O especialista: Saúde doente, faltam médicos no mundo

ms1250506.jpgRecentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou um déficit de quatro milhões de médicos, enfermeiras e outros profissionais da saúde no mundo. Só nos países em desenvolvimento são necessários mais 2,3 milhões de profissionais para garantir o atendimento básico à população. Entre as nações mais atingidas pelo problema estão Índia, Indonésia, República Democrática do Congo, Quênia, Tanzânia e Peru.

De acordo com o relatório, 57 países apresentam um quadro crítico em relação à falta de profissionais, o que leva essas nações a não vacinar crianças, não assegurar cuidados pré-natais e a não tratar de pacientes com aids, malária e tuberculose. Nesse grupo se encontram 36 países da África, que é o epicentro dessa crise mundial. Nessa região, há, em média, 2,3 profissionais da saúde para cada mil pessoas, contra 18,9 na Europa e 24 nas Américas.

Hoje, 1,3 bilhão de pessoas no mundo não têm acesso aos cuidados mais básicos de saúde devido à falta de pessoal. Dez milhões de mortes por ano, causadas por doenças infecciosas e complicações durante a gravidez e o parto, poderiam ser evitadas se houvesse mais agentes de saúde.

A OMS estima em 59,2 milhões o número de profissionais da saúde no mundo, hoje. O problema é que esse contingente está concentrado nos países ricos e nas zonas urbanas. Países pobres sofrem com o êxodo de profissionais. O relatório é incisivo ao apontar como causas do problema, em âmbito mundial, o baixo orçamento destinado à saúde; as imperfeições do mercado de trabalho no setor privado; a falta de investimentos públicos; a burocracia administrativa; as ingerências políticas e a falta de estratégias para contratação e formação no setor público.

A OMS recomenda aos governos que adotem estratégias baseadas na produtividade, formação e planejamento dos recursos humanos, pois a situação apresentada hoje se tornará ainda mais grave em 10 ou 15 anos.

O Brasil não figura na lista da OMS dos 57 países que apresentam uma situação crítica de falta de profissionais da área da saúde. Entretanto, conhecendo nossos problemas interno, sabemos que não são todos os municípios brasileiros que contam com assistência médica adequada.

Dados revelados pela pesquisa O médico e o seu trabalho, do Conselho Federal de Medicina (CFM), apontam que a maioria do contingente de 310 mil médicos brasileiros trabalha em estados da região sudeste. Em São Paulo, são mais de 90 mil e no Rio de Janeiro, mais de 51 mil. Roraima e Amapá são os estados com menor contingente de médicos da federação, respectivamente, 386 e 472 profissionais.

A distribuição dos médicos do Brasil também segue o viés dos grandes centros urbanos e as mesmas causas apontadas pela OMS para a falta de profissionais da saúde no mundo também se fazem presentes, aqui, em maior ou menor grau. A interiorização da medicina no Brasil é um grande desafio. Muitas iniciativas foram iniciadas e abandonadas com a sucessiva mudança de governos e governantes. Como resultado, assim como no mundo, o atendimento básico à saúde no Brasil não se caracteriza um direito de todos.

Lecy Marcondes Cabral, cirurgião plástico.

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