Parar de fumar: o primeiro passo é o mais difícil

A incidência de câncer pulmonar aumenta 2% ao ano, mundialmente. No Brasil, em 2003, o Inca (Instituto Nacional de Câncer) registrou 22 mil novos casos e mais de 16 mil mortes pela doença ? que é causada, em 90%, pelo uso do tabaco. Fumantes ativos, passivos, ex-fumantes e pessoas com histórico familiar fazem parte de um grupo de alto risco que deve fazer exames com intervalos de um ou dois anos, após os 50 anos de idade.

Nos consultórios médicos, os atendimentos clínicos são sempre recheados de conversas entre médicos e pacientes. Geralmente, a recomendação mais ouvida é para pararem de fumar. De acordo com os médicos, a maior preocupação se origina na premissa de todo fumante: ?cigarro não faz mal algum e, além disso, pode parar quando quiser?. O problema é que a maioria dos pacientes não quer. Eles já sabem que o cigarro é uma das principais causas do câncer no pulmão, garganta e bexiga, mas decidem que vão deixar o vício mais adiante, ?daqui a alguns anos?. Só que, quando surgirem os primeiros sinais, o câncer já estará instalado e então só restará ao paciente rezar para que não esteja em estado avançado.

Uma das melhores maneiras de persuadir o fumante a largar o vício, de acordo com o radiologista Marcelo Secaf, é submetê-los à tomografia computadorizada para diagnóstico de câncer no pulmão. ?Mesmo não sendo confirmada nenhuma lesão, apenas por visualizar os estragos causados pelo cigarro, muitos se sentem ?obrigados? a abandonar o cigarro?, constata.

Para confirmar tal premissa, pesquisadores americanos conduziram um estudo com 926 fumantes e 594 ex-fumantes.  Os participantes foram examinados três vezes ao ano, passando por tomografia computadorizada do pulmão. Pacientes que receberam resultados apontando anormalidades com maior freqüência foram os que mais decididamente abandonaram o hábito de fumar. ?Vários fatores contribuíram para a abstinência do fumo, entre os mais importantes, idade avançada, piora das funções pulmonares e resultado de tomografia apontando anormalidade?, comentou Secaf.

Controle periódico

Muitas pessoas negligenciam a saúde, deixando para procurar um médico somente depois de sentirem os primeiros sintomas. De acordo com especialistas, isso é um erro grave que pode comprometer as chances de melhores condições de sobrevida do paciente, caso venha a se confirmar um câncer pulmonar. Tumores de localização central costumam provocar tosse, ronco e falta de ar. Os que estão instalados no ápice pulmonar podem desencadear dores nos ombros e braços. Mas existem tipos silenciosos de câncer, que não dão sinais. ?Esses, geralmente, ou estão localizados em uma região mais periférica do pulmão, ou têm dimensões tão pequenas que ainda não produzem sintomas?, avalia o médico.

Assim, maiores são as chances de tratamento adequado quanto mais precocemente for detectada a lesão no pulmão. A tomografia computadorizada (TC) é o exame mais preciso e recomendado nesses casos, porque dá uma visão em ?fatias? milimétricas de todo  o pulmão. Secaf lembra que, mesmo quando o exame não identifica nenhum nódulo, isso não quer dizer que o câncer pulmonar não possa vir a se desenvolver no futuro caso a pessoa continue a fazer parte do grupo de alto risco. ?Daí a importância de controle periódico e, principalmente, de abolir o cigarro para sempre?, adverte.

Quem ainda não escutou estes conselhos?

* Tenha em mente que a decisão de parar deve ser exclusivamente sua.

* Se quer parar e acha que não consegue fazê-lo sozinho, procure ajuda especializada.

* Marque uma data para deixar de fumar e pare totalmente nesse dia.

* Nas primeiras semanas evite situações, locais ou companhias que favoreçam recaídas.

* Peça ajuda a amigos e familiares para evitar os hábitos em que o cigarro exerça um papel importante.

* Renove a iniciativa de não fumar realçando as vantagens da situação: bom hálito, manutenção da saúde, melhora na qualidade de vida.

* Caso tenha alguma recaída, não desista e tente novamente, avaliando o que deu errado e se organizando para evitar os mesmos erros.

Pais fumantes arriscam a saúde dos filhos

Apesar da maciça campanha antitabagismo empreendida no mundo, pesquisadores americanos descobriram que muitos pais ainda ignoram os alertas de saúde e expõem suas crianças à fumaça de cigarro em casa, no carro e mesmo em locais públicos. De acordo com o estudo, cerca de 40% dos pais ou responsáveis permitem que se fume na presença dos filhos em casa. Menos da metade poupam os filhos da fumaça quando estão dirigindo e procuram escolher lugares reservados para não-fumantes em restaurantes.

Para o cirurgião torácico Miguel Tedde, esse número reflete a necessidade de se continuar promovendo campanhas de esclarecimento à população sobre os riscos à saúde que o fumo representa. ?Como se não bastassem os riscos assumidos pelo próprio dependente de tabaco, os fumantes passivos também são atingidos em seu direito à saúde?, frisa o médico, salientando que, principalmente, as crianças sofrem ainda mais, já que desde pequenas podem apresentar maior propensão a manifestações de asma, bronquite, pneumonia e infecções no ouvido.

Outro fato agravante, nesses casos, de acordo com Tedde, é que quando vêem seus pais fumando, as crianças passam a encarar o ato de fumar como algo normal. Somam-se, assim, os danos orgânicos provocados pelo cigarro a um condicionamento psicológico altamente maléfico, que é o primeiro passo para se criar um novo fumante.

Com efeito, a conscientização dos pais fumantes passa a ser primordial. No caso disso não ser possível de imediato, ao menos que garantam, em suas casas e carros, um ambiente livre de fumaça de cigarro. ?Além disso, evitando fumar na frente dos filhos, contribuem para a formação de uma geração que cultivará hábitos mais saudáveis?, alerta o especialista.

Tabagismo causa disfunção erétil

Recentemente, um estudo da Escola de Saúde Pública de Harvard comprovou o que muitos médicos já observavam na sua experiência nos consultórios: hábitos de vida pouco saudáveis como tabagismo e obesidade aumentam o risco do surgimento de problemas de ereção. Segundo o urologista e gerente médico do Laboratório Lilly, Fernando Martins, o fumo aumenta em pelo menos duas vezes a chance do homem ter disfunção erétil. ?O cigarro é um dos principais fatores de risco, uma das principais causas da disfunção erétil?, afirma.

A nicotina e as outras substâncias tóxicas presentes no cigarro causam e aceleram a arterosclerose, uma doença que provoca o endurecimento e a obstrução das artérias do corpo. Essa obstrução acontece também nas artérias do pênis, muito sensíveis e de menor espessura, dificultando o fluxo do sangue e dificultando a ereção. O especialista ainda alerta para que o homem busque ajuda médica assim que as dificuldades de ereção aparecerem, pois a disfunção erétil pode ser um sinal para doenças mais graves, como hipertensão arterial e outros problemas cardiovasculares.

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