Hipertensão arterial é uma vilã subestimada

O dia 26 de abril é lembrado por ser a data nacional de combate à hipertensão arterial, distúrbio que faz parte da chamada síndrome metabólica e que ajuda a aumentar, significativamente, os riscos de derrames e acidentes vasculares cerebrais (AVCs), doenças com alta taxa de mortalidade no Brasil.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia e a Sociedade Brasileira de Hipertensão, a conhecida “pressão alta”, atinge mais de 50% dos brasileiros idosos e começa a causar preocupação entre os mais jovens também.

As entidades apontam que cerca de 40 milhões de brasileiros sofrem dessa enfermidade, uma das principais causas de mortalidade no mundo. A hipertensão arterial é uma das maiores vilãs da saúde pública, pois potencializa doenças graves.

Outro levantamento dessas entidades atesta que metade das pessoas hipertensas desiste ao fim do primeiro ano de tratamento ou desconhecem ser portadores da doença.

Cerca de 20% de todos pacientes internados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) apresentam hipertensão como causa direta ou indireta de internação, sendo que 170 mil mortes por ano estão relacionadas à pressão alta.

Rotina rígida

De acordo com o cardiologista do Curitiba Santa Casa/Dasa, Eduardo Tassi, o coração bombeia o sangue por meio das artérias, que levam o sangue oxigenado a todas as células do organismo.

A força exercida pelo coração ao se contrair (sístole) e ao se relaxar (diástole) impulsiona o sangue, gerando uma pressão na parede das artérias que pode ser aferida por meio de aparelhos de pressão.

“Por consenso, quando a pressão arterial está acima de 140×90 mmHg em mais de duas aferições espaçadas por uma semana é feito o diagnóstico de hipertensão arterial”, explica o médico.

A partir desse momento, o paciente necessitará de tratamento, seja medicamentoso ou não. “O que faz da hipertensão tão perigosa é que ela é assintomática, assim, quando o portador percebe, pode fica surpreso ao saber que poderia estar convivendo com o distúrbio há anos”, esclarece o especialista.

Com efeito, o fato de produzir sintomas, na maioria das vezes, imperceptíveis, faz com que o paciente já em tratamento não cumpra à recomendação médica, por achar que já está curado.

“Uma das causas do abandono do tratamento é a necessidade de cumprir uma rotina rígida que inclui a ingestão de medicamentos específicos e uma mudança muitas vezes radical no estilo de vida”, observa o cardiologista Marcos Augusto Alves Pereira, do Hospital Pilar.

Degeneração vascular

Causada muitas vezes por fator hereditário, a doença pode também ser fruto de hábitos pouco saudáveis ou de uma má qualidade de vida. É o que esclarece o cardiologista Everton Dombeck, do Hospital Cardiológico Costantini.

Segundo o especialista, o paciente que inicia a prática de exercícios físicos e faz uma reeducação alimentar pode melhorar sua condição clínica e ajudar muito no tratamento.

“Para alguns hipertensos leves essas medidas podem ser suficientes para o controle adequado da pressão arterial, dispensando inclusive o uso de medicamentos”, ressalta.

A hipertensão arterial é uma doença crônica degenerativa. Ela afeta, principalmente, órgãos importantes e vitais, como coração, rins e cérebro. Ao comprometê-los, facilita o surgimento de doenças mais graves, como o acidente vascular cerebral (AVC ou derrame), o infarto do miocárdio e a insuficiência cardíaca e renal.

“Isso porque a hipertensão provoca uma degeneração vascular e, esse quadro, causa pequenas lesões e traumas nas paredes dos vasos, que podem favorecer o acúmulo de gorduras ou processos inflamató,rios, deflagrando a doença aterosclerótica”, alerta Dombeck.

Para se ter uma idéia da importância de se controlar a hipertensão, estima-se que um homem de 35 anos, com pressão arterial de 150/100 mmHg que não tenha a doença tratada, tem subtraído perto de 15 anos da sua expectativa de vida. A falta da cultura da prevenção é o principal motivo dos números continuarem alarmantes.

“Um simples check-up poderia salvá-lo do que, um dia, pode se transformar em um infarto agudo”, explica o cardiologista Marcos Bubna. A partir do diagnóstico da doença, medidas simples de prevenção já conhecidas pela maioria das pessoas podem ajudar a controlar a pressão arterial. “Basta adotar uma dieta com baixos índices de gordura, rica em potássio e menos sal, além de exercícios físicos regulares, controle de peso e auxílio de medicamentos prescritos por médicos”, recomenda.

Ruim para os órgãos

Coração – A hipertrofia do ventrículo esquerdo (espessamento anormal músculo cardíaco) é uma das primeiras anormalidades cardíacas decorrentes da hipertensão arterial.

A  presença desse distúrbio em pacientes hipertensos confere um pior prognóstico, ou seja, um maior  risco de outras complicações cardiovasculares, como o infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca e derrame cerebral.

Outras complicações cardíacas advindas da hipertensão arterial são angina do peito, infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca, os distúrbios da condução elétrica do coração e as arritmias cardíacas.

Cérebro – A hipertensão pode ocasionar isquemia cerebral transitória – disfunção neurológica reversível – ou acidente vascular cerebral, disfunção mais duradoura, podendo deixar sequelas graves, com a perda progressiva das funções mentais, entre elas, a memória e a concentração.

Rins – A hipertensão arterial crônica leva a uma disfunção renal, inicialmente detectada por meio de pequenas perdas urinárias de proteínas. Com o passar do tempo, essa perda poderá tornar-se crescente, podendo ocasionar insuficiência renal crônica.

Vasos – A aterosclerose (formação de placas de gordura ou ateromas na parede das artérias) e as doenças da aorta estão diretamente relacionadas à hipertensão arterial crônica.

Olhos – A hipertensão arterial acarreta um comprometimento da retina (retinopatia hipertensiva), podendo levar à cegueira.