Muita promessa para pouco resultado

Dietas instantâneas quase nunca são a solução para os gordinhos, mas cada vez que as calças apertam… Apelativas, conseguem adesão porque geralmente vêm acompanhadas de promessas que envolvem muita perda de peso em pouco tempo, ainda mais em um País onde a vaidade excessiva esbarra no paradoxo de uma população que engorda gradativamente. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 40% dos brasileiros estão acima do peso ideal, e o sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes – a famosa fase da aceitação e culto ao corpo – são cada vez mais freqüentes.

Apesar de as noções de reeducação alimentar estarem mais que popularizadas, profissionais alertam que as dietas “milagrosas” ainda têm muito espaço no cardápio do brasileiro e podem, ao final, tornar o emagrecimento uma tarefa ainda mais complicada. O ideal, segundo eles, é aprender a comer selecionando quantidade e qualidade de alimentos.

O sucesso está em diminuir as calorias ingeridas. Associada aos exercícios, a redução é ainda mais eficiente. Isso porque eles auxiliam na conquista da massa magra, ou aumento dos músculos. “Quando fazemos dietas, sempre perdemos um pouco da massa magra e isso implica em redução do metabolismo. Conseqüentemente, muita gente parte para restrições ainda mais radicais”, diz a nutricionista Maria Emília von der Heyde, explicando que os exercícios suprem essa perda, dificultando a desaceleração do metabolismo (processamento dos alimentos pelo organismo). Quanto mais rápido, melhor a energia é queimada.

A questão nem sempre é simples, já que o emagrecimento envolve mudança de hábitos alimentares, adaptações a alimentos nem sempre apreciados, como as verduras e legumes, além dos fatores genéticos ou hormonais, que algumas vezes acompanham a dificuldade de emagrecer. Mas, principalmente, o que interfere na perda adequada de peso é a pressa. De acordo com os especialistas, dietas rápidas e eficientes não existem. “Sucesso no emagrecimento significa perder de 500g a um quilo por semana”, define a nutricionista.

Não pode

As restrições se concentram principalmente no consumo de carboidratos. Energéticos, eles são quase sempre culpados pelo fracasso do emagrecimento. Não é bem assim. Em quantidades exageradas, estes elementos – contidos em massas, principalmente – realmente engordam, mas as dietas que adotam grande quantidade de proteínas e gorduras – provenientes de carne, ovos, leite e seus derivados – e os cortam estão longe de ser duradouras e eficientes. Isso porque implicam em perda de água e, se prolongadas, massa magra, dando impressão de que as gorduras extras estão sendo reduzidas.

É o caso da dieta de Atkins, bastante difundida e polêmica. “Para cada grama de carboidratos de reserva – glicogênio – há três gramas de água. Com dietas rigorosas, o organismo busca energia nessas reservas, que são rapidamente perdidas. Se a dieta é prolongada, os músculos serão os próximos”, explica Maria Emília, lembrando que os resultados rápidos não compensam pela impossibilidade de manutenção prolongada e ingestão de muita gordura saturada – aquela que aumenta o colesterol.

Outra dieta bastante difundida é a de South Beach, lançada em livro nos EUA e que vem fazendo a cabeça também dos brasileiros. É uma adaptação da de Atkins, diferindo por investir nas gorduras boas – ou poliinsaturadas, como as que existem no azeite e peixes -, mas mantendo a restrição aos carboidratos por certo tempo para inibir a liberação da insulina – responsável por baixar as taxas de glicemia e, assim, dar sensação de fome mais rápido. O fato é que, entre restrições e adaptações, a grande dificuldade em dietas como essas é tentar fazer o organismo funcionar sob regras diferentes daquelas já estabelecidas pela natureza. “Ninguém consegue mantê-las por muito tempo e nem fugir do que gosta, por isso, o ideal é restringir as quantidades e investir na qualidade dos alimentos, para emagrecer com saúde e satisfação”, acredita a nutricionista.

HC tem ambulatório especializado em obesidade

Há cerca de dez anos, o Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC/UFPR) abriga um ambulatório especializado em obesidade, que associa atendimento a estudos clínicos sobre o assunto. Nele, endocrinologistas e nutricionistas trabalham em conjunto basicamente através de reeducação alimentar, exercícios e remédios para emagrecer. E os exemplos de sucesso se refletem no caso de pacientes como Carlos Vernizze, auxiliar de faturamento, que está na metade do tratamento e já perdeu 23 quilos. “Não é fácil, ainda mais porque tenho propensão genética à obesidade e é preciso mudar hábitos de uma vida toda. Mas hoje como corretamente e sei que estou no caminho certo”, comemora, mesmo faltando ainda 50kg para alcançar sua meta.

Já a zeladora Mariza de Miranda, também em tratamento no HC, teve de apelar para a cirurgia bariátrica, mais conhecida como redução do estômago. O tratamento convencional foi feito durante anos e não surtiu os efeitos necessários, já que ela sofre de obesidade mórbida e teve hipertensão e dores nas articulações. “Antes de chegar aqui eu já tinha tentado de tudo. Fiz a dieta da lua – que consiste em tomar somente líquidos nos dias em que há mudança da fase da lua – e uma em que só podia comer melancia o dia inteiro”, lembra, dizendo que não agüentou praticá-las por muito tempo e que “recuperava o peso perdido até em dobro”. Hoje ela vive dias melhores. “Enxergo um novo horizonte. Mas percebo que, como eu, as pessoas só procuram tratamento depois que percebem que o problema é grave. Isso não é bom”, alerta.

