Descompassos da medicina

A evolução da Medicina transcorre, certamente, de modo um tanto descompassada. Na verdade, lamentável contraste entre os grandes recursos colocados à disposição da Medicina Moderna, pela ciência e pela tecnologia e a sua destinação precípua, que é o bem-estar do ser humano, vale dizer, de toda humanidade.

Tem sido enfatizada, nesta série de temas médicos, a verdadeira absorção pela tecnologia das atenções dos profissionais da área da saúde, em cujo ápice está o médico, responsável pelo diagnóstico e pela orientação terapêutica, em detrimento do verdadeiro destinatário que é o doente.

No Brasil, País em desenvolvimento, em busca do seu verdadeiro espaço no contexto universal, todas as atividades humanas participam, com o maior empenho, dessa importante caminhada. E a Medicina tem significativa expressão de integração.

As transformações ocorridas especialmente na segunda metade do Século XX, registram marcas acentuadas. A Medicina Preventiva passou a merecer atenção dos poderes públicos. Embora em tanto tímida, de início, recebeu progressivamente, maiores iniciativas, com as campanhas de vacinação que permitiram a erradicação de doenças infecciosas, com destaque a Poliomielite, também conhecida como Paralisia Infantil, cujas seqüelas eram desastrosas.

Paralelamente ao incentivo à prevenção das doenças, foi estimulada a Medicina Curativa. Nosso País aderiu quanto possível às iniciativas mundiais, podendo-se afirmar, com segurança, que a Medicina Brasileira equipara-se às melhores do mundo. Evidentemente enfrentando a precariedade de recursos como País em desenvolvimento.

A assistência Medica Brasileira tem experimentado grandes transformações.

Apenas relembrando e, ao mesmo tempo informando às gerações de profissionais mais jovens, em meados do Século XX, a par da precariedade dos serviços médicos, a Enfermagem, cuja ação é imprescindível, apenas começava a organizar-se como profissão de nível superior.

É inconcebível, nos dias atuais, uma equipe médico-assistencial sem a presença competente e eficaz dos profissionais da Enfermagem.

Nas décadas de 1950-70, determinadas categorias profissionais organizaram os respectivos Institutos de Aposentadoria e Pensão. Bem administrados, pelos próprios assegurados, criaram entre outros benefícios, serviços de assistência à saúde. Estabeleceu-se, entre eles, uma salutar competitividade resultando, em alguns deles, primorosa assistência, até com hospitais próprios.

Os profissionais médicos por eles contratados, recebiam honorários condizentes.

Referidos Institutos passaram por intervenção do Governo Federal, o que resultou na unificação, sob a denominação de INPS (Instituto Nacional da Previdência Social). Hoje INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social). A assistência a saúde foi confiada ao INAMPS (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social), hoje SUS (Sistema Único de Saúde).

Antes da unificação dos Institutos, quem não pertencia às respectivas categorias profissionais, se não dispusesse de recursos para custear o seu tratamento, era considerado indigente, ou seja, pessoa totalmente desprovida de recursos e, como tal, era atendido pelas Instituições Filantrópicas, com ênfase as Santas Casas de Misericórdia.

Ressalte-se que a assistência aos indigentes, embora com precariedade de recursos, era muito significativa e eficiente.

Apenas em exemplo: O Hospital de Caridade da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba chegou a dispor de 200 leitos para indigentes, o equivalente aos leitos destinados aos doentes do então IAPI (Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários) e da então Companhia de Seguros Atalaia, assim como os doentes particulares, dotados de recursos que lhes permitiam pagar os serviços médico-hospitalares.

Os recursos levantados com os atendimentos remunerados, direta ou indiretamente, pelos pacientes, permitiam a sustentação dos doentes desprovidos de recursos.

É importante ressaltar que, em “troca” da assistência gratuita recebida, os doentes colaboravam para a prática do ensino médico e de enfermagem, o que será analisado com mais detalhes ma mensagem seguinte.

Ary de Crhistan

é da Academia Paranaense de Medicina.

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