Na contramão, Paraná amplia tratamentos para hepatite

O Sistema Único de Saúde (SUS) diminuiu a oferta de tratamentos para a hepatite C no ano passado. A constatação é da ONG Grupo Otimismo de Apoio ao Portador de Hepatite, do Rio de Janeiro, que fez uma análise dos dados do Datasus (banco de dados do Ministério da Saúde) entre janeiro e novembro de 2006 e constatou queda de 26% no consumo de um dos medicamentos usados no tratamento da hepatite em relação a igual período de 2005. O Paraná, entretanto, foi na contramão do restante do País, aumentando o número de medicamentos utilizados e de doentes tratados no mesmo período.

Para Carlos Varaldo, presidente da ONG, a diminuição na quantidade de remédios utilizados prova a retração de pessoas submetidas ao tratamento da doença em âmbito nacional. O Interferon convencional, por exemplo, usado para genótipos 2 e 3 do vírus, teve consumo reduzido em 26% entre um ano e outro em todo o País. Outro remédio, a Ribavirina (utilizada em todos os tratamentos de hepatite e também como parâmetro de controle no consumo de Interferon), apresentou diminuição no uso de 10%. O Paraná, segundo os dados do Datasus, foi um dos poucos estados que fugiram à média nacional, tendo aumentado o uso das ampolas de Interferon convencional em 7% (14.260 em 2005 contra 15.304 em 2006) e da Ribavirina em 17% (cerca de 247 mil em 2005 contra quase 298 mil em 2006).

O único medicamento a apresentar maior uso entre 2005 e 2006 na média do País foi o Interferon puguilado, utilizado no tratamento do genótipo 1 do vírus. O aumento foi de 4% em todo o Brasil, enquanto no Paraná o crescimento no uso desse medicamento chegou a 44%. Segundo os números do Datasus, a quantidade de pacientes tratados em todo o País entre um ano e outro caiu de 9,7 mil para 8,7 mil; no Paraná, o número de pessoas tratadas passou de 310 para 370.

A assessoria de imprensa do Ministério da Saúde justifica que a diminuição só pode ser explicada pelas Secretarias de Saúde de cada estado, responsáveis pela compra desses tipos de medicamentos mediante ressarcimento por parte do ministério. A Secretaria de Estado da Saúde do Paraná foi contatada, mas o responsável pelo setor não foi localizado para dar entrevista.

Perigo

A verificação de queda no tratamento em termos de Brasil é preocupante, segundo Varaldo. ?O problema da hepatite C é que a detecção é muito difícil. Há dificuldades em fazer o teste em hospitais públicos e postos de saúde?, afirma. De acordo com ele, uma pesquisa realizada pela ONG mostrou que apenas 14% dos portadores da hepatite C tiveram a doença detectada no serviço público. Dos 86% restantes, 66% detectaram a doença por meio de serviços particulares ou planos de saúde e 20% em doações de sangue.

A Organização Mundial da Saúde estima que existam pelo menos 170 milhões de pessoas com hepatite C em todo o mundo. Segundo o Ministério da Saúde, no Brasil são cerca de 2 milhões, embora 90% dos infectados não o saibam. ?Não existem campanhas para incentivar a detecção e não se prioriza isso porque o tratamento é muito caro. Um paciente particular gasta, em média, R$ 6 mil somente com medicamentos por mês?, comenta Varaldo. No Brasil, a doença já infecta cinco vezes mais que a aids e apresenta taxa de mortalidade com maior crescimento no País, tendo aumentado em cerca de 30,6% em 2005.

Quando não identificada, a enfermidade pode evoluir para uma cirrose ou um câncer de fígado, exigindo o transplante do órgão. A maior parte dos portadores do vírus no Brasil foram infectados nas décadas de 1970, 1980 e início dos anos 90s, quando ainda não existiam testes precisos nas doações de sangue, o que passou a ser adotado somente a partir de 1992. 

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