Cresce alcoolismo entre as mulheres

Cândida – nome fictício – teve o primeiro contato com a bebida alcoólica aos 10 anos. ?Na minha casa tinha muita festa em família, e eles faziam a caipirinha e me davam o limão para chupar?, lembra. Hoje com 24 anos, ela está internada em uma clínica de recuperação de dependentes químicos, pois, além do álcool, também se viciou em crack depois de usar muita maconha e cocaína. A história de Cândida é parecida com a de muitos jovens, que estão consumindo bebidas alco-ólicas cada vez mais cedo. Mas a grande preocupação é que a proporção de mulheres alcoólatras está aumentando. 

Nos últimos vinte anos, a proporção era uma mulher alcoólatra para cada dez homens. Hoje a proporção é de uma para três. Nos oito Centros de Atenção Psicossocial (Caps) mantidos pela Prefeitura de Curitiba, as mulheres já figuram em 30% dos atendimentos. ?Essa realidade traz à tona uma grave situação, já que a mulher, biologicamente, é mais vulnerável ao álcool e tem problemas cada vez mais cedo?, comenta a coordenadora de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde, Cristiane Honório Venetikides. Segundo ela, além do aumento nos casos de alcoolismo feminino, as adolescentes figuram na maioria dos atendimentos.

Essa precocidade do vício também é confirmada por uma pesquisa da Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), que revela que 16% dos jovens brasileiros entre 14 e 17 anos já consumiram bebidas alcoólicas em excesso – cinco ou mais doses – durante o dia. A pesquisa também revelou que o início do consumo foi aos 13,9 anos, enquanto no passado os primeiros contatos ocorriam aos 15,3 anos.

A administradora da Clínica de Recuperação Nova Esperança, Aracelis Copedê, afirma que, como o álcool é uma droga lícita, a sociedade aceita essa situação.

Mas o que vem passando desapercebido da sociedade, ressalta Aracelis, é que a dependência do álcool leva ao consumo de outras drogas, ?que provocam outras patologias e transtornos, tornando o tratamento muito mais difícil?.

Cristiane também confirmou essa realidade nos Caps. ?Quando elas chegam nos serviços de atendimento estão envolvidas com outros tipos de drogas. O álcool é só o começo?, disse. A ausência da família é apontada pelas especialistas como um dos fatores que contribuem para toda essa situação.

Reabilitação e ressocialização

O tratamento envolvendo um grupo diferenciado de profissionais e de atividades tem sido as indicação para a recuperação do alcoolismo. Isso se justifica, dizem os especialistas, porque dificilmente o álcool é a única dependência do paciente.

Nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps), além da desintoxicação, é feito um trabalho de reabilitação e ressocialização. ?É fazer com que essas pessoas retomem suas vidas sem as drogas?, disse Cristiane Venetikides. Ela comenta que o trabalho no Caps é diferente do hospital, onde o paciente fica isolado. ?Os Caps trabalham o indivíduo na convivência da sociedade?, comentou. Esse tipo de trabalho tem uma taxa de sucesso em torno de 30%. (RO)

Ajuda da família é importante

Quando começou a beber, com 13 anos, nas festinhas de sua cidade, Manuela – nome fictício, nunca imaginou a devassa que a bebida iria causar na sua vida. Além de perder bens materiais, afirma que fez toda a família e amigos sofrerem. Além do alcoolismo, doença que resistiu em admitir, ela desenvolveu depressão e síndrome do pânico, que a levaram a tentar suicídio por diversas vezes.

Para Manuela, o melhor presente que ganhou na vida foi em 30 de abril de 2007, quando completou 48 anos e foi internada, pela filha, em uma clínica de recuperação. ?As mulheres têm vergonha de assumir a doença. Se meus pais tivessem visto isso no começo, não tinha perdido tudo, e minha vida teria sido diferente?, afirmou.

Na avaliação de Aracelis Copedê, em nome da ?modernidade? os pais acabam transferindo para a escola ou sociedade o papel de cuidar de seus filhos. ?Os pais passaram a ser amigos dos filhos, mas deixaram de ser pai e mãe?, afirmou. Segundo Cristiane Venetikides, os conflitos familiares estão sempre entre as reclamações dos jovens que acabam indo para tratamento.

O contato com outras drogas também é facilitado pelo álcool, diz Aracelis. ?Hoje a oferta de diversos tipos de droga é muito grande, e um adolescente vulnerável ao álcool se torna vulnerável também ao consumo de outros produtos?, comentou. (RO)

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