Nada mais normal do que um quarto bagunçado

Fernanda, 14 anos, está de férias. Em casa e sem horário pra nada, quase toda tarde recebe a visita de suas amigas. Ouvem música, navegam na Internet, conversam e se divertem. No entanto, para desespero dos pais, deixam o quarto totalmente de cabeça para baixo. Parece que um furacão acabou de passar por ali. Gavetas abertas, roupas para fora, brinquedos, revistas, CDs e outras bugigangas espalhadas pelo chão. Não dá para imaginar como conseguem se encontrar no meio desse verdadeiro caos, mas, muita calma nessa hora, é o conselho dos especialistas em comportamento de adolescentes.

"Não adianta se descabelar e xingá-las de bagunceiras", diz Célia Carta Winter, psicóloga e professora de Psicologia da Personalidade da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, salientando que um quarto bagunçado ou um tênis mal cuidado, podem ser apenas reflexos da relação dos pais com os filhos. Essa desorganização pode ser indício de que o relacionamento não está bom. "Essas atitudes podem mostrar o atual momento que o adolescente está vivendo ou representar uma maneira de pedir ajuda para solucionar outras questões próprias da idade", observa a terapeuta.

Alguns pais preocupam-se com a possibilidade de um quarto bagunçado preparar caminho para uma vida adulta desorganizada. Conforme a psicóloga, essa é uma questão fora de cogitações, já que muitos adolescentes totalmente desorganizados se tornam adultos conscientes das suas atribuições e obrigações. "Eles aprendem mais com atitudes coerentes e pelos bons exemplos dos pais", diz Célia Winter.

Corrigir excessos

Além disso, o senso de organização dos adolescentes é bem diferente do dos pais. O que, para o adulto, significa lixo pode representar, para a ele, o seu universo. Se os pais resolvem arrumar o quarto a seu modo, sem a ajuda e conhecimento dos filhos, estarão sujeitos a reclamações. E não é para menos. Essa arrumação pode ser considerada uma intromissão e poderá fazer com que o relacionamento entre as partes se torne mais complicado. "Um pouco de desorganização não faz mal nenhum", admite a professora. Para ela, eles podem estar querendo definir os seus espaços e essa transformação implica em ajustes que devem ser avaliados ao longo do tempo.

Do mesmo modo, o excesso de organização aponta para um alvo semelhante. Em qualquer um dos casos, é importante que os pais observem atentamente seus filhos para identificar e tentar corrigir os excessos. Para Célia, o mais importante de tudo é ir construindo com eles esse processo, fazendo com que participem, cada um com sua contribuição e parcela de responsabilidade.

O bom senso sempre deve prevalecer. Antes de colocar uma restrição ou revalidar uma regra, sempre é bom refletir se vale a pena "brigar" por ela. Quando há um excesso de normas ou quando os pais reclamam de tudo, o jovem pode não reconhecer o que é realmente importante. Se não vale a pena brigar por isso, também é necessário estabelecer hierarquias e demonstrar com ações efetivas que algumas normas precisam ser consideradas. "Se as regras são justas e podem influir no comportamento adulto, como, por exemplo, respeito às leis vigentes, o seu descumprimento requer uma intervenção imediata e firme", alerta a especialista.

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