Alcoolismo: Quanto mais cedo, pior

latinha130607.jpgEstá mais do que provado: o álcool compromete seriamente o funcionamento do cérebro. As lesões são crônicas e o estrago é tanto maior quanto mais cedo se tenha adquirido o hábito de beber. Esta é a conclusão de uma pesquisa realizada por pesquisadores ao longo da última década. A bebida aparece como responsável direta por lesões crônicas que comprometem o funcionamento do cérebro. Até recentemente só se conheciam os danos psicológicos provocados pelo uso da droga, agora, o estudo demonstrou que a eles se associam severas alterações neurológicas.

O estudo constatou que o tamanho desse estrago é proporcionalmente maior à medida que diminui a idade do usuário. Além dos problemas físicos e emocionais, o álcool está direta ou indiretamente ligado à maioria esmagadora das ocorrências policiais e dos registros hospitalares. Segundo o psiquiatra Fernando Sielski, especialista em dependência química, o álcool provoca alterações neurofisiológicas profundas nas pessoas. ?Ele produz graves danos à memória, capacidade de abstração e à inteligência?, afirma. A Organização Mundial da Saúde, desde 1967, reconhece o alcoolismo como uma doença.

Alterações permanentes

Essas disfunções no sistema nervoso independem do tipo de bebida ingerida, sejam as mais fortes como a cachaça ou as socialmente mais aceitas, como a cerveja. Outra conclusão dos pesquisadores foi que as maiores alterações eletrofisiológicas foram registradas na região do tálamo, considerada a porta de entrada do cérebro no que se refere à sensibilidade. Outras conseqüências do uso contínuo e em excesso da bebida, enumerados por Sielski, são a amnésia, neurites, hipertensão arterial, disfunções sexuais, diarréia e hepatite alcoólica, entre outros distúrbios.

No principal exame da pesquisa era medida a reação das pessoas investigadas a estímulos auditivos. Eletrodos mediam o sinal elétrico resultante em vários pontos do percurso. Como era de se esperar, o fluxo desses sinais nos alcoolizados era mais lentos e, em alguns casos, não era nem percebido por eles. E o que é pior: mesmo depois de uma abstinência de 45 dias, os testes comprovaram que tais alterações mostraram-se permanentes.

Além disso, os piores resultados foram obtidos, em sua grande maioria, nas pessoas que começaram a beber antes dos 18 anos de idade, invariavelmente iniciados por pessoas da própria família. Nestes, o desempenho foi pior, mesmo quando comparado com a de indivíduos que, tendo principiado com maior idade, ingerem a bebida por mais tempo. Essas descobertas tornam-se alarmantes quando se leva em conta que pesquisas do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas constatam que o álcool é a droga mais consumida entre os jovens, por isso mesmo, um dos mais graves problemas de saúde pública a ser enfrentado no país.

Se beber, não dirija

Um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) atribuiu 3,2% de todas as mortes ocorridas no planeta (cerca de 1,8 milhão de óbitos anuais) ao abuso no consumo do álcool. Metade das mortes tem como causa doenças; a outra metade, vítimas de violência nas casas, nos bares e, principalmente, nas ruas e estradas, onde, segundo pesquisa da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego, 61% dos motoristas envolvidos em acidentes haviam antes ingerido bebidas alcoólicas. Quando se sabe que o trânsito mata 35 mil pessoas por ano no Brasil, é fácil atribuir aos excessos com bebidas grande parcela de responsabilidade sobre esses altos índices.

Todas essas estatísticas convenceram o governo federal a enfrentar o problema, que se arrasta há décadas, anunciando um pacote de medidas para reduzir e prevenir os danos à saúde e à vida dos brasileiros e combater situações de violência associadas ao uso abusivo de bebidas alcoólicas. A Política Nacional sobre o Álcool, fruto de uma parceria entre os Ministérios da Saúde, Justiça, Educação e Cidades, além do Conselho Nacional Antidrogas, pretende focar também a associação entre o uso do álcool e acidentes de trânsito. Uma das medidas previstas no pacote, por exemplo, reduz a graduação alcoólica usada como base para impor restrição de propaganda, o que incluiria bebidas hoje liberadas, como a cerveja.

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