Bioética (III) – Bioética e qualidade de vida

A qualidade de vida é fundamental na Bioética. Portanto, tudo quanto diz respeito ao bem-estar humano é parte integrante da Bioética.

O que se entende por qualidade de vida?

A expressão é proveniente do mundo econômico e se ocupa em satisfazer as exigências dos clientes, quer do ponto de vista individual, quer do ponto de vista comunitário; das necessidades de competitividade empresarial, considerando o processo sistemático, metódico, para alcançar qualidade de produção, a fim de atender às condições de uso.

O surgimento da Bioética decorreu da necessidade de definição de dois fatores:

– casos impressionantes de transgressão de limites e de possibilidades de aplicação científica a assuntos humanos;

– conhecimento de tais casos pela comunidade geral.

A Ética Médica era entendida, equivocadamente, como um conjunto de normas de conduta para os integrantes da profissão médica, em suas relações entre si e com aqueles que procuravam seus serviços. Chegou, por vezes, ao conceito de que a Ética Médica parecia estar a serviço dos profissionais da Medicina, caracterizando verdadeiro corporativismo, ou espírito de classe. Havia uma interpretação equivocada da Ética Geral, cuja finalidade é a defesa da integridade do ser humano: física, moral e espiritual. E a Ética Médica, destinada ao fiel desempenho da Medicina, visando primeiramente a vida, e o bem-estar do médico, do paciente e da sociedade.

Em 1518 foi fundado o Royal College of Physicians, com o intuito de proteger a vida e o bem-estar dos doentes, sob controle ético dos profissionais médicos.

Foi, no entanto, a partir de 1971, que a Bioética teve a sua inclusão na literatura científica, mediante o livro Bioethic Bridge to the Future, pelo médico Van Rensselaer Potter, nos Estados Unidos. E, em 1974, o Instituto Karolinska, de Estocolmo-Suécia, abordou uma Temática Bioética, relacionada à Medicina.

Subseqüentemente, os centros médicos de todo o mundo reorientaram suas atividades com base na Bioética, que passou a constituir a disciplina fundamental das chamadas “Humanidades Médicas”.

Todas essas considerações convergem para o bem-estar do ser humano; para a qualidade de vida, expressão cada vez mais difundida. Lamentavelmente, porém, com freqüência não rara, não passa de simples falácia capciosa, bem ao gosto dos demagogos.

A verdadeira qualidade de vida é aquela que propicia o bem-estar coletivo de uma comunidade. O cultivo de uma sociedade mais fraterna somente acontecerá mediante mudanças individuais, apoiadas nas transformações estruturais.

No estudo e na aplicação da Bioética, os profissionais da área da saúde, todos, a começar pelos médicos, têm a importante missão de preservar a vida, promover a vida, a saúde e conseqüentemente o bem-estar do ser humano, individual e coletivamente.

O grande Abbé Pierre, em seu livro Fraternidade, editado em fevereiro do ano 2000, proclama: A vida é um pouco de tempo dado às liberdades para, se quiseres, aprender a amar. E repete a expressão do Evangelho: “O Reino dos Céus é dos violentos”. O que quer dizer: “Daqueles que sabem fazer violência para ultrapassar o seu pequeno egoísmo, o seu pequeno doce conforto, e abrir-se à partilha”.

No desempenho profissional, o médico fiel aos princípios éticos, enriquecidos e disciplinados pela Bioética, tem sempre presente o conceito do Evangelho, relativamente ao amor ao próximo.

Ainda que corretamente veja o doente como o centro das suas atenções, deparar-se-á com situações em que dúvidas o colocarão em dificuldade, aparentemente insolúveis. É o momento, então, de considerar-se na situação do doente e interrogar-se: o que eu esperaria que me fosse feito? O bem que almejasse, deve aplicá-lo ao doente. Portanto, “amar ao próximo como a si mesmo”.

Em todo procedimento o médico tem o dever de absoluto respeito pela vida humana, desde a concepção até a morte, utilizando os seus conhecimentos em benefício do paciente.

Há mais alegria em dar do que em receber!

Eis por que o médico dedicado, que considera o bem-estar do seu paciente primordial, experimenta grande felicidade. O doente, por sua vez, sente-se feliz pelo bem recebido. Essa recíproca alegria caracteriza a harmonia que deve nortear o relacionamento médico/paciente.

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