Aids entre mulheres se propaga no Paraná

O número de mulheres infectadas com o vírus da aids no Paraná vem aumentando. Segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), atualmente de cada dois homens infectados, uma mulher também registra a doença. Número considerado alto comparado com índices anteriores, que confirmavam sete casos envolvendo homens para um com mulheres.

Segundo Maria Cristina Assef, coordenadora adjunta do programa DST/AIDS da Sesa, o problema vem acontecendo devido a três diretrizes principais: biológicos, pois as mulheres estão mais suscetíveis; social, devido à dificuldade que elas têm, principalmente quando com parceiro fixo, de pedir para colocar a camisinha na hora do ato sexual; e econômica, pois muitas mulheres ainda dependem dos homens para sobreviver e são submissas aos desejos masculinos, que na maioria das vezes não gostam de usar o preservativo.

Exemplo disso é uma vendedora autônoma que contraiu o vírus HIV do segundo marido, com o qual viveu junto durante onze anos. Ela afirma que, apesar de saber que ele era mulherengo, nunca pediu para ele usar preservativo, pois não acreditava que poderia contrair alguma doença. Alguns anos depois, quando já estava separada, descobriu através de um parente que o seu ex-marido estava com aids. A partir desse momento, a família incentivou para que ela fizesse o exame. Apesar de achar que não tinha nada, pois não apresentava qualquer sintoma, a vendedora fez o teste e levou, segundo ela, o maior susto da sua vida. O exame mostrava um resultado positivo. “Fiquei desorientada e entrei em depressão. Não conseguia acreditar no resultado e pensei que assim como eu, outras mulheres poderiam estar na mesma situação sem saber”, acrescenta ela.

Há dois anos e meio, a vendedora vive com o vírus e faz os tratamentos para a doença não avançar, mas afirma que a importância da camisinha para não contrair a doença é fundamental. “Conheço muita gente que tem aids e diz transar sem camisinha, não se importando em passar o vírus para outra pessoas. É preciso ficar alerta, pois achamos que nunca vai acontecer com a gente e veja só como é”, conclui ela.

Curitiba

Na capital paranaense, todos os anos surgem cerca de seiscentos novos casos de aids. Dados cumulativos de 1984 a 2002 registraram 5.474 pessoas infectadas. Dessas 1.584 são mulheres e 3.891 homens.

Segundo Mariana Thomaz, coordenadora da DST/AIDS da Prefeitura de Curitiba, a implantação em 2001 dos Centros de Testagem e Aconselhamento de HIV em todos os cem postos de saúde de cidade possibilitou um maior esclarecimento sobre o assunto junto à população e ampliou o diagnóstico precoce da doença, aumentando também a estrutura que os soropositivos recebiam como tratamentos especializados e apoio psicológico. Além disso, Mariana acrescenta que a distribuição de camisinhas, inclusive femininas, nesses mesmos postos de saúde, vem contribuindo para a redução de novos casos de HIV.

Soropositivos recebem ajuda de grupos de apoio

Para ajudar a diminuir o número de mulheres infectadas pelo HIV, o Ministério da Saúde está realizando, desde dezembro do ano passado, uma pesquisa em Belém, Recife, Ribeirão Preto, Campo Grande e Curitiba. O projeto pioneiro, intitulado “Comportamento sexual e o contexto da vulnerabilidade para o HIV entre as mulheres”, tem como objetivo definir uma política nacional sobre as pessoas do sexo feminino que têm o vírus e determinar qual o melhor procedimento a seguir nesses casos. A pesquisa deve terminar no mês de março.

A maioria dos programas desenvolvidos sobre aids são realizados por ONGs. Em Curitiba uma referência no assunto é o “Grupo de Amigos”, criado em 2001. Segundo Douglas Miranda, presidente da ONG, o objetivo do grupo é dar assistência psicológica, humana, jurídica e também informativa aos soropositivos. Entretanto, ele alerta que quem não tem a doença também pode participar do grupo. Todas as quartas-feiras, das 19h às 21h, e no sábado, a partir das 19h, como parte do programa é realizado um encontro com cerca de vinte pessoas, onde cada pessoa conta um pouco de sua experiência sobre o assunto.

Desde a criação do grupo, já passaram pela ONG cerca de 600 pessoas, desde crianças até idosos. Quem quiser saber mais sobre o programa basta ligar para (41) 346-5651 ou ir à Rua Capitão João Zaleski, 635, na Vila Lindóia.

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