídios nos locais de trabalho.

Os resultados mostram que 85,7% dos médicos, 100% dos enfermeiros, 88,9% dos técnicos em enfermagem e 88,2% dos auxiliares de enfermagem foram vítimas de violência ocupacional. As principais formas de violência citadas pelos médicos e pelos enfermeiros foram: as agressões verbais, o roubo, a competição entre os colegas, o assédio sexual, as agressões físicas, o assédio moral, a discriminação social e os maus-tratos. Eliane e Maria Helena destacam no artigo que os enfermeiros têm sido as principais vítimas de violência nos locais de prestação de trabalho.

Em relação à identificação do agressor, as pesquisadoras observaram que o paciente é o principal responsável, seguido do acompanhante. "Na opinião da maioria dos profissionais, essa violência é motivada pelas precárias condições de atendimento ao público, devido às péssimas condições de trabalho e à desigualdade social vigente no País", afirmam no artigo. Dessa forma, elas alertam para o fato de os trabalhadores estarem expostos a vários fatores de risco de violência ocupacional e estarem despreparados para lidar com eles.

Medidas necessárias

Medidas devem ser incentivadas para a prevenção de atos violentos, entre elas:

* Capacitar os trabalhadores para o enfrentamento de situações críticas e para a prevenção de atos violentos de pacientes, familiares ou da própria equipe de saúde.

* Melhorar as condições de trabalho com número adequado de recursos humanos e materiais.

* Instalar dispositivos de segurança, impedir a entrada de pessoas armadas no interior do serviço; contratar profissional de segurança para as portarias.

* Melhorar acomodação para os pacientes e acompanhantes.

* Informar o motivo da demora no atendimento.

* Criar um protocolo sistemático de registro das formas de violência ocupacional.

* Formar um comitê multidisciplinar.

* Implantar um programa de prevenção de violência para o hospital, baseado nas diretrizes da Organização Internacional do Trabalho e da Organização Mundial de Saúde.

Fonte: Notisa

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