O preenchimento de lábios pode causar nódulos, reações alérgicas e até necrose de tecidos, alerta o Coordenador da Câmara de Procedimentos em Estética do Conselho Federal de Medicina (CFM), Antônio Gonçalves Pinheiro. "As pessoas precisam ser avisadas do que pode acontecer para poder escolher se querem ou não fazer a aplicação", afirma. Ele explica que são poucos os casos de problemas graves relatados no País decorrentes do procedimento. Porém, já foram apresentados em congressos médicos complicações principalmente por falha na aplicação. "Não se deve fazer preenchimento de lábios em clínicas estéticas, apenas em consultórios médicos", completa o coordenador do departamento de Cosmeatria da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Jayme de Oliveira Filho.
Segundo seus estudos, 100% dos especialistas brasileiros que fazem preenchimento usam o ácido hialurônico para dar mais volume aos lábios das pacientes. E 18% aplicam o produto poli metil metacrilato, que é definitivo. Oliveira Filho não recomenda a segunda opção. "É um absurdo. Com a maturidade, há mudanças nas linhas labiais e o produto aplicado pode causar deformidades", explica. Além disso, segundo ele, a rejeição ao produto pode ocorrer depois de quatro ou cinco anos. "O que existe hoje é uma banalização desse procedimento", alerta.
A dermatologista Denise Steiner, que faz só o preenchimento temporário, lembra também das complicações estéticas. Ela explica que há lábios em que não há espaço para colocação da substância. "Quando já foi carnudo, mas murchou, dá para fazer", diz. Mas, se é fino demais e tem um grande espaço entre o nariz e boca, acaba ficando um bico. "Não tem lábio naquele lugar, só pele."
Ela conta também que já aplicou ácido hialurônico em lábios de pacientes e não ficou satisfeita com o resultado. "Elas pedem para colocar bastante, fica exagerado. As pacientes gostam, mas eu não."
Cuidados
Os especialistas recomendam que os pacientes procurem se informar sobre a marca dos produtos que serão aplicados nos lábios. Eles só podem ser usados se tiverem registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Alguns produtos são autorizados para uso nos EUA, por exemplo, mas não aqui. Atualmente, são pelo menos dez os registrados. Para conseguir informações é preciso mandar um e-mail para ouvidoria@anvisa.gov br.
Segundo Pinheiro, o CFM está estudando emitir um parecer sobre os procedimentos chamados de bioplastia, que incluem os preenchimentos definitivos. "Mesmo quando se busca a estética, é preciso preservar a saúde", afirma Oliveira Filho.