Oxigenoterapia: O poder de cura do oxigênio

O paciente entra numa câmara hiperbárica e o oxigênio, via corrente sanguínea, chega aos pontos do corpo que precisam de oxigenação. Essa é uma descrição simplista de um método terapêutico pouco conhecido do público (e de muitos médicos também) que é a chamada Oxigenoterapia Hiperbárica. O tratamento – principal ou coadjuvante – serve para diminuir edemas e infecções, acelerar a formação de novos vasos sanguíneos e promover maior cicatrização de tecidos. Em Curitiba, atualmente, poucos hospitais se utilizam da técnica. No Hospital Pilar, o serviço será implantado nos próximos dias.

Há alguns anos, o cantor americano Michael Jackson sofreu queimaduras no couro cabeludo durante a gravação de um comercial e se valeu de sessões de oxigenoterapia. Seguiu-se a lenda de que ele utilizava a terapia para melhorar a sua pele e retardar o envelhecimento, o quê não condizia com a realidade dos fatos. Os médicos são unânimes em reprovar o uso do tratamento para fins puramente estéticos. Afinal, a medicina hiperbárica é recomendada para as lesões refratárias com indicações cientificamente estabelecidas pela Sociedade Brasileira de Medicina Hiperbárica e pelo Conselho Federal de Medicina. Também não se trata de nenhuma novidade, pois desde a década de 1930 é utilizada, obtendo importantes resultados.

Queimaduras graves

O médico especialista em medicina interna e medicina hiperbárica Adriano Antônio Mehl faz questão de confirmar que a técnica é considerada um procedimento terapêutico auxiliar, recomendado por diversas especialidades médicas. A ação do oxigênio puro respirado sob pressão dentro da câmara é capaz de atuar como coadjuvante na cura de infecções que venham resistindo até ao uso de antibióticos potentes. ?É o que acontece, por exemplo, quando a circulação sangüínea fica comprometida, em pacientes que sofreram traumatismos ou queimaduras graves e tiveram os vasos sangüíneos de certa região destruídos?, explica o médico. Além disso, conforme Mehl, o procedimento também vem sendo indicado para casos de infecções ósseas e lesões nos pés de pacientes diabéticos.

A medicina hiperbárica teve origem na prevenção e tratamento de doenças e lesões ocasionadas pelas atividades de mergulho. A intenção era prevenir problemas de saúde que ocorrem com os trabalhadores de locais pressurizados, como construções submersas e escavações de metrô, por exemplo. Com o evoluir da prática, os médicos descobriram que era possível utilizar o tratamento em casos clínicos e hospitalares. Conforme Mehl, no tratamento o paciente permanece no interior de uma câmara, onde respira oxigênio puro em pressões acima da atmosférica, em sessões com tempo de duração de 90 a 120 minutos (para adultos) e tempo de tratamento variável, conforme os protocolos estabelecidos para as indicações e de acordo com orientação médica especializada. Os processos infecciosos refratários e com possibilidade de perda tecidual, o retardo de cicatrização e as necroses que provocam infecções graves são as situações mais corriqueiras do uso da oxigenoterapia no tratamento. Em geral, as doenças que exigem um tratamento mais prolongado são as infecções ósseas decorrentes de traumatismo.

A oxigenoterapia é reconhecida pelo seu alto fator de redução de morbidade e mortalidade. As doenças mais indicadas ao uso do procedimento, na maioria das vezes, são aquelas resistentes aos tratamentos convencionais e que implicam em altos custos para o paciente, casos das amputações, dos procedimentos cirúrgicos mais eletivos, do uso de antibióticos e das diárias hospitalares, entre outros.

Indicações da oxigenoterapia

* Tratamento de infecções necrosantes

* Úlceras de pele

* Queimaduras

* Isquemias

* Envenenamento

* Intoxicação por fumaça

* Enxertos comprometidos

* Osteomielites

* Reimplante de extremidades amputadas

* Vasculites de origem alérgica, medicamentosa ou por picadas de aranhas e cobras

Os efeitos causados em um paciente dentro de uma câmara hiperbárica são os mesmos de um mergulho no fundo do mar ou das sensações de opressão nos ouvidos, sentidas quando se sobe ou desce a Serra.

Feridas: porta de entrada para infecções graves

Não se tem dados estatísticos exatos no Brasil sobre o número de pacientes portadores de feridas e nem como a sobrecarga financeira que esses pacientes, suas lesões, intervenções e comorbidades exercem no sistema público de saúde. As feridas podem ser muitas e ter causas diversas, como escoriações, corte com lâmina, faca, tesoura e traumas, entre outras. Uma ferida aberta, que não cicatriza, está suscetível a contaminações, podendo levar a uma infecção grave no local e proximidades e até mesmo ser a porta de entrada de uma infecção sistêmica, além de ocasionar perda de tecido, falta ao trabalho ou estudo e maior tempo de internação.

As causas dessas feridas crônicas podem estar na falta de conhecimento e atualização dos profissionais que as tratam, bem como dos pacientes e seus acompanhantes; da falta de cuidados iniciais e básicos de higienização e limpeza no local da lesão, levando a uma contaminação grosseira e conseqüentemente a uma infecção no local. A falta de orientação básica e adequada quanto às trocas de curativos e o descuido na escolha da melhor técnica e do curativo mais apropriado ao paciente são os principais desafios dos especialistas.

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