Manual médico para garantir um voo seguro

Posso viajar de avião se estou com influenza ou depois de me recuperar de um princípio de infarto do miocárdio? Com quantas semanas de gravidez não posso mais fazer viagens aéreas?

Essas dúvidas, frequentemente, passam pela cabeça das pessoas que realizam procedimentos cirúrgicos, estão em tratamento de doenças graves ou sentem sintomas que podem se complicar durante um vôo.

Essas e outras perguntas são respondidas no manual Doutor, Posso Viajar de Avião?, elaborado pela professora Vânia Elizabeth Ramos Melhado e pelos alunos integrantes da Liga de Medicina Aeroespacial da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, com o apoio do Conselho Federal de Medicina (CFM).

O documento traz recomendações a médicos e pacientes sobre medidas que podem ser adotadas para garantir um voo seguro em casos em que o passageiro apresenta sintomas de alguns problemas de saúde.

A publicação foi um dos destaques de um evento, cuja proposta principal é aprofundar o debate em torno de questões importantes para a segurança de passageiros e tripulantes.

Entre os outros temas abordados no encontro, os destaques ficaram por conta do debate sobre a falta de qualificação de médicos, da fragilidade das regras para o transporte aeromédico de pacientes e a inexistência de dados estatísticos confiáveis sobre o número de emergências médicas registradas em situação de voo.

Pela internet

Cerca de 150 especialistas e interessados no assunto acompanharam as discussões, juntamente com convidados do Ministério da Saúde, da Agência Nacional da Aviação Civil (Anac) e de representantes de sociedades médicas.

“Queremos suscitar o debate para que passageiros e tripulantes brasileiros recebam a atenção e os cuidados merecidos”, declarou o conselheiro Frederico Henrique de Melo, que coordenador da Câmara Técnica do CFM que se dedica ao tema.

A entidade tem a preocupação de assegurar à sociedade acesso aos serviços qualificados. “A demanda por esse meio de transporte já se mostra importante e exige posições sérias e consequentes”, completou o especialista.

A cartilha, cuja tiragem inicial é de 5 mil exemplares, será distribuída entre entidades médicas, profissionais interessados, escolas de medicina e empresas de aviação.

Também será possível acessar o documento pela internet, no site do CFM (www.portalmedico.org.br).  “É importante mostrar, sobretudo aos médicos, o peso da orientação antes da viagem”, define o conselheiro, assegurando que é preciso que o profissional esteja ciente das recomendações que devem ser feitas a cada um dos passageiros/pacientes, segundo seu quadro clínico.

A publicação foi apresentada durante o I Fórum de Medicina Aeroespacial, palco de debaterá problemas que afetam a saúde nos voos.

Sem saber

Para Melo, ao fazer as orientações em seu consultório, o profissional cumpre com o importante papel de agente de prevenção e de educação em saúde. Entre os itens que constam da cartilha estão orientações para o transporte de gestantes, de crianças, de portadores de doenças respiratórias, cardiovasculares e de transtornos psiquiátricos.

Para os passageiros, o conselheiro do CFM acrescenta: apesar das recomendações serem simples, não pode prescindir da opinião de um médico se houver dúvidas. De acordo com o infectologista Mário Cândido, o médico tem papel fundamental nesse tipo de prevenção e educação em saúde, pois conhece melhor do que ninguém o estado físico e ,psíquico de seu paciente.

“Aliás, muitas vezes as pessoas embarcam nas aeronaves sem noção de que não deveriam viajar, tendo em vista a existência de problemas que se agravam pelo vôo”, admite.

O médico lembra que, praticamente, a totalidade de problemas de saúde nos deslocamentos não é anunciada durante o embarque. Assim, a preocupação aumenta com a divulgação dos dados das companhias aéreas: um caso de morte súbita a bordo em cada grupo de 5,7 milhões de passageiros, para um total de 125 milhões de passageiros ao ano.

