Coração: Não se assuste, é apenas um prolapso

Ao se sentirem nervosas ou estressadas, algumas pessoas podem ter dores no estômago, outras reclamam de enxaqueca e tem até aquelas que sentem cãibras, mas quando o órgão em que essas tensões se manifestam é o coração, aí, sim, os sintomas assustam de verdade. Além disso, com a crescente morte de atletas durante a prática de exercícios físicos, qualquer desconforto sentido no peito é encarado, hoje, como motivo de preocupação. Muitas vezes, esse "defeito" é causado por um distúrbio conhecido por prolapso da válvula mitral, PVM para os médicos.

Estima-se que cerca de 10% da população sofra os principais sintomas do prolapso: fadiga, palpitação e taquicardia leve. "O PVM não causa parada cardíaca, morte súbita ou infarto", tranqüiliza o cardiologista Marco Antônio Medeiros, da Clínica Costantini. Para ter essa certeza o médico recomenda que a pessoa que sofreu o desconforto – adultos e crianças – passe por exames cardiológicos para o correto diagnóstico da disfunção.

Na maioria dos casos, o PVM é benigno, ou seja, deve ser encarado apenas como uma reação do organismo a determinadas situações. O coração tem válvulas que controlam o fluxo de sangue interno e, uma delas – a válvula mitral – é composta por duas folhas, como uma porta de saloon dos filmes do velho oeste. "O prolapso acontece quando uma delas fica degenerada, sem, no entanto, interferir no seu funcionamento", diz o médico.

Vida normal

Os cardiologistas explicam que a síndrome tem uma forte tendência genética e atinge, freqüentemente, pessoas altas e magras, com maior prevalência entre as mulheres. As manifestações do prolapso são cíclicas e, apesar de a maioria dos casos não alterar a função da válvula mitral – a de fazer com que o sangue flua somente em um sentido – os médicos indicam exames periódicos para esses pacientes. "Eles não precisam restringir os hábitos de vida, inclusive devem praticar atividades físicas, pois o mais importante, nesses casos, é aprender a conviver com os sintomas", assegura Medeiros.

A principal e, muitas vezes, única queixa dos pacientes com prolapso é a fadiga, resultado de um certo desequilíbrio entre a freqüência cardíaca e a respiração. Raramente são registradas queixas de dor no peito após algum tipo de exercício, mesmo os mais "puxados". O refluxo ocasionado pelo prolapso pode ter intensidade leve ou moderada, casos investigados por um ecocardiograma, e que podem ser controlados por medicamentos vasodilatadores ou anticoagulantes. Para Medeiros, no caso de uma síndrome mais severa, uma das preocupações deve ser com alguma inflamação na válvula. "Nos casos mais graves, é indicada uma cirurgia que, realizada precocemente, evita maiores complicações", frisa.

Explicação anatômica

Localizada entre o átrio esquerdo e o ventrículo esquerdo, a válvula mitral consiste de dois folhetos que se abrem e fecham de forma coordenada para permitir que o sangue flua somente em um sentido (do átrio para o ventrículo). O ventrículo esquerdo impulsiona o sangue rico em oxigênio para as artérias, distribuindo-o para todo o corpo. Nos pacientes portadores de PVM, um ou ambos os folhetos ou os músculos são demasiadamente longos, dessa forma, o fechamento uniforme que deveria ocorrer durante a sístole não acontece, permitindo que quantidades variáveis de sangue fluam em sentido contrário para dentro do átrio esquerdo. O uso de um estetoscópio detecta um estalo característico. Existe uma associação entre o escape ou regurgitação de sangue através da válvula mitral e o som desse click.

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