Problema de catarata é visto com pouco caso

A costureira Maria das Graças Santos passou, há um mês, por uma cirurgia de catarata e voltou ao trabalho com maior disposição. ?Me sentia mal porque dependia da ajuda das pessoas para fazer o meu trabalho. Não tinha idéia de que um problema de visão pudesse me afetar tanto psicologicamente?, desabafa. O oftalmologista Paulo Fadel explica que, na maioria das vezes, os primeiros sintomas da catarata surgem com a visão nublada, mudanças freqüentes no grau dos óculos, visão dupla em um dos olhos, diminuição na percepção de cores e dificuldade em enxergar à noite. ?Dirigir, então, torna-se um problema, já que, com a doença, a pessoa não suporta luzes intensas?, adverte.

O médico comenta que na medida que a catarata avança, os óculos não mais resolvem o problema da visão e a pessoa é obrigada a aproximar os objetos dos olhos para conseguir identificá-los com clareza. Devido a esse problema, os raios luminosos que penetram no interior do olho não conseguem atingir a retina e a visão apresenta-se nublada. Quando a catarata começa a se desenvolver, o cristalino, explica Fadel, fica ?como se fosse um vidro nublado?, não permitindo uma visão nítida. Em casos mais avançados a doença pode causar a mudança na cor da pupila, chegando a deixá-la branca. ?Nestes casos a pessoa só vê luz?, adverte.

Lente intraocular

A catarata é uma das primeiras causas de cegueira na terceira idade e acomete 50% das pessoas com mais de 60 anos. O problema, entretanto, pode ser resolvido através da cirurgia e apresenta o restabelecimento da visão em menos de uma semana. De acordo com Fadel, 95% dos pacientes recuperam a visão funcional, voltando a enxergar normalmente após a cirurgia. Além disso, comenta o médico, aqueles pacientes que não apresentam lesões na retina podem se beneficiar com o uso de lentes intraoculares multifocais e pseudoacomodativas. ?Existem casos em que a pessoa passa a enxergar sem o auxílio dos óculos?, observa.

A catarata só pode ser diagnosticada por meio de um exame oftalmológico completo, e a cirurgia é o único meio efetivo para removê-la. A técnica mais recente é o implante de uma lente intraocular, conforme explica Paulo Fadel. Essa lente pode ser feita de um material plástico chamado PMMA, de silicone, acrílico hidrofílico ou hidrofóbico. É colocada dentro do olho permanentemente e produz uma imagem normal sobre a retina. O critério para a escolha do material a ser usado fica por conta do oftalmologista.

Rápida recuperação

Segundo estatísticas realizadas nos Estados Unidos, 98% de todas as cirurgias de catarata são realizadas com implante intraocular e os resultados dão conta de que os pacientes recuperam plenamente a visão. A cirurgia dura em média 15 minutos e é feita com anestesia local, sem internação e geralmente não há dor pós?operatória. A recuperação é rápida e no dia seguinte o paciente já começa a perceber o restabelecimento da visão.

A pessoa deve seguir rigorosamente os cuidados pós-operatórios para evitar complicações, especialmente a infecção, que pode até levar à cegueira. A cirurgia de catarata é simples para o paciente devido à tecnologia que se usa, mas não é um procedimento simples e banal. Merece todos os cuidados de uma cirurgia tradicional e qualquer complicação pode comprometer a visão em definitivo.

Projeto Catarata traz uma vida nova

Um programa do Ministério da Saúde, em parceria com a Sociedade Brasileira de Oftalmologia, visa diminuir a incidência da doença na população. De acordo com o médico Newton Kara José, a catarata se apresenta em vários tipos: a senil, em pessoas idosas a congênita, causada por infecções; e a hereditária, que aparece em pessoas portadoras de doenças metabólicas como o diabetes. Conforme Newton, o efeito social do projeto é fácil de ser constatado. ?Em geral são pessoas que estavam sem produzir, dependentes dos outros, que são operadas e retomam a sua independência?, constata. Entre as experiências que viveu, o médico conta a vez que atendeu um homem de 50 anos com uma catarata precoce e que já não enxergava nada. ?Amigos disseram que ele era alegre e sorridente, mas que, de repente, ficou encostado, não ria mais, ninguém sabia o porquê.? Até que um vizinho percebeu que era por causa da visão e o levou ao Projeto Catarata. Operamos os dois olhos no mesmo momento. Os amigos e conhecidos acharam que foi um milagre, pois ele voltou da cirurgia animado. ?Pudemos constatar essa evolução, uma vez que os amigos faziam questão de acompanhá-lo em todos os retornos e partilhavam com a equipe médica a felicidade da sua reabilitação?, relata.

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