Mutilação axilar pode ser refreada na retirada do câncer da mama

O trauma provocado pela mutilação para o tratamento do câncer de mama pode ser reduzido com a ajuda de uma técnica conhecida por biopsia do linfonodo sentinela. De acordo com o mastologista José Luiz Barbosa Bevilacqua, o procedimento pode evitar o esvaziamento ?desnecessário? da axila, o que significa melhores condições estéticas e de saúde.

O esvaziamento axilar, que consiste na retirada completa ou parcial dos gânglios da axila, prejudica a drenagem linfática e favorece o surgimento de infecções no braço, além de facilitar o aparecimento do linfedema crônico (inchaço do braço), dor crônica no ombro e perda de sensibilidade no braço.

Bevilacqua explica ainda que, “antes de o câncer de mama avançar para outros órgãos, ele segue, geralmente, em direção dos gânglios (linfonodos) linfáticos, localizados na área das axilas. A técnica consiste em identificar e analisar o primeiro gânglio responsável pela drenagem do tumor, o chamado linfonodo sentinela. Se esse não estiver contaminado pela doença, os outros também não estão. Dessa forma, é supérfluo retirá-los”.

Até meados da última década, o tumor era extirpado juntamente com todos os gânglios da axila, para evitar que a doença se espalhasse para outros órgãos. De acordo com o especialista, “o esvaziamento, além de provocar seqüelas psicológicas, por deixar a região deformada, e desencadear outras complicações crônicas na saúde, também levava à retirada dos gânglios sadios, já que as células tumorais eram encontradas em apenas 30% dos casos”, justifica.

A técnica

Para chegar ao lifonodo sentinela, o médico explica que antes de iniciar a cirurgia é injetado um líquido azul na mama, que migra pelo sistema linfático até corar esse linfonodo. Outro procedimento, que utiliza o mesmo princípio, é feito com injeção de material radioativo, que, segundo Bevilacqua, “é praticamente inócuo, tanto para o paciente quanto para a equipe médica”. E complementa: “A dosagem é muitíssimo menor do que a liberada por Raios-X de tórax, por exemplo”.

Durante a cirurgia, tanto visualmente como por auxílio de aparelhos, o cirurgião identifica, no meio da gordura da axila, o gânglio sentinela e o retira. O mesmo será então submetido à biópsia, para que possa ser confirmada a existência ou não de células tumorais. Essa informação é fundamental, pois isso definirá o prognóstico e o tipo de tratamento (com quimioterapia e/ou radioterapia, por exemplo).

Segundo o especialista, a identificação por meio de material radioativo alcança 97% de chances de acerto e, por corante azul, 96%. Com a utilização dos dois métodos combinados essa porcentagem sobe para 98%, o que tem sido mais empregado nas principais instituições de saúde do mundo.

José Luiz Barbosa Bevilacqua é mastologista e cirurgião oncológico, formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, com especialização em Mastologia pelo Memorial Solan-Kettering Cancer Center de Nova York. Ele é membro titular da Sociedade Brasileira de Mastologia. Atualmente, atende em clínica particular e trabalha no Hospital Sírio Libanês.

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