Cirurgias bariátricas em franco crescimento

O número de cirurgias bariátricas, também conhecida por cirurgia da obesidade, registrou um grande crescimento na última década no Brasil.

O procedimento, indicado no tratamento da obesidade mórbida, foi realizado mais de cinco mil vezes em 1999. Dez anos depois, já no ano de 2009, foram realizadas mais de 30 mil cirurgias no país, um aumento de 500% em apenas uma década.

Esse crescimento coloca o país na segunda posição do ranking mundial de cirurgias bariátricas, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, que realiza anualmente perto de 300 mil procedimentos por ano.

“O grande crescimento nos números da cirurgia de obesidade está relacionado ao crescimento da população obesa entre os brasileiros e ao reconhecimento que é um procedimento seguro e eficaz no tratamento da doença”, destaca o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), Thomas Szego.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a obesidade já atinge mais de 400 milhões de pessoas no mundo. No Brasil, de acordo com dados do Ministério da Saúde, pelo menos 3,5 milhões de pessoas estão em estado de obesidade mórbida, ou seja, estão com pelo menos 40 quilos acima do peso corporal ideal.

A diminuição do tamanho do estômago para perda de peso é recomendada quando o índice de massa corporal (IMC) é maior que 40kg/m  em pessoas com idade superior a 18 anos, seja homem ou mulher.

Nova realidade

O procedimento pode ser recomendado, ainda, se o IMC estiver entre 35kg/m  e 40kg/m  e o paciente ser portador de diabetes, hipertensão arterial, apneia do sono, hérnia de disco ou outras doenças associadas à obesidade.

“Nos casos que o IMC do paciente fica entre 30 e 35 é preciso uma avaliação prévia e individualizada para ver se realmente a cirurgia bariátrica é recomendável”, ressalta o presidente da SBCBM. Os especialistas recomendam a cirurgia como a última opção para o paciente que já tentou, sem sucesso, reduzir peso por métodos tradicionais.

A cirurgia bariátrica, por si só, porém, não garante a redução de peso em definitivo. O paciente precisa fazer uma adaptação a sua nova realidade e contar com acompanhamento de profissionais da saúde para se adaptar a sua nova rotina.

“No geral, depois de três anos 10% dos pacientes começam a engordar novamente, por não adotar um novo estilo de vida saudável”, alerta Szego, completando que o paciente necessita de um acompanhamento contínuo porque a mudança na dieta e nos hábitos de vida, necessários após a operação, é o que garante a saúde do paciente e a o sucesso na eliminação de quilos.

Controle do diabetes

Três tipos de cirurgia usadas no combate á obesidade mórbida se mostram eficientes no controle do diabetes tipo 2 e, por isso, vem sendo chamadas de “cirurgia do diabetes”: o by-pass gastrojejunal e as derivações bilio-pancreáticas (scopinaro e “duodenal switch”).

As três técnicas criam um atalho para o alimento, que é desviado do duodeno e chega antes à parte final do intestino. Esse desvio altera a secreção de alguns hormônios intestinais, cujo aumento estimula a produção de insulina, resultando na melhora ou até mesmo no controle do diabetes tipo 2.

Os bons resultados da cirurgia para o controle do diabetes tipo 2 devem-se, basicamente, a dois fatores: a perda de peso do paciente e principalmente a alteração hormonal.

“A cirurgia do diabetes melhora a sensibilidade à insulina nos pacientes e a habilidade do corpo de aproveitar a glicose na corrente sanguínea”, explica Thomas Szego.

A sensibilidade à insulina é prejudicada em pessoas com diabetes tipo 2, resultando no acúmulo de açúcar no sangue. O procedimento voltado para esse fim representou 25% das 30 mil cirurgias bariátricas realizadas em 2009.

Levantamento realizado pela SBCBM analisou a eficácia da cirurgia do diabetes em pacientes obesos com diabetes tipo 2 operados em 2009. Dos 7.500 pacientes que se submeteram ao procedimento no ano passado, 90% tiveram a cura tota,l da doença ou conseguiram reduzir o uso de medicamentos, como a aplicação de insulina.

Acompanhamento físico e psicológico

O paciente que teve a indicação de uma cirurgia de redução do estômago precisa passar por um rígido trabalho de reeducação alimentar. Antes da cirurgia ele deve passar a praticar exercícios físicos e ter um acompanhamento nutricional e psicológico.

O cirurgião Alcides José Branco Filho adverte que, como qualquer outra operação, a cirurgia de estômago requer cuidados específicos antes e depois de ser efetuada.

“Quando essas recomendações, médicas e nutricionais, são devidamente seguidas, os resultados são importantes para a saúde física e mental do paciente”, afirma.

Já o acompanhamento psicológico busca entender o modo como cada pessoa se relaciona com a comida e trazer à consciência o lugar ocupado pelo alimento na vida de cada um.

“Quando um paciente passa pela cirurgia, ele não quer mais questionar os motivos que o levaram à decisão. Ele quer resolver logo o seu problema”, reconhece a psicóloga Simone Marchesini.

No processo pós-cirúrgico o foco terapêutico passa a ser a nova imagem e as repercussões do emagrecimento sobre a personalidade do indivíduo. “Ele não muda só o corpo, ele muda a relação com seus valores, com a família e com a sociedade”, completa a terapeuta.

Cuidados pós-cirúrgicos

* Ingerir um alimento de cada vez e em pequenas quantidades.
* Mastigar vagarosamente, para que os alimentos sejam bem dissolvidos na boca.
* Não consumir mel, doces ou açúcar.
* Evitar bebidas alcoólicas ou refrigerantes, pois podem causar irritação gástrica.
* Complementar a nutrição com vitaminas e outros suplementos alimentares.

A cirurgia bariátrica

As cirurgias bariátricas podem ser divididas em procedimentos que:

1) Limitam a capacidade gástrica (as chamadas cirurgias restritivas)
2) Interferem na digestão (os procedimentos mal-absortivos)
3) Uma combinação de ambos as técnicas