A dor dos esportistas depois da prática

Depois da prática esportiva surge uma pequena dorzinha. Logo, a dor aumenta e começa a se repetir frequentemente. São os primeiros sinais da pubalgia ou dor no púbis, incômodos rotineiros comuns, tanto em craques do futebol quanto em “peladeiros” de fim de semana. O caso mais recente de pubalgia ou, talvez, mais comentado em 2010, foi do jogador de futebol Kaká, da seleção brasileira. No início deste ano, o atleta foi surpreendido pela enfermidade que não o deixou participar da Copa do Mundo, na África do Sul, na plenitude de suas condições físicas. A má notícia é que quando diagnosticada tardiamente ou não tratada efetivamente pode até incapacitar os atletas.

No “país do futebol”, o esporte permeia a vida de muitas pessoas, tanto de aficionadas quanto de praticantes esporádicos. Com efeito, as doenças derivadas do excesso de esforço físico, como a pubalgia ou pubeíte ganham repercussão. Segundo o ortopedista Márcio Hioraki Kume, vice-coordenador do Serviço de Ortopedia no Hospital Santa Cruz, de Curitiba, as causas da doença podem ser infecciosa ou traumática – esta mais comum em esportes que envolvem corrida. O diagnóstico é realizado por meio de exames físicos e de imagem, como ressonância magnética, cintilografia e radiografia. Para o especialista, dependendo da gravidade das lesões, o praticante pode ficar de três a nove meses afastado do esporte, sendo orientado a fazer reabilitação prolongada antes de retornar à atividade. “Não se pode ter pressa no tratamento desse tipo de lesão”, adverte.

Terapia especializada

As dores na região do púbis podem ser mais ou menos intensas. Em alguns casos, ela ocorre durante a prática de exercícios abdominais, ao se levantar, tossir e espirrar, aumentando durante o apoio unipodal (com apenas um dos pés). Além disso, exercícios, como futebol e corrida podem acarretar dores no lado interno da perna e na região lombar.

Uma vez diagnosticada a pubalgia, faz-se necessário o tratamento imediato, para que se evite a complicação da doença e a intervenção cirúrgica. Quando a doença se torna crônica a consequência mais percebida são fraqueza dos músculos abdominais e encurtamento da musculatura posterior da coxa, deixando o tratamento mais longo e delicado.

“A fisioterapia e o repouso completo são grandes aliados ao tratamento da pubalgia”, reconhece Márcio Kume. Assim, alongamentos da musculatura adutora, abdominal e paravertebrais devem ser feitos periodicamente, a fim de equilibrar essas estruturas. É muito importante que o processo terapêutico seja feito por um médico responsável e experiente, já que o excesso de “carga” ou volta antecipada às atividades pode trazer consequências, como lesões na região lombar e aumento das dores. O ortopedista comenta que se o tratamento for feito de maneira correta e precoce, os atletas se recuperam em poucas semanas.

Laserterapia

A mais recente contribuição terapêutica para o tratamento da pubeíte, conforme o especialista, consiste na laserterapia e terapia por ondas de choque. Estas técnicas, disponíveis no Serviço de Ortopedia do Hospital Santa Cruz, garantem excelentes resultados na reabilitação, de forma segura e não invasiva. Além disso, existem outros tratamentos, como o uso de antiinflamatórios, termoterapia e cirurgia, todos associados a muito repouso.

Embora seja uma doença comum, a prevenção da pubalgia existe e é preconizada. O médico enfatiza que melhorando o equilíbrio muscular, principalmente entre a musculatura do reto abdominal e dos adutores, pode-se minimizar o risco de desenvolvimento da doença. Quando tratada corretamente, sua reincidência é pouco frequente. “O que se vê na prática esportiva, no entanto, é o retorno inadvertido ao esporte, sem reabilitação adequada ou a prática em excesso de esforço físico, ocasionando o reaparecimento dos sintomas”, completa Márcio Kume.

Muito prazer, sou o púbis

O púbis, dois ossos iguais, um à direita e outro à esquerda, fica na bacia., Nesse osso prendem-se vários músculos, entre eles, o reto abdominal – bastante exigido nos exercícios abdominais -, os oblíquos (que descem de cada lado da cintura e ajudam nos movimentos de rotação do tronco) e os adutores, que ficam na parte de dentro das coxas e que ajudam nas mudanças de direção em uma prática esportiva.

Quando a solicitação desses músculos é muito grande – por esforços excessivos -, carga de musculação não dosada ou falta de critérios biomecânicos, começa um incômodo no local, que se não tratado pode se agravar. Daí, o tratamento se torna complicado e a suspensão das atividades físicas é obrigatória. Às vezes, a ressonância magnética não esclarece totalmente a causa da dor e quando não se sente mais nada, ela engana e passa a ficar nos adutores. Não tem jeito: lá vem mais um período longo de recuperação.

A prevenção é simples

Para evitar a pubalgia, alguns cuidados devem ser tomados – antes e depois – da prática de exercícios:

* Passar por um check-up e uma avaliação física antes de começar a praticar exercícios
* Um especialista deve indicar a forma correta de praticar o exercício, sua frequência, a carga e o melhor horário para realizar a atividade
* Respeitar seus limites
* Procurar fazer os exercícios em pisos lisos, utilizando roupas e calçados adequados
* Fazer alongamento e aquecimento antes do início dos exercícios
* Ao alongar, não flexionar os joelhos e manter as solas dos pés bem apoiadas no chão
* Ao dobrar os joelhos, não inclinar mais que 90 graus
* Ao saltar, cair com os joelhos dobrados
* Desaquecer após um jogo intenso ou sessão de treinamento
* Não praticar exercícios quando estiver cansado ou com dor
* Evitar tornar-se um “guerreiro de final de semana”, distribuindo suas atividades físicas, ao longo da semana

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