Diagnóstico precoce ainda é a melhor forma de retardar ação das doenças renais

Mauro Coutinho encara as sessões de hemodiálise como um trabalho sem remuneração. ?Ou melhor, o salário é pago em tempo de vida?, avalia. Casado, pai de dois filhos, ele explica que assumiu o tratamento como uma rotina que faz parte da sua vida. O pedreiro trabalha somente nos dias em que não tem esse compromisso com a vida. ?Eu tenho muita fé que algum dia tudo isso vai se resolver?, diz esperançoso.

Parece uma história simples e comum. E é mesmo. Todos os dias, pacientes que sofrem de doenças renais têm muitas outras para contar. Pensando nelas e nas pessoas que não se preocupam com a ?saúde renal?, é comemorado no dia 13 de março, o Dia Mundial do Rim, data que figura como uma oportunidade de alerta sobre os perigos e o alcance das complicações renais, que atingem hoje milhões de brasileiros.

Segundo dados da Sociedade Brasileira de Nefrologia, mais de 70% das pessoas que sofrem com problemas renais não sabem que estão doentes e, portanto, não buscam tratamento. A mais grave delas é a doença renal crônica (DRC), mal que afeta atualmente cerca de dois milhões de pessoas no Brasil e, quase 500 milhões, em todo mundo. A DRC é caracterizada pela perda progressiva e irreversível das funções dos rins, uma espécie de filtro do nosso organismo, e tem como principais causas o agravo de quadros de diabetes e hipertensão.

Uma gota de sangue

Segundo os especialistas, a melhor forma de retardar a ação das doenças renais, evitando o surgimento da anemia ou mesmo sua evolução, é o diagnóstico precoce. Basta uma amostra de sangue, obtida com uma picada no dedo para se medir os níveis de creatinina. ?Quando os níveis dessa substância estão elevados é um sinal laboratorial do problema instalado?, resume o nefrologista Roberto Pecoits-Filho, professor ajunto do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, da PUCPR. Assim, quando alguma doença afeta a função renal isso se reflete em uma elevação da concentração de creatinina no sangue. O especialista adianta que outra forma mais precoce de detecção é a identificação de perda de proteína na urina.

Anemia, pressão alta, inchaços, fraqueza e desânimo constantes, vontade de urinar no período da noite, náuseas e vômitos freqüentes. Embora esses sintomas não sejam, necessariamente, conseqüências da DRC, eles costumam aparecer em pessoas que sofrem da doença. Em um organismo saudável todo o excesso é eliminado pelos rins, mas quando eles não funcionam, ficam retidos na circulação e se transformam em toxinas, causando alterações musculares, sangüíneas, digestivas, cardiovasculares e cutâneas.

Para o aposentado José Maria Mocheski de 68 anos, as horas que passa na hemodiálise servem para reflexão. Ele aproveita para fazer suas orações e reforçar a sua espiritualidade. O lavrador procura seguir à risca, as orientações médicas. ?Afinal esse é meu compromisso para o resto vida ou até que consiga um transplante?, resigna-se. Pecoits-Filho reconhece que, depois de estabelecida, a doença renal crônica não tem cura. ?A função renal pode ser substituída por meio de um transplante renal ou com a diálise?, esclarece.

O risco da anemia

Uma das complicações mais comuns da DRC é a anemia, diminuição dos níveis de glóbulos vermelhos do sangue que leva a uma menor oxigenação do organismo. Esse distúrbio pode contribuir também para o surgimento de doenças cardiovasculares, já que o coração aumenta o ritmo de bombeamento sangüíneo na tentativa de compensar a falta de oxigênio no corpo. Estima-se que cerca de 70 mil portadores de DRC desenvolvam também a anemia renal. O nefrologista considera que, atualmente, a presença de doença renal representa um risco adicional de problemas do coração, ?semelhante ao risco aumentado, por exemplo, pelo colesterol alto ou tabagismo.?

A DRC não apresenta sintomas aparentes até que cerca de 50% da função dos rins estejam comprometidas, é importante estar alerta a certos sinais. Ardor ou dificuldade para urinar, alterações na coloração ou presença de sangue e espuma na urina, são alguns deles. Inchaço ao redor dos olhos e nas pernas, dores lombares, vômitos, náuseas, palidez e fraqueza também podem ser indicadores da doença. Ao menor sinal de alterações do organismo, um médico deve ser consultado.

?No inicio, o paciente não sente nada, e os exames preventivos (creatinina no exame de sangue e proteína na urina) são a única forma de detectar a doença?, reconhece Pecoits-Filho. Nos casos mais leves, a causa da idoença deve ser tratada, permitindo que os rins possam se recuperar por si próprios, restringindo todas as substâncias eliminadas através deles. Nos casos de insuficiência severa, o tratamento indicado é a hemodiálise, um procedimento em que uma máquina limpa e filtra o sangue, liberando o corpo dos resíduos prejudiciais à saúde, como o excesso de sal e de líquidos. Nos casos em que a lesão dos rins é gravíssima a única opção é o transplante.

O transplante prolonga a vida

rim02120308.jpgComo toda pessoa saudável tem dois rins, é possível doar um deles sem prejuízo das suas funções. Segundo os médicos, um rim realiza perfeitamente o trabalho do outro, desde que a pessoa não tenha problemas de saúde. Este tipo de doador é chamado de doador vivo relacionado, geralmente, por se um membro da família. A doação pode vir de uma pessoa que morreu recentemente. É muito importante que o sangue e tecidos do doador sejam compatíveis, para evitar a rejeição.

Para ser doadora, a pessoa deve estar em ótimas condições de saúde, pois terá que enfrentar a cirurgia, na qual um dos rins será retirado. Há uma lista de espera para receber um rim de doador cadáver. Porém, se um parente doa um rim, o transplante pode ser feito mais cedo. Uma nova vida começa após o transplante. Não é mais necessário fazer diálise e o paciente recupera suas condições de trabalho e vida social. No entanto, é preciso continuar um acompanhamento por meio de exames freqüente.

O transplante de rim não apenas aumenta a qualidade de vida dos pacientes com problemas renais, mas também lhes prolonga consideravelmente a expectativa de vida. Enquanto que nas pessoas que permanecem na lista de espera a expectativa é de dez anos, nos pacientes transplantados, ela pode ultrapassar a 20 anos.

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