Algumas recomendações da cartilha

DOENÇAS RESPIRATÓRIAS

Viagens aéreas são contraindicadas para passageiros e tripulantes com infecções ativas (pneumonia e sinusite) porque estas doenças podem alterar as respostas fisiológicas humanas habituais ao voo.

Passageiros e tripulantes com infecções pulmonares contagiosas (tuberculose e pneumonia) não devem embarcar, pois pode ocorrer agravamento dos sintomas, complicações durante e depois do voo, além do risco de disseminação da doença entre os outros passageiros.

DOENÇAS CARDIOVASCULARES

Os pacientes e tripulantes acometidos de complicações cardiovasculares devem ser orientados a adiar os voos durante o período de estabilização e recuperação. De acordo com as orientações da Sociedade de Medicina Aeroespacial, o paciente deve ser avaliado por seu médico antes de embarcar, pois os mesmos podem ser ampliados ou reduzidos, de acordo com o caso:

Infarto não complicado: aguardar duas a três semanas.

Infarto complicado: aguardar seis semanas.

Angina instável: não deve voar.

Insuficiência cardíaca grave e descompensada: não deve voar.

Insuficiência cardíaca moderada, verificar com o medico se há necessidade de utilização de oxigênio durante o vôo.

Taquicardia não controlada: não voar.

Marca-passos e desfibriladores implantáveis: não há contra-indicações.

ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL (AVC)

os casos de Acidente Vascular Cerebral, deve-se levar em consideração o estado geral do passageiro e a extensão da doença. Recomenda-se observar os prazos de recuperação abaixo antes do embarque:

AVC isquêmico pequeno: aguardar 4 a 5 dias

AVC em progressão: aguardar 7 dias

AVC hemorrágico não operado: aguardar 7 dias

AVC hemorrágico operado: aguardar 14 dias

POS-OPERATÓRIO E PACIENTES EM RECUPERAÇÃO

Pós-Operatório torácico

Nos casos de retirada total ou parcial do pulmão, recomenda-se uma avaliação médica pré-voo, com determinação da normalidade da função respiratória, principalmente no que diz respeito à oxigenação arterial.

Casos de doenças pneumotórax: é uma contra-indicação absoluta. Deve-se esperar de duas a três semanas após drenagem de tórax e confirmar a remissão pelos Raios-X

Pós-Operatório neurocirúrgico

Após trauma crânio-encefálico ou qualquer procedimento neurocirúrgico, pode ocorrer aumento da pressão intracraniana durante o voo. Aguardar o tempo necessário até a confirmação da melhora do referido quadro compressivo por tomografia de crânio.

Cirurgia abdominal

Contra-indicado o voo por duas semanas, em média. Deve-se aguardar a recuperação do trânsito habitual do paciente.

Gesso e fraturas

Fraturas instáveis ou não tratadas são contra-indicadas para voo. Importante: considerando que uma pequena quantidade de ar poderá ficar retida no gesso, correndo o risco de compressão do membro afetado por expansão normal do ar na cabine durante o voo.

TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS

Pessoas com transtornos psiquiátricos cujo comportamento seja imprevisível, agressivo ou não seguro, não devem voar. Já aqueles com distúrbios psicóticos estáveis, em uso regular de medicamentos, podem viajar acompanhados.

,GESTANTES

Recomenda-se que os voos sejam precedidos de uma consulta ao médico.  De forma geral as seguintes medidas devem ser observadas:

As mulheres que apresentarem dores ou sangramento antes do embarque, não devem fazê-lo.

Evitar viagens longas, principalmente em casos de atividade uterina aumentada ou partos anteriores prematuros.

CRIANÇAS

No caso de recém-nascido, é prudente que se espere pelo menos uma ou duas semanas de vida até a viagem. Isso ajuda a determinar, com maior certeza, a ausência de doenças, congênitas ou não, que possam prejudicar a criança no voo.

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