Pesquisas

O endocrinologista Henrique Suplicy, responsável pelo ambulatório, diz que uma das vertentes importantes da clínica é a pesquisa em torno de novos medicamentos e auxílios na perda de peso. Ele conta que o HC está participando de pesquisa mundial sobre os efeitos de um novo medicamento para obesidade, em fase de testes. “Estamos convocando voluntários de ambos os sexos, com mais de 55 anos e que apresentem problemas cardiovasculares em face da obesidade para participar do tratamento. Toda a assistência é gratuita”, destaca. (LM)

Serviço: Informações sobre o tratamento voluntário e o ambulatório de obesidade do HC podem ser obtidas pelo telefone (41) 9602.3344 – somente pela manhã.

Gorduras trans em evidência

Os comerciais de margarinas anunciam: “Agora sem gordura trans”. Mas, afinal, o que isso significa? Elemento nocivo, esse tipo de gordura não é encontrado apenas nas margarinas, mas em todos os alimentos que contenham gordura hidrogenada, e se diferencia por ser ainda mais prejudicial que as gorduras saturadas, aquelas que aumentam o colesterol. Quem explica é o nutrólogo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto, José Ernesto dos Santos: “Enquanto as gorduras saturadas aumentam o colesterol interferindo muito pouco no HDL – o chamada bom colesterol -, as gorduras trans, além de aumentarem o colesterol ruim, ainda abaixam as taxas de HDL”.

Segundo ele, para quem tem colesterol alto não basta trocar a manteiga pela margarina: é preciso verificar se esta possui gordura trans e se é rica em gorduras poliinsaturadas, aquelas que reduzem o mau colesterol. Caso contrário, a opção pode não fazer diferença. Quanto à especificação da presença da gordura trans no alimento, o médico opina que os rótulos deveriam trazer a informação: “As indústrias de margarina já deram esse passo, mas o mesmo deveria ser feito com todos os alimentos industrializados que possuem gordura hidrogenada, como as bolachas, por exemplo”.

O alto consumo de alimentos gordurosos e calóricos, aliás, é apontado pelo médico como uma das principais contribuições para o aumento de peso do brasileiro. Além disso, as doenças cardiovasculares se tornaram, em pouco tempo, uma das causas mais importantes de mortes no País, resultado dos maus hábitos alimentares e do excesso de peso. “Apesar das dietas da moda, a obesidade continua aumentando. As pessoas precisam entender que não existe milagre. É preciso comer pouco do que engorda muito e muito do que engorda pouco”, aconselha o nutrólogo. (LM)

Medicina ortomolecular: alternativa mais cara

Mesmo considerada alternativa, a medicina ortomolecular é cada vez mais procurada quando o assunto é emagrecimento. Nela, alguns princípios são elencados. O primeiro deles é a alimentação saudável, baseada no consumo de frutas, verduras e fibras, com baixos teores de gorduras e açúcares. Entram aí também os alimentos antioxidantes, que ajudam a combater os radicais livres, responsáveis pela oxidação sangüínea e conseqüentes prejuízos à circulação e digestão. Entre esses alimentos, estão os ricos em vitaminas B, C e E e que contenham betacaroteno e minerais, como zinco e selênio.

Outro princípio é o da dieta genética, baseada no tipo sangüíneo como determinante na assimilação de determinados alimentos. Em cada grupo, certos alimentos são recomendados e outros, restringidos. “A partir desse princípio, a medicina ortomolecular define alguns alimentos como benéficos, agindo como se fossem medicamentos; neutros, trazendo nutrientes somente; e nocivos, dificultando a digestão, absorção de nutrientes e ocasionando acúmulo de gorduras”, observa a nutricionista Renata Rothbarth. Ela trabalha com tratamentos de emagrecimento junto a médicos ortomoleculares em uma clínica de Curitiba especializada no assunto. Exemplificando: os portadores de sangue tipo A têm aparelho digestivo mais sensível, assimilando alimentos como a carne com mais dificuldade, enquanto os pertencentes ao grupo O têm mais dificuldade para se adaptar a leite e seus derivados.

O terceiro princípio consiste em fazer várias refeições ao dia, porém menores, e evitar carboidratos após as 18h. “É o horário em que o hormônio do crescimento é liberado. Como os carboidratos alteram as taxas de glicose, acabam dificultando sua liberação”, explica. Além dessas alterações alimentares, o tratamento ortomolecular complementa as necessidades de vitaminas e minerais com a suplementação dos elementos em cápsulas contendo doses maiores que as encontradas apenas nos alimentos. Principalmente por esse motivo, o tratamento implica em custos altos. (LM)

Médico deve ser consultado

Quando o assunto são os auxiliares da perda de peso – no caso, os remédios -, a endocrinologista Daniele Zanineli tem opinião firme: “Sou a favor. Hoje não há mais aquele mito de que as pessoas são obesas porque querem, já que sabemos existir uma série de hormônios lutando para que o peso seja mantido, quando o que se quer ou precisa é perdê-lo”. A médica alerta, porém, para o acompanhamento profissional e lembra que o objetivo em cuidar do corpo não vale só para a estética. “Muitas doenças podem vir com o peso em excesso, como hipertensão, altas taxas de colesterol e triglicerídeos, ocasionando problemas cardíacos, além do aumento da insulina, que pode levar ao diabetes”, enumera. “Por isso, muitos pacientes estão procurando o endocrinologista não para perder, mas para manter o peso e não vir a ter esses problemas no futuro, agravados pelo ritmo de vida que se leva hoje.” (LM)

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