O especialista: Mudança cultural, já!

maissaude_especialista.jpgA medicina está cada vez mais cara. Teremos condições de acompanhar o desenvolvimento acelerado dos medicamentos e recursos tecnológicos? Estas dúvidas e preocupações são mundiais e mesmo países do primeiro mundo, com uma economia forte e um alto poder aquisitivo, demonstram preocupação com a necessidade de atuar de forma racional na tomada de decisões na área médica. Eles estão utilizando dados da medicina baseados em evidências e analisando rigorosamente a relação custo/efetividade da tomada de decisões. Isso não quer dizer que deixam de atender devidamente aos pacientes para economizar. Significa, apenas, o uso do bom senso e trabalhar com ferramentas mais apropriadas, que são a prevenção e a educação em saúde.

Estou muito à vontade para falar neste assunto, pois a cardiologia, minha especialidade, é um excelente exemplo de área médica de alto custo, de aquisições caras de exames e tratamentos e de um ótimo efeito da prevenção sobre as principais causas das doenças. Por exemplo, tratar a hipertensão arterial e aumento do colesterol é muito mais barato do que fazer um cateterismo. Pacientes bem orientados e tratados ao longo da vida podem ver reduzidos pela metade os riscos de sofrer uma doença mais grave, além de escapar de tratamentos com elevadíssimo custo para todo o sistema de saúde.

Também é importante salientar que, antes de solicitar os exames de alto custo, o médico deve estudar a possibilidade de sugerir exames mais simples. Eles são capazes de detectar, por exemplo, mais de 80% das doenças cardíacas, podem estratificar o risco cardiovascular e orientar um tratamento adequado, tudo sem aumentar a complexidade da investigação e com baixo custo.

Lembro-me dos ensinamentos de um professor americano: ?Pedir exames não trata ninguém, muitos que fazem isso de forma exagerada nem mesmo sabem interpretá-los, até porque não ouviram com exatidão as reais queixas dos doentes?. Conforme dados apresentados pela Stanford University, para ter uma maior probabilidade de se viver mais de 65 anos os itens que mais pesam são assistência médica (10%); estilo de vida saudável (53%); condições ambientais (20%); e herança genética (17%).

Isso mostra que hábitos saudáveis são a base da pirâmide, que bom senso no atendimento médico é atuar sobre a prevenção. Não há nenhuma necessidade de se repetir exames, só por fazê-los ou para nos satisfazermos. Existe a necessidade de uma mudança cultural urgente. Não se iludam com exames repetitivos sem necessidade e com novas tecnologias que trazem embutidas publicidades exageradas em revistas leigas. Dependendo do caso avaliado, elas muito pouco acrescentam.

Dr. Alexandre Alessi, mestre em cardiologia pela UFPR.

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