Porto é ícone do norte trabalhador

O norte português abriga as principais indústrias do país. Guimarães, Porto e Braga formam o maior triângulo industrial de Portugal. Já os sulistas são responsáveis pela parte turística e cultural. Contudo, o turista que vai a passeio para o norte de Portugal não se decepciona. Há muito para conhecer e admirar na região.

Quando se fala da cidade do Porto, a primeira lembrança que vem à cabeça é o tradicional vinho do Porto. Curiosamente, os principais produtores da bebida não ficam na cidade, e sim na vizinha Vila Nova de Gaia, do outro lado do Rio Douro. Em Gaia, uma visita que não pode deixar de ser feita é à Casa Cálem, que fica às margens do Douro. Lá, é possível conhecer um pouco da história do vinho do Porto e de como ele é produzido, além, é claro, de degustar e poder comprar vinhos brancos, rubys e tawnys, as três qualidades de vinho do Porto existentes. Estranhamente, o vinho do Porto, com característica adocicada, não é muito consumido pelos portugueses. ?Estamos tentando mudar isso. Nossa produção vai mais para exportação?, destaca Kátia Moura, representante da Cálem.

No Porto, ao preço de 10 euros por pessoa, é possível aproveitar um belo passeio de barco pelo Rio Douro e observar as tradicionais casas dos tripeiros, como são conhecidos os moradores da cidade. De dois ou três andares, as construções são de granito, enfeitadas com os famosos azulejos e sempre com uma varanda de ferro.

O Douro era onde os principais navios atracavam até o século XIX, quando houve um grande assoreamento e o principal porto da região deixou de ser na cidade. ?O porto do Porto é fora do Porto?, brinca Rui Martinho, especialista em turismo. O principal atracadouro da região, agora, fica em Leixões, a dez quilômetros da cidade do Porto.

Como cidade importante economicamente, o Porto não poderia deixar de ter uma grande referência ao capital. Esta referência é o Palácio da Bolsa, que já foi um convento e hoje pertence à Associação Comercial do Porto. Na bela obra arquitetônica, destacam-se a sala do Pátio das Nações, onde estão pintados todos os escudos dos países com quem Portugal mantinha relações comerciais, inclusive o Brasil, e o Salão Árabe, espaço reservado a festas que tem todas as suas paredes decoradas com madeira, gesso e ouro.

Na Igreja de Nossa Senhora da Lapa está guardado o coração de D. Pedro I (em Portugal, conhecido como D. Pedro IV). Para os turistas que, além de passear e conhecer as peculiaridades do destino visitado, também gostam de fazer umas comprinhas, no Porto, um dos melhores lugares é a Rua Santa Catarina.

Expressões aproximam o Brasil de Portugal

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Romance de Inês de Castro e Dom Pedro I rendeu um dos ditados usados até hoje.

Portugal e Brasil têm enormes afinidades. Muitas vezes, nós, brasileiros, estamos nos referindo a coisas tipicamente portuguesas e não sabemos. Ditados populares são exemplos disso. Quem nunca disse, por exemplo, a frase: quem tem boca vai a Roma. Pois este ditado é uma herança dos portugueses. O especialista em turismo Rui Martinho explica que Portugal viveu sob o domínio do Império Romano. À época, todas as vias construídas pelos romanos desembocavam numa via principal que os levava para Roma. Ou seja, de qualquer lugar era possível chegar até a capital do império. Daí surgiu a expressão em Portugal, que mais tarde foi trazida ao Brasil.

Outro conhecido ditado de origem portuguesa é usado quando já não é possível fazer nada em uma determinada situação. Costumamos dizer: Agora Inês já é morta. A origem deste ditado vem da conturbada história de amor entre o rei D. Pedro I (lembre-se que D. Pedro I do Brasil era D. Pedro IV em Portugal) e Inês de Castro, dama de companhia da princesa com quem havia se casado. Quando a rainha morreu, ele se casou em segredo com Inês, mas esta acabou sendo assassinada. ?Diz a lenda que o rei mandou coroá-la e sentá-la no trono, mesmo depois de morta. Todos foram obrigados a prestar homenagens ao cadáver. Ela ficou conhecida como a rainha morta?, destacou.

