A saúde dos jovens

A juventude é normalmente uma época de excessos, face à vontade de experimentar, conhecer, saber e viver intensamente e, ao mesmo tempo, ao alto contido de energia que caracteriza essa fase da vida. Por um lado, essas características levam à prática de esportes, aos passeios na natureza e a regiões mais distantes e desconhecidas, mochila nas costas e pouco dinheiro no bolso não sendo fatores inibidores dessa vontade. Também é o tempo principal da disponibilidade para manifestações políticas e da disposição de colaborar com projetos sociais, ambientais e outros. Mas, por outro lado, há uma tendência a aceitar e enfrentar riscos diretos, como os chamados esportes radicais e o exercício de velocidade em veículos, as tentativas de vencer obstáculos difíceis e perigosos, assumindo desafios desnecessários. Não menos importante, esta é a idade em que mais se buscam experiências diferenciadas de prazer, no sexo, no álcool, nas drogas com todas as implicações pessoais e sociais que daí podem decorrer.

Por essa razão é muito importante atuar em duas frentes no trabalho com a juventude, uma garantindo condições e oportunidades de formação, desenvolvimento e lazer saudáveis, e outra orientando para evitar certos excessos que podem prejudicar, às vezes de forma definitiva, seu organismo para as atividades futuras, seja por acidentes, seja por deterioração de funções de algum órgão.

Na primeira dessas formas de atuação vem sendo muito importante a presença entre nós de organizações como o SESC e suas congêneres, criando condições para a prática do esporte, cultura, formação e lazer. Visitando recentemente o SESC em companhia de seu presidente Abram Szjaiman, além de verificar a importância do trabalho que a entidade realiza, constatamos que quando se oferece a uma população mais carente condições de primeiro mundo em termos de qualidade, o respeito e cuidado tomado são totais, como se nota também no metrô. Por isso é preciso que essa oferta de bons centros de lazer, esporte e cultura seja multiplicada por outras organizações privadas, além das ações dos municípios e estados, em prol do desenvolvimento sadio dos jovens. Embora muita coisa esteja sendo feita, as carências são grandes e boa parcela da população jovem continua não tendo acesso aos locais e equipamentos necessários para sua adequada formação física e mental.

Já na questão de orientação, torna-se necessário não apenas ampliar em muito o que vem sendo feito, como também é urgente repensar o teor de certas mensagens diretas e indiretas que estão sendo levadas aos jovens, particularmente na área da violência, do erotismo e da busca do prazer sem limites. Este é um papel que vem sendo realizado em parte pelas igrejas, além das familias, e ainda pouco pelas escolas e meios de comunicação tanto em seus programas como na propaganda. O futuro de nosso país e de cada um de nós depende muito dessa melhoria na formação e informação dos jovens, impulsionando-os para um caminho de auto-realização e de visão do seu papel social e profissional, cuidando ao mesmo tempo de sua saúde.

Neste último aspecto, como especialista em reprodução humana, percebo muitas vezes as consequências de um certo desregramento na juventude no aumento dos casos de infertilidade. As estatísticas mostram que cerca de 20% dos casais apresentam o problema, dividido entre dificuldades do homem, da mulher, ou dos dois. Uma pequena parte do problema é de natureza congênita, ou seja, originário de uma (ou mais) má-formação de orgãos. Há, entretanto, casais que chegam no consultório com problemas de infertilidade que poderiam não ter aparecido, se certos abusos na juventude fossem evitados, como as relações sexuais não protegidas. Esse comportamento pode levar a doenças sexualmente transmitidas, resposáveis por 30% dos casos de infertilidade feminina, que muitas vezes só podem ser superados com a utilização da fertilização assistida.

Estudos científicos em vários países vêm mostrando de forma cada vez mais clara o impacto negativo das drogas sobre os órgãos sexuais/reprodutivos e também sobre outras partes do corpo humano. Um exemplo recente é a pesquisa da Universidade Estadual de Nova Iorque, que mostra a perda de mobilidade dos espermatozóides dos homens que fumam maconha o que pode torná-los estéreis. Efeitos mais sérios já se sabe que ocorrem com o uso de drogas pesadas, e mesmo o consumo exagerado e o abuso de álcool na juventude podem provocar alterações significativas na saúde do adulto.

Cuidar portanto da saúde mental e física dos jovens é uma obrigação não apenas do poder público, mas de toda a sociedade, como forma de assegurar um país melhor no futuro.

Roger Abdelmassih

é médico pela Unicamp e autor do livro Tudo por um bebê.

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