Loja de brinquedos é lugar de diversão e limites

Se negociar com as crianças já é uma tarefa difícil quando o assunto é o que vão ganhar de presente no Dia das Crianças, imagine só quando essa discussão acontece no meio de uma loja de brinquedos. É comum presenciar pais envergonhados de um lado, filhos fazendo birra do outro. “Se os pais cederem ao drama da criança, ela vai perceber que pode ganhar no grito e daí haja esforço para educá-la”, explica a psicanalista Norma Luttenberg.

Mas será que tem com estabelecer uma negociação em campo minado? “O problema não é com o brinquedo em si, mas com a dificuldade que ela tem em aceitar os limites que os pais lhes dão. Cabe a eles explicar o que ela pode ou não de forma firme, pois assim, ela percebe até onde pode ir”, continua ela.

De acordo com Norma Luttenberg, a busca pelos presentes faz parte do universo lúdico da criança nesta fase. “Elas são movidas pela necessidade de realizar seus desejos”, explica ela. Mas, os pais devem prestar atenção se essa busca é de fato a realização de um sonho ou uma forma de chamar atenção. “Às vezes, a criança está querendo mostrar que os pais não estão presentes tanto quanto ela precisa ou que tem algum problema na escola, por exemplo”, continua ela.

Tente o acordo

Muitos pais, seja pela condição financeira, seja na tentativa de impor limites aos desejos dos filhos, acabam repreendendo os pimpolhos com broncas e não explicam o motivo da recusa em dar o presente. “Essa atitude faz com que as crianças associem o espaço lúdico da brincadeira à punição e isso pode trazer traumas futuros”, explica a psicanalista. “O ideal é combinar com a criança o que ela vai ganhar antes mesmo de sair de casa e explicar porque não dá para ganhar mais do que o acordado, assim elas não ficam tristes e aprendem desde cedo que não podem ter tudo o que querem”, acrescenta Norma.

A melhor saída para driblar o mal estar na loja de brinquedos é negociar. “Se o seufilho quer levar três presentes, explique a ele que só pode pagar por um ou que ele já tem outros brinquedos legais”, sugere a especialista. “Crianças compram por brincadeira e, muitas vezes, esquecem dos brinquedos que têm. Quem sabe lembrando-as disso, elas não fiquem satisfeitas em brincar com aquilo que já está em casa”, explica Norma.

Querida, segure as crianças!

Um erro muito comum dos pais é arrastar as crianças para o lado contrário da loja de brinquedos para que elas não tenham tempo de pedir nada. Muitas vezes, as crianças sabem que não foram ali para comprar e só querem ver os brinquedos ou ter o prazer de tocar no robô ou na boneca da última geração. Para a psicanalista Norma Luttenberg, deixar a criança saborear este momento é fundamental até para que elas trabalhem o senso de responsabilidade e sua capacidade de lidar com os limites. “Ela mesma vai ter que se policiar para não pedir nada, porque sabe que não pode comprar nada naquele momento”, explica ela. “Além disso, assim ela não sairá do passeio achando que sonhar com os brinquedos é errado”, continua.

Outra dica importante é nunca repreender os pequenos com violência física. “O tapinha aparentemente inocente pode gerar comportamentos violentos na criança no futuro”, diz Norma.

Birras x Mico

Para Norma Luttenberg, os pais não devem ceder à birra da criança só para não pagar o mico de ter todo mundo olhando e comentando na loja. “Uma hora a criança percebe que você não deu bola e cansa. Se ceder hoje, terá que redobrar os esforços para educar amanhã”, afirma a psicanalista.

Preste atenção no que a birra quer dizer

Nem sempre a birra é sinônimo de rebeldia. “Criança não sabe falar o que sente, por isso expressa o que sente chamando a atenção”, explica a psicanalista. “Os pais devem tentar observar se ela não quer chamar a atenção para algum problema que vem enfrentando”, diz ela.

Reeducar sempre

Norma explica que a educação com limite,s deve ser um projeto contínuo, cheio de cuidados e amor. “Não adianta nada negar a boneca ou o carrinho e no dia seguinte comprar dois por se sentir culpado. Os pais têm que manter o projeto que começaram”, aconselha a psicanalista.

Os filhos são espelhos dos pais

Uma boa dica para tentar entender as birras das crianças é os pais olharem para o seu próprio comportamento. Aspectos como a maneira com que eles lidam com as negativas da vida e compulsões na hora das compras podem explicar a reação da criança na loja de brinquedo, “O presente tem que ser algo que traga prazer por si só e não porque satisfaz ao consumismo ou causa a sensação de que podemos tudo o queremos. Se a criança sente isso nos pais, faz igual”, explica a psicanalista.

Não se sinta culpado

Os pais acabam fazendo os gostos dos filhos para não se sentiram culpados pela ausência. “É uma forma de compensação: dou o brinquedo para substituir a minha presença”, diz a psicanalista. “Os pais não podem entrar neste jogo, isso não ameniza a carência dos filhos e só agrava mais a situação, porque além de continuar carente, ele se tornará uma criança mimada”, finaliza.