Se por um lado os portugueses ensinaram muito aos brasileiros, a recíproca tem sido verdadeira nos últimos anos, principalmente graças a Luís Felipe Scolari, técnico da seleção portuguesa de futebol. Uma das pessoas mais respeitadas no país, ele conseguiu introduzir nos portugueses uma tradição brasileira: o respeito e a admiração à bandeira nacional. Hoje, é comum ver bandeiras portuguesas penduradas nas fachadas das casas.

Na parte econômica também podemos notar influência brasileira. Especificamente para nós, paranaenses, o que mais chama a atenção é que uma grande rede de cosméticos com sede em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), já firmou sua marca em Portugal. Não é incomum entrar em algum shopping português e encontrar uma loja da marca. ?Antigamente vendíamos mais para portugueses. Hoje, 50% do nosso público é composto por brasileiros?, conta a vendedora Janete Marque, que atende numa das lojas da rede no shopping Fórum Aveiro, na cidade de mesmo nome.

Bacalhau não perde a majestade

Em Portugal se come bem. E como se come. Os pratos típicos representam o orgulho nacional. Já o bacalhau é mais que isso, é praticamente uma instituição. Os portugueses até brincam que bacalhau não é peixe. ?Pescada é peixe, salmão é peixe, bacalhau é bacalhau e pronto?, diz Rui Martinho. Curiosamente, o bacalhau não é pescado em mares portugueses. Os barcos vão pescá-los em outros mares, com águas mais geladas. Aliás, bacalhau não é uma espécie de peixe mesmo. E isso é sério. Há vários peixes com que se pode fazer o bacalhau, que é a forma com que ele é salgado, esta sim uma especialidade dos portugueses. Cada região de Portugal tem um tipo de bacalhau. Em Braga, por exemplo, o mais tradicional é o bacalhau à Braga. ?Nós o fazemos frito com cebola, batata, alho e pimenta. Tudo feito com azeite extra virgem?, explica José de Oliveira, dono do restaurante Bem-me-quer (www.restbemmequer.eol.pt), em Braga. Ele diz que o segredo dessa forma de fazer bacalhau é o picles colocado sobre o prato. ?Ele tem efeito digestivo. O vinagrete elimina o excesso de gordura?, diz, lembrando que existem mais de uma forma de se fazer bacalhau por dia. O bacalhau com nata (creme de leite) é outra boa pedida para quem quer experimentar esta delícia portuguesa.

Pães e queijos, sempre acompanhados de bons vinhos, são insubstituíveis na gastronomia portuguesa. A broa de milho e o queijo de azeitão, por exemplo, são o que há de melhor na comida portuguesa.

Os enchidos, espécie de ancestrais da lingüiça, são outras delícias da culinária de Portugal. Dois deles se destacam: a farinheira, feita com pão e carne de porco colocado na tripa do porco, mais tradicional no norte do País, e a alheira, que é feita com carne de caça. ?Ela era feita com carne de qualquer caça, menos do porco. Foi criada pelos judeus que não podiam comer carne de porco, mas também não podiam demonstrar que eram judeus. Assim, comiam um enchido, todos achavam que era de porco, mas não era?, revela Matinho.

Os doces também são outras delícias portuguesas. Principalmente aqueles feitos com ovo, como os ovos moles de Aveiro e o pão-de-ló. Os tradicionais pastéis de Belém marcam a culinária portuguesa.

Pousadas contam parte da história

Pousadas de Portugal/Divulgação
A Pousada São Filipe oferece vista da Península de Tróia.

Uma boa infra-estrutura de hospedagem facilita a vida do turista e a rede hoteleira de Portugal não deixa nada a desejar, mas especialmente uma iniciativa nova vem trazendo à tona uma boa opção para quem não quer apenas um bom lugar para dormir, mas também aproveitar para conhecer a história do país. As Pousadas de Portugal, espalhadas por todo território nacional, oferecem isso. Algumas delas são de concepção moderna, com estrutura de hotel de primeira qualidade, mas o grande charme de boa parte das quarenta pousadas é a história envolvida com os locais onde hoje estão as instalações. A Pousada Santa Maria do Bouro, que fica na região de Braga, resulta da recuperação de um mosteiro cisterciense do século XII. Em Palmela, há a Pousada Castelo de Palmela, que ocupa o espaço do Castelo da Vila no alto de uma imponente colina. A Pousada São Filipe, em Setúbal, fica na Fortaleza de São Filipe, tendo uma vista panorâmica sobre o estuário de Sado e a península de Tróia. Dom Filipe I era espanhol e foi um dos três Filipes que governou Portugal após 1640, quando o então rei dom Sebastião resolveu ir guerrear contra os mouros na África. O rei morreu e como não tinha descendentes, o trono português acabou ficando sob o domínio de um espanhol, parente mais próximo de Sebastião. Até hoje, os portugueses condenam a atitude de dom Sebastião, considerado por muitos como louco, já que foi várias vezes avisado do perigo que corria ao ir à guerra. A dominação espanhola sobre Portugal durou 60 anos.

Pousadas de Portugal/Divulgação
Pousada Castelo de Palmela, requinte no alto da colina.

Outra bela pousada é a Conde de Ourém, no alto da aldeia de mesmo nome, na Serra da Estrela. Lá, é possível conhecer o castelo e os torreões que eram usados para defender Portugal de invasões estrangeiras. Em uma delas, o terceiro conde de Ourém, dom Nuno Alvarez Pereira, derrotou os inimigos castellanos que tinham um exército muito maior. A tática usada foi a do quadrado, muito inovadora para a época. Ele fazia buracos no caminho dos inimigos e os cobria com mato, os cavalos caiam nesses buracos e quebravam a pernas. Com a vitória na batalha de Aljubarrota, ele foi considerado um verdadeiro herói. Posteriormente, se dedicou à vida religiosa e acabou sendo beatificado.

Pousadas de Portugal/Divulgação
A Pousada Dona Maria I, em Queluz, no palácio onde nasceu dom Pedro I.

A Pousada Dona Maria I, em Queluz, fica no Castelo de Queluz, local onde nasceu dom Pedro I. Dona Maria I foi a avó do herói da independência. ?Os brasileiros vêm aqui e acabam conhecendo mais de sua história?, diz Roberta Calado, coordenadora de vendas das pousadas de Portugal. Mais informações sobre as pousadas podem ser obtidas no site www.pousadas.pt.

O jornalista viajou a convite do Icep Portugal e das Pousadas de Portugal.

Vestígios enriquecem Condeixa e Coimbra

As casas e as paisagens portuguesas nos fazem lembrar que estamos na Europa. Diferentemente daqui, quando nossa relação com a antigüidade não ultrapassa os quinhentos anos, lá a história é contada desde muito antes. Na região central do país, na cidade de Condeixa, localizam-se vestígios da cidade romana de Conímbriga, que data de 70 d.C. É fantástico ver como até hoje resistiram partes de construções feitas pelo povo que dominou o mundo. A organização das casas e a beleza do trabalho feito nos pisos, com mosaicos que formavam figuras, como se fossem os tapetes de hoje em dia, impressionam. Arqueólogos portugueses estudam diariamente o local.

A 15 quilômetros de Condeixa está localizada a cidade de Coimbra, uma das mais conhecidas de Portugal, principalmente por sua universidade, uma das mais tradicionais da Europa. Fundada em 1540, a Universidade de Coimbra teve até o século XVIII somente professores jesuítas. Até hoje a instituição é fundamental para a região.

Coimbra foi a primeira capital portuguesa e tem como interessante na sua formação a presença de vários povos antepassados. ?Coimbra é uma cidade portuguesa, mas há debaixo dela