Medo e falta de informação dificultam prevenção do câncer

Rio de Janeiro – Mais de 90% dos brasileiros reconhecem a necessidade de detectar o câncer na sua fase inicial, para aumentar as chances de cura, mas só 16% da população sabe que os exames para diagnosticar a doença podem ser realizados nos postos de saúde da rede pública.

A constatação está entre os resultados da pesquisa Concepção dos Brasileiros sobre o Câncer, divulgada nesta quarta-feira (28) pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca). 

O estudo, que ouviu mais de 2 mil pessoas em todas as regiões metropolitanas do país, apontou que a falta de informação e o medo das pessoas são fatores que dificultam as ações de prevenção.

Para o diretor-geral do Inca, Luiz Santini, a doença ainda é vista como incurável e associada à morte quando, na verdade, pode ser tratada e curada, desde que diagnosticada precocemente.

?Como as pessoas têm medo de câncer elas procuram não tomar consciência do que é oferecido como possibilidade de prevenção. As pessoas acham que ter o câncer é uma condenação à morte, não sabem que hoje 60% dos casos da doença podem ser curados. Isso é muito negativo porque ela [a pessoa] deixa de fazer os exames preventivos e quando vai ver, a doença já está em estágio muito avançado.?

O especialista citou como exemplo a realização do exame papanicolau, oferecido na rede pública de saúde para detectar o câncer de colo de útero. Segundo ele, apenas 65% da população feminina realiza esse teste, quando o ideal seria alcançar o percentual de 80%. De acordo com Santini, a cobertura abaixo da prevista é observada em todo o país, indicando que a não-realização dos exames se deve à falta de procura e não de oferta do serviço.

Ele ressaltou a necessidade de que os municípios desenvolvam estratégias para estimular a realização de exames. ?O exame está lá disponível, mas muitas vezes é tratado meio burocraticamente. Ainda que o Ministério da Saúde tenha definido a prevenção do câncer como prioridade de política de saúde, isso ainda não foi incorporado, é um problema da cultura do sistema de saúde que vê o câncer como uma doença de alta complexidade a ser tratada em hospitais e não uma doença que, se tratada precocemente, vai evitar internações e mortes?.

A pesquisa ainda apontou que o fumo e a exposição ao sol são reconhecidos como fatores de risco pela população. Entretanto, sexo seguro e hábitos saudáveis de vida, como a alimentação adequada e a prática de esportes, ainda não são encarados como formas eficazes de prevenir a doença.

Para Santini, os dados são preocupantes. “As pessoas não fazem essa relação, não só do que pode causar o aparecimento do câncer, mas também daquele tipo de alimento que pode proteger contra a doença, como as frutas, os legumes e as verduras. Então é fundamental melhorar a informação a respeito disso e a pesquisa foi exatamente para detectar essas lacunas no conhecimento da população?, informou.

De acordo com o diretor do Inca, a pesquisa vai permitir a orientação de novas estratégias de comunicação do governo junto à população para ampliar a prevenção da doença no país. Ele cita a campanha de combate ao tabagismo que não terá alterações substanciais já que mais de 95% das pessoas ouvidas no levantamento sabem que cigarro está associado ao câncer e que a solução é deixar de fumar. Entretanto, haverá mudanças de foco para atingir segmentos mais suscetíveis como os adolescentes.

?O início do hábito de fumar se dá na adolescência e às vezes na infância então nós temos que focar a informação nesse grupo. Deixar de fumar é muito difícil, então, não começar a fumar é fundamental?.

A pesquisa Concepção dos Brasileiros sobre o Câncer foi apresentada durante o 2º Congresso Internacional de Câncer que termina hoje (28), no Rio de Janeiro, com a assinatura de um acordo de cooperação entre os 42 países participantes para promover a prevenção e o controle da doença.

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