Prepare-se para deixar de fumar

Em Deixar de fumar, a Dra. Jaqueline Issa explica o mecanismo de dependência da nicotina e ensina como se livrar dele. O bem-estar proporcionado pela substância faz com que o ato de fumar se torne repetitivo e, em pouco tempo, leva o fumante ao vício, apesar dos riscos do tabagismo à saúde serem conhecidos por todos. Ela ensina como identificar e se libertar dos “gatilhos”, situações em que sente necessidade de fumar e se preparar para deixar de fumar.

Com 10 anos de experiência em tratamento do tabagismo, Jaqueline já tratou mais de mil fumantes e assume que seu histórico familiar influenciou muito em sua decisão de tratar tabagistas. Ela nunca fumou, mas viveu o drama de perder o pai, que era fumante e morreu de câncer de pulmão no mesmo mês em que ela se formou médica. Sua mãe por pouco se livrou da morte devido a um enfarto, provavelmente causado pelo consumo de cigarro.

Jaqueline é coordenadora do Ambulatório de Tratamento do Tabagismo do Instituto do Coração da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e inicia seu livro pedindo desculpas em nome da classe médica aos pacientes fumantes que sofreram com o preconceito dos médicos, que durante muito tempo trataram o tabagismo como uma fraqueza de personalidade. E ela confessa que também compartilhava dessa opinião até pesquisar a doença.

Há menos de vinte anos o tabagismo passou a ser considerado como uma doença, depois que cientistas descobriram no cérebro humano receptores da nicotina, uma substância que tem mais poder de causar dependência do que a cocaína e a heroína. E a médica ressalta que abandonar o vício de fumar não é uma mera questão de falta de força de vontade: a nicotina vicia porque é uma das drogas mais eficazes para combater a ansiedade e a depressão.

Portanto, cobrança e dedo em riste só atrapalham aqueles que querem deixar de fumar. Ela aconselha que o fumante não deve se deixar pressionar com argumentos convencionais que o fazem se sentir culpado e anti-social. E o fumante também não precisa sofrer sozinho. Deve procurar ajuda especializada.

Algumas dicas para deixar de fumar:

· Descubra que tipo de fumante você é para saber como evitar as situações que o induzem a fumar. Você pode pertencer a mais de uma categoria simultaneamente:
1. Fuma por prazer;

2. Gosta de manipular o cigarro;

3. Fuma em determinadas ocasiões como, por exemplo, para acompanhar o cafezinho, após as refeições, em festas etc.;

4. Fuma para se sentir estimulado: acende um cigarro para iniciar uma determinada tarefa, tomar uma decisão etc.;

5. Fuma para reduzir o estresse.

· Para evitar o ganho de peso, escolha alimentos pouco calóricos, caso você precise deles para diminuir a ansiedade e substituir o prazer oral proporcionado pelo cigarro. E pratique atividades físicas.

· Escolha um médico que o ajude a encontrar fontes de motivação e inspiração para deixar o vício. Profissionais que tratam fumantes como fracos ou sem força de vontade não ajudam em nada. Para o sucesso do tratamento, o médico, além de motivar, deve conhecer as opções de medicamentos disponíveis e saber como prescrevê-los de acordo com cada paciente.

· A melhor hora de deixar de fumar. Se você acha que existem mais vantagens em fumar do que em não fumar, é melhor aguardar outro momento para tentar parar.

Medicamentos

Por causa do grande potencial de dependência da nicotina, a médica defende a prescrição de remédios para ajudar o paciente a deixar de fumar. Ela argumenta que quem fuma menos de 15 cigarros por dia pode tentar parar por conta própria, embora pesquisas mostrem que são poucos os que conseguem deixar o vício sem a ajuda de medicamentos para aliviar a síndrome de abstinência.

Há dois tipos de medicamentos disponíveis: os nicotínicos, à base de nicotina, e os à base de bupropiona, como o Zyban, que é um antidepressivo. A utilização do tratamento nicotínico requer a interrupção imediata do cigarro para evitar o risco de intoxicação pelo excesso de nicotina. Já o Zyban, agindo como antidepressivo, substitui o bem-estar causado pelo cigarro. Conforme o caso, pode-se optar por um dos dois tipos de medicamentos ou utilizá-los simultaneamente.

Segundo a Dra. Jaqueline, não há fumante que não possa parar de fumar, exceto em casos raros de depressão, distúrbios de ansiedade e esquizofrenia. E ela alerta que as pessoas que fumam como uma forma de autoflagelo precisam ser curadas da depressão antes de tentarem parar de fumar.

Jaqueline Scholz Issa é doutora em cardiologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). É diretora de unidade do Instituto do Coração da FMUSP e coordena o Ambulatório de Tratamento do Tabagismo do Instituto. Deixar de fumar é seu primeiro livro.

Voltar ao topo