Quando a obsessão com a aparência se torna uma doença

 

Não há como negar: uma das principais causas de estresse e ansiedade nos dias de hoje é a obsessão com a aparência. Pouca gente está satisfeita com a sua própria imagem. Nariz muito grande, seios muito pequenos, cabelo muito crespo, as indesejáveis gordurinhas, tudo pode ser motivo de insatisfação. Querer ficar mais bonito é um desejo de mulheres e homens. Mas até que ponto esse desejo é saudável?

A cada ano, aumenta o número de vítimas de distúrbios alimentares, como a bulimia e a anorexia, além dos milhares de vítimas da obesidade. Mas, ao lado delas, também cresce assustadoramente o número de pessoas apenas infelizes ou frustradas por não atingirem o padrão de beleza que a sociedade tem exigido delas. O psiquiatra André Astete da Silva, do Hospital Vita, de Curitiba, explica que essa avaliação é muito subjetiva. “Se a vaidade trouxer algum tipo de sofrimento ou começar a prejudicar a saúde ou os relacionamentos do paciente, pode ser considerada uma doença”, constata. Entretanto, nem sempre existe uma consciência, por parte do doente, da gravidade de seu problema.

Para o cirurgião plástico Rogério Scheibe, as pessoas, principalmente os familiares, devem observar quando a preocupação com a aparência se torna excessiva e a pessoa chega a mudar de comportamento. Assim, perdas bruscas de peso, timidez excessiva e tendência a esconder o corpo devem ser observadas com atenção, pois podem sugerir algum tipo de distúrbio alimentar só reconhecido por quem convive com a pessoa.

Cuidado com os exageros

“Não se pode culpar somente a sociedade pelos problemas relacionados à aparência”, explica Astete. Conforme o especialista, algumas pessoas são mais vulneráveis a determinados tipos de estímulos culturais, por isso podem desenvolver doenças, como anorexia, bulimia, depressão e até dismorfofobia – impressão exagerada de que uma parte do corpo, como nariz ou orelhas, é desproporcional. Esta doença pode fazer com que indivíduos recorram à cirurgia plástica para corrigir distorções imperceptíveis para os outros. Scheibe, no entanto, avisa que é preciso tomar cuidado com os exageros. “A cirurgia plástica deve servir para melhorar a auto-estima, e não para suprir um vazio na vida do paciente”, enfatiza.

O paciente se envolve mais emocional do que fisicamente numa cirurgia plástica. O cirurgião plástico lembra que o procedimento cirúrgico é uma ciência e não deve ser encarado para solucionar todos os problemas pessoais. “Quando percebo que o paciente está enfocando a cirurgia de forma errada ou buscando suprir uma necessidade emocional, indico uma consulta com um psiquiatra ou psicólogo”, observa Scheibe.

Reais necessidades

Para fugir da paranóia pela perfeição, não tem outro jeito: é preciso apelar para um bom senso crítico. “As pessoas estão usando como referência modelos externos e estereotipados, fato que pode levá-las a um distúrbio patológico”, explica a psicóloga Dulce Barros. Como exemplo, a psicóloga cita as fotografias utilizadas em revistas femininas, em que muitas garotas, às vezes de pouca idade e muito produzidas, passam a sensação de que estão próximas dos 30 anos. “Assim, o padrão de beleza sugerido se torna distorcido”, conclui Dulce.

Em meio a tantas contradições e exigências, fica meio difícil evitar a ansiedade, mas para a psicóloga uma coisa é certa: se você não está satisfeito com sua aparência, antes de tomar atitudes drásticas, observe com cuidado quais são as suas reais necessidades, e quais são as necessidades que a sociedade de consumo quer lhe impor. Para descobrir se este é o seu caso, só procurando ajuda profissional.

Será que é hora de procurar ajuda?

Se você não sabe a quem recorrer, talvez consiga se encontrar respondendo ao questionário abaixo:

? Você tem cogitado fazer cirurgias plásticas para emagrecer em vez de adotar uma dieta saudável?

? Você insiste em achar que está acima do peso quando todo mundo diz que você está bem?

? Você toma remédios para emagrecer ou ganhar peso sem orientação médica?

? Você costuma ficar mais tempo na academia do que seu professor recomenda?

? Você adota dietas malucas ou fica muitas horas em jejum para emagrecer?

? Você come compulsivamente e depois se arrepende, chegando a provocar vômitos ou tomar laxantes?

? Sua obsessão com a aparência atrapalha sua vida afetiva, sexual e profissional?

Se você respondeu positivamente a uma dessas questões, ou a várias delas, é hora de procurar ajuda. Não importa que você comece com um clínico, um psicólogo ou com um nutricionista. Se você estiver com distúrbios de auto-imagem, qualquer um desses profissionais encaminhará você para o tratamento adequado.

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