Medicamentos: Além do necessário

O procedimento é quase sempre o mesmo. Ao sentir dor ou perceber qualquer problema de saúde, o primeiro passo é buscar o tratamento para se ver livre da sensação de desconforto. Alguns pacientes procuram um médico para receber orientações corretas sobre o remédio que devem usar. Outros tomam uma atitude precipitada e preferem se automedicar. Os perigos de ingerir um medicamento inadequadamente são muitos e vão desde reações adversas (efeitos negativos) até o agravamento do problema de saúde.

A aposentada Thereza Marly Teixeira, por exemplo, ingere um comprimido ao acordar e outro antes do almoço. Também toma outros remédios à noite, e, assim vai continuando os tratamentos que a afligem tanto. Os médicos, no entanto, alertam para o horário correto da tomada, bem como a quantidade de medicamentos ingeridos. ?É muito comum a quantidade dos remédios tomados ultrapassar a dose prescrita pelo médico e, por conta disso, podem ocasionar problemas graves de saúde?, alerta o Murilo Freitas Dias, chefe da unidade de Farmacovigilância da Anvisa.

Diversas etapas

Nas rotinas hospitalares, essa preocupação também merece cuidados. A Anvisa mantém um trabalho de detecção de erros relacionados ao uso de remédios nos centros de saúde. Freitas conta que o uso de medicamentos dentro dos hospitais envolve de 20 a 30 etapas. Passa pela prescrição, preparo e mistura, administração, aplicação, acompanhamento e monitoramento do uso. ?Um erro em qualquer etapa pode provocar riscos à saúde do paciente?, alerta. Sabe-se que entre os principais erros estão o desconhecimento sobre o produto, a desinformação dos médicos quanto à característica alérgica dos pacientes, a não checagem das doses e a falta de interação entre a equipe médica e a área de farmácia das unidades de saúde.

Uma pesquisa realizada na Universidade de São Paulo concluiu que muitas pessoas (sobretudo os idosos) tomam mais remédios do que realmente precisam. Além disso, o levantamento verificou dois graves erros: muitos tomam remédios por conta própria e outros extrapolam as doses recomendadas pelos médicos. Pior ainda nos casos em que há mais de um médico envolvido no tratamento. O resultado do levantamento pode ser considerado alarmante. Ele mostra que quase 70% dos entrevistados são adeptos da politerapia, ou seja, utilizam dois ou mais medicamentos ao mesmo tempo todos os dias. Assim como poucos que não tomam nenhum remédio, a pesquisa constatou também que muitas pessoas tomam até sete remédios ao mesmo tempo diariamente. Com relação à automedicação, mais de 50% dos pacientes assumiram que ?de vez em quando? usam remédios sem prescrição médica.

As entidades de classe da área médica reconhecem que a preocupação com a interação de medicamentos é de responsabilidade tanto do médico, que deve investigar quais os remédios que o paciente está tomando, quanto do farmacêutico, que deve passar as orientações na hora de entregar o medicamento.

De acordo com os pesquisadores, para evitar situações de risco, as opções passam pelo envolvimento familiar, principalmente no caso de pacientes idosos, e de uma maior preocupação da classe médica e farmacêutica, em passar as informações detalhadamente sobre os medicamentos que o paciente está tomando.

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