Pais fazem pouco caso das reclamações dos filhos

?Ai, que dor de cabeça.? Durante muito tempo, se pensou que esta queixa era exclusiva dos adultos. De fato, acreditava-se que as crianças não sofriam de dores de cabeça e essa ?certeza? durou por muitas décadas. A maior parte das cefaléias é primária, sendo a enxaqueca a mais freqüente. De acordo com alguns estudos epidemiológicos internacionais, estima-se que 5% das crianças sofram dessa patologia. Na adolescência, os números aproximam-se dos da idade adulta, 18%.

Para o neurologista José Pedro Vieira, várias são as circunstâncias que podem levar ao surgimento da doença, entre elas a predisposição genética, as viroses, como gripes e resfriados, sinusite, otite, meningite, traumatismo cranioencefálico, aumento da pressão intracraniana, alterações oculares e enxaqueca, entre outras disfunções.

A cefaléia ou a dor de cabeça são mais comuns do que se imagina. Sabe-se que cerca de 75% das crianças até os 15 anos já apresentaram essa queixa em alguma ocasião. Trata-se, portanto, de uma manifestação clínica que pode estar associada a várias doenças. Já no período pré-escolar existe essa referência. É o caso de Isabela, que tinha 4 anos quando se queixou pela primeira vez que lhe doía a cabeça. Apesar de haver casos de enxaqueca na sua família, o distúrbio só foi diagnosticado seis anos depois. ?Inicialmente, associaram-se as dores de cabeça da menina à sinusite. Fez-se o tratamento, mas as dores de cabeça não passaram?, afirma a sua mãe.

Investigação é necessária

Conforme o neurologista Pedro Kowacs, as cefaléias primárias, em que a criança tem um episódio que começa e termina, não passando habitualmente para o dia seguinte, sem ter um caráter progressivo, são as menos preocupantes. ?São crises intermitentes e essencialmente diurnas?, ressalta. Apesar disso, podem persistir ao longo da vida, com a tendência para se extinguirem numa idade adulta mais avançada. Por outro lado, se as dores de cabeça ocorrem durante o sono ou ao despertar, precisam ser investigadas, adverte o médico.

A sua maior preocupação é que as dores de cabeça dos filhos correspondam a uma doença grave. Muitas vezes, o que acontece, conforme Kowacs, é que os pais não dão muito valor às queixas de seus filhos. Quando eles reclamam, os pais levam para a consulta, trazendo muitas vezes medos e ansiedades, resultantes da interpretação que fizeram dessas queixas. Por isso não se pode generalizar. ?Sempre é necessária uma avaliação clínica que fundamente uma investigação mais detalhada?, frisa o especialista.

Dificuldade na descrição da dor

Muitas vezes, nem mesmo os adultos conseguem identificar o fator que desencadeou a dor de cabeça. Naturalmente, nas crianças é mais complicado ainda. ?Além da identificação das causas, surge outra dificuldade: a classificação da dor, já que a criança pequena não consegue descrever a dor corretamente e até a localização da dor é muito complicada?, explica Kowacs.

No tratamento, o repouso e o sono são essenciais. Na maior parte dos casos é suficiente. Existem, no entanto, crianças com enxaquecas mais freqüentes que poderão necessitar de fazer um tratamento com um medicamento profilático com o objetivo de diminuir o número de episódios de enxaqueca, esclarece o médico. O senso comum aponta o excesso de atividades das crianças como responsável por cefaléias na infância. Apesar disso, os especialistas ainda acham que as dores de cabeça nas crianças ainda são uma área pouco explorada.

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