Lei dá nova vida às pesquisas com células-tronco

Um dos maiores incentivadores da pesquisa com células-tronco para fins terapêuticos morreu nesta semana nos Estados Unidos. O ator Christopher Reeve, 52 anos de idade, que interpretou no cinema o papel do Super-Homem, o herói das histórias em quadrinhos, morreu em conseqüência de um ataque cardíaco (ver quadro). Reeve tornou-se um dos principais adversários do presidente George W. Bush, que se declarou contrário à pesquisa com células-tronco com embriões humanos. No Brasil, o Senado Federal aprovou, recentemente, um substitutivo de lei que autoriza a pesquisa com fins terapêuticos das células-tronco obtidas de embriões humanos que estiverem congelados há mais de três anos. Para tanto, é necessário que os genitores dos embriões, seu vínculo parental, seja reconhecido. Existem cerca de 20 mil embriões nos laboratórios brasileiros que atendem a essas exigências, o que vai assegurar material para pesquisas pelos próximos cinco anos.

Curar doenças que ainda desafiam os tratamentos com drogas e regenerar partes debilitadas do corpo. Este é o objetivo da ciência com a utilização das células-tronco, também chamadas de células da esperança, um tronco comum do qual se originam outras células. Os experimentos nos seres humanos começaram na década de 1980 e estão caminhando rapidamente. Eles hoje vão da restauração de parte da sensibilidade de membros paralisados, no caso de paraplégicos e tetraplégicos, à recuperação da área cardíaca lesada em pacientes que tiveram infartos ou doença de Chagas. Diabetes, doenças degenerativas da visão, regeneração da pele nos casos de queimaduras ou perdas de tecido e até o aumento do volume das mamas entram no rol de pesquisas desenvolvidas em nível mundial.

Pesquisas polêmicas

Ana Lecticia Mansur, bióloga do Embryo Centro de Reprodução Humana, explica que as células-tronco podem ser divididas em três grupos principais. O primeiro e mais conhecido provém da medula óssea. Essas células têm a capacidade de se diferenciar em algumas células do organismo e, por isso, são chamadas de multipotentes. O segundo tipo vem do cordão umbilical. Muitos casais já se preocupam em armazenar as células de seus filhos para, no futuro, eventualmente usufruir desse recurso, caso haja a necessidade de auto transplante, neste caso sem risco de rejeição. O terceiro e último tipo são as células-tronco embrionárias (TE), tão versáteis que recebem o título de pluripotentes. “Elas podem, em teoria, se diferenciar em qualquer tipo de tecido do organismo”, observa a especialista.

Conforme a bióloga, que tem especialização na França, as células TE vêm de uma região do embrião jovem (o pré-embrião, com apenas algumas células) e retêm um potencial para produzir qualquer célula no organismo. A maioria das linhagens desse tipo de célula existente no mundo foi derivada de embriões criados por fertilização in vitro, que estão congelados nos laboratórios e que, pelo desejo dos pais, não serão transferidos.

É dessa questão que surgem polêmicas de ordem moral e religiosa. O que fazer com os embriões descartados é polêmica que pode emperrar as pesquisas. Em 2001, o presidente norte-americano George W. Bush anunciou que não financiaria mais nenhuma pesquisa com células-tronco de embriões humanos. A decisão gerou controvérsias.

Muitos cientistas acreditam que as células TE contribuirão para tratamentos mais eficazes e que o maior obstáculo à avaliação e exploração é a falta de liberdade e de financiamentos. “O que é sabido e notório é que, enquanto a destinação das células continuar a ser debatida, restrições nas pesquisas atrasarão o seu progresso”, finaliza Ana Lecticia.

Morre um verdadeiro “super-homem”

O ator norte-americano Christopher Reeve, 52 anos de idade, que interpretou o papel do Super-Homem, o herói das histórias em quadrinhos, morreu em conseqüência de um ataque cardíaco. Além de ficar marcado pelos filmes que protagonizou, Reeve, que ficou tetraplégico em 1995 ao cair de um cavalo e sofrer uma dupla fratura da vértebra cervical, também será lembrado pelas campanhas de arrecadação de verbas para as pesquisas com células-tronco, uma das esperanças de cura para os portadores de lesão na medula.

A queda não conseguiu derrubar o ator, que, mesmo sem muitos movimentos, se tornou um dos maiores ativistas e defensores das pesquisas sobre doenças que afetam o sistema nervoso central e o cérebro, fundando uma organização de apoio às vítimas de acidentes. Ele incentivava a realização de pesquisas com a transferência nuclear, a chamada clonagem terapêutica, uma prática que, segundo os cientistas, nada tem a ver com a polêmica clonagem reprodutiva. O ator se posicionou, inclusive, contra o presidente George W. Bush, que declarou no Congresso americano ser totalmente contra qualquer tipo de clonagem humana.

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