Hipertensão exige atenção redobrada

Além de procurar conhecer seus índices de pressão arterial e não deixar de seguir a indicação médica para a continuidade do tratamento, os pacientes que sofrem de hipertensão devem ficar atentos ao controle da pressão arterial, especialmente nas primeiras horas do dia, já que a incidência do infarto do miocárdio pela manhã é três vezes superior que o período noturno.

É o que sinalizam os mais recentes estudos científicos mundiais, que chegaram à conclusão de que o pico de incidência de eventos cardiovasculares está associado à elevação da pressão arterial que ocorre ao despertar e ao iniciar as atividades do dia.

Comparações estatísticas da ocorrência de acidentes cardiovasculares no período matutino apontaram a elevação gradativa da pressão arterial como fator decisivo na freqüência de tais acidentes.

Os médicos alertam que as chances de sofrer um derrame ou ataque cardíaco são maiores ainda para os hipertensos. A Sociedade Brasileira de Hipertensão estima que 26 milhões de brasileiros são hipertensos e somente cerca de 2,7 milhões estão em tratamento.

Conhecido no universo médico por “elevação matinal da pressão arterial”, o infarto pela manhã pode ser fatal para a pessoa hipertensa. Cerca de 85% das vítimas de derrame sofrem de pressão alta e, ainda, entre as vítimas de infarto do miocárdio, de 40% a 60% têm hipertensão associada.

Outros distúrbios mais freqüentes relacionados a pacientes hipertensos são a isquemia miocárdica e a morte súbita de origem cardiovascular, que tem vitimado um número cada vez maior de pessoas com perfis diversos – inclusive jovens e atletas.

Relógio biológico

“Quando você acorda, o corpo já começa a produzir hormônios para prepará-lo para o dia e isso causa uma grande elevação na pressão”, comenta Wille Oigman. Assim, pessoas com hipertensão, que já possuem um grande risco de ataque cardíaco ou infarto, ficam ainda mais vulneráveis nesse período do dia.

Muitas pessoas tomam os medicamentos pela manhã, mas no dia seguinte, antes de tomar a próxima dose e no momento em que a pressão está se elevando, os efeitos do remédio estão reduzidos.

Segundo Oigman, o ritmo natural do corpo favorece o aumento da pressão arterial pela manhã e mais da metade dos pacientes que, aparentemente, têm a pressão alta controlada, não têm conhecimento dos riscos que sofrem pela manhã e que, na verdade, nesse período estão desprotegidos.

A elevação da pressão arterial é causada pelo relógio biológico, conhecido por ritmos circadianos, que impõe os níveis de hormônio e de temperatura do corpo, tolerância à dor e aumento e diminuição do ritmo cardíaco.

Para a maioria das pessoas, esse ritmo corporal é inofensivo, entretanto, para o quase um bilhão de pessoas (um quarto da população adulta do mundo) que sofrem com hipertensão, uma elevação da pressão pode significar uma carga demasiada para as já sensíveis veias do coração. O resultado pode ser um infarto do miocárdio (IAM).

Estudos também evidenciam que a morbidade e mortalidade por doença cardíaca isquêmica são muito mais elevadas entre 8h e 12h. Para o cardiologista Otávio Rizzi Coelho, da Unicamp (São Paulo), tratar a hipertensão pode reduzir em 40% as chances de morte por derrame cerebral e em 20% por infarto do miocárdio.

“O medicamento ideal da hipertensão é o que permite o controle da pressão ao longo de 24 horas, protegendo o paciente durante todo o dia, inclusive nas primeiras horas da manhã”, avalia o especialista, ressaltando ainda que um dos principais benefícios do tratamento é o de evitar a ocorrência do derrame cerebral.

Proteção cardiovascular

De acordo com o cardiologista, a incidência do infarto pela manhã, com pico em torno das 9 horas, é três vezes superior, à incidência no período noturno. Estudos sobre a ocorrência de morte súbita revelam a incidência crescente deste evento após as 3 horas da manhã, com pico às 9 horas, decrescendo depois das 15 horas.

Conhecida como “doença silenciosa”, por não apresentar sintomas evidentes, o desconhecimento da condição clínica é um dos principais agravantes que impedem o tratamento adequado. “Pior são os que sabem ser hipertensos e não iniciam ou abandonam o tratamento antes do período indicado”, alerta Rizzi.

Recentemente, foram divulgados os resultados de um grande estudo para avaliar a prevenção do AVC e do infarto. O estudo que avaliou dados de proteção cardiovascular, denominado Ontarget, contou com mais de 31 mil pacientes em mais de 40 países, distribuídos em 700 centros de pesquisa em todo o mundo, durante um período de observação de mais de cinco anos.

No Brasil, foram envolvidos mais de mil pacientes, distribuídos em 26 centros de pesquisas. O estudo avaliou a eficácia do anti-hipertensivo telmisartana, isoladamente e em combinação com ramipril, em reduzir o risco de AVC, infarto do miocárdio e morte cardiovascular em pacientes do mundo inteiro.

Os resultados, quando correlacionados a estudos anteriores com o mesmo tipo de população mostram que o medicamento pode prevenir um em cada cinco eventos cardiovasculares sérios.

A hipertensão em números

Caracterizada pela elevação da pressão do sangue nas artérias, a doença atinge
600 milhões de pessoas no mundo inteiro. Uma pessoa é considerada hipertensa quando possui pressão arterial igual ou maior que 14 por 9 com certa freqüência.

A doença ocorre devido à contração dos vasos sanguíneos arteriais, por onde o sangue circula. Em alguns pacientes as causas da hipertensão permanecem desconhecidas e somente em 5% dos casos é possível a identificação definitiva do agente causador: alterações ou obstruções das artérias renais. O problema se manifesta geralmente a partir dos 30 anos e atinge tanto homens quanto mulheres.

Dados sobre mortalidade do Ministério da Saúde (2004) registram 265 mil mortes por doenças do aparelho circulatório, o que representa 30% das causas de morte dos brasileiros.

Metade delas está relacionada à hipertensão não-controlada. Relatório anual da OMS aponta a hipertensão como o terceiro principal fator de risco associado à mortalidade mundial, perdendo apenas para sexo sem proteção e desnutrição. A hipertensão está presente em 5% dos 70 milhões de crianças e adolescentes no Brasil: são 3,5 milhões de crianças e adolescentes que precisam de tratamento.

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