Homens têm medo de ir ao médico

Um recente levantamento feito com o apoio de diversas especialidades médicas, antropólogos, psicólogos, membros das entidades governamentais voltadas à saúde da população, onde foram ouvidos cerca de 250 especialistas, mostrou que os homens não costumam freqüentar os consultórios por conta de três barreiras principais: cultural, institucionais e médicas. A pesquisa servirá como subsídio para a política de atenção à saúde do homem.

O psicanalista Sócrates Nolasco lembra que uma das causas culturais de o homem fugir dos consultórios médicos é porque há uma imagem consolidada de que homem tem que agüentar qualquer tranco. Desde criança, ele aprende que homem não adoece, assim, cuidar da saúde significa admitir fragilidade. ?Adoecer está associado à idéia de fragilidade que é incompatível com a imagem de ser forte, poderoso e vencedor predominante na nossa sociedade e disseminada especialmente entre os mais velhos?, enfatiza o terapeuta.

Dados do Datasus apontam que, para cada oito consultas ginecológicas no SUS, acontece apenas uma urológica. ?Não adianta criarmos a política se o homem não for aos consultórios, isso acarretará em mais custos para o SUS?, alerta o coordenador da área técnica de saúde do homem do Ministério da Saúde, Ricardo Cavalcanti. Conforme o especialista, é fato que os homens buscam os hospitais quando já têm que se internar, isso gera custos para o sistema, custos psicológicos para ele e sua família.

Desafio

Dentre as barreiras institucionais, o levantamento mostrou que os homens não são ouvidos nos consultórios, por isso freqüentam pouco esses locais. O fato de grande parte dos serviços serem formados por profissionais mulheres, também impede que eles encontrem espaço adequado para falar, por exemplo, sobre sua vida sexual ou relatar uma impotência. De maneira geral faltam estratégias para sensibilizar e atrair os homens aos ambulatórios.

Sobre as barreiras médicas, Cavalcanti enumera a falta de postura adequada dos profissionais de saúde e as consultas com duração muito curta. ?Os médicos precisam dar mais atenção nas consultas para estabelecer uma relação médico-paciente mais humanizada?, alerta o coordenador.

Como enfrentar esses aspectos para provocar a mudança de comportamento é o grande desafio da política de saúde do homem. Para Sócrates Nolasco, a mudança de hábitos decorre muitas vezes da vivência de uma situação limite. O homem chega a adoecer ou quase faz um quadro grave, escapa por pouco de um infarto, acompanha de perto a morte de um amigo ou parente, aí toma um grande susto e começa a mudar de hábitos. ?O caminho poderia ser outro: conscientizar-se do dado factual de que é possível viver muitos anos a mais se cuidar da saúde?, avalia o psicanalista, mostrando que este poderia ser o caminho para estender sua expectativa de vida, por exemplo.

O papel da mulher

Outra frente de ação podem ser as campanhas publicitárias voltadas para a mulher, pois elas têm um papel fundamental de convencimento. A mulher é a maior cuidadora da saúde do homem, é ela que leva ele ao consultório, compra e oferece remédios. ?É estranho, mas para que o programa seja mais efetivo, ele precisa abordar a mulher?, esclarece Ricardo Cavalcanti.

O terapeuta também acredita que a mulher pode ajudar nesse processo. Seja mostrando que realmente gosta do parceiro e deseja ficar ao lado dele o maior tempo possível e demonstrando sua preocupação com a saúde do homem sem parecer cobrança, acusação ou desqualificação. ?De modo leve e sutil para que as conversas sobre cuidados de saúde não prejudiquem a relação?, frisa, salientando que, se o homem entender as observações femininas como desqualificação, poderá crescer a tensão entre os dois.

Dentre as doenças que mais matam o homem, até os 40 anos, estão as causas externas (violência e agressões), depois dos 40 anos, em primeiro lugar estão as doenças do coração e as neoplasias em segundo, principalmente do aparelho respiratório e da próstata. Por isso a importância de criar uma área específica para a saúde do homem.

Uma das soluções apontadas para facilitar o atendimento ao público masculino é a criação de centros de check-up para homens, com um custo mínimo, pois eles teriam apenas uma esteira, um aparelho de eletrocardiograma, um cardiologista e um urologista. ?Com esses centros cerca de 80% das cardiopatias podem ser prevenidas?, garante Cavalcanti. O coordenador acredita que, nesses locais também será possível fazer a prevenção do câncer de próstata, da mesma forma que a mulher faz o exame preventivo de câncer do colo uterino.

Prevenção sem dor

>> Infartos e derrames

Fatores de risco são identificados pela pressão arterial (uma vez por ano), pelo perfil lipídico (anual, dosar o colesterol no sangue e triglicérides) e pela glicemia de jejum (anual, mede a taxa de açúcar para pesquisa de diabetes).

A eletrocardiografia de esforço verifica a presença de obstruções nas artérias (anual, a partir dos 35 anos de idade).

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O toque retal (apalpação do órgão no exame clínico) e a dosagem da enzima PSA no sangue, anualmente a partir dos 40 anos de idade, ajudam a detectar a doença ainda no início.

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O diagnóstico do distúrbio androgênico do envelhecimento masculino prevê a dosagem de testosterona. A doença, caracterizada pela queda brusca na produção do hormônio, leva ao cansaço físico, à irritabilidade e à perda do desejo sexual.

>>   Câncer de pele

Se ele tiver pele clara e pintas, deve consultar o dermatologista. Caso as pintas se modifiquem ou apareçam feridas que demoram a cicatrizar, o controle deve ser mais rigoroso.

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A partir dos 40 anos de idade, deve-se controlar a pressão intra-ocular, que, elevada, pode significar a presença da doença e ainda levar à cegueira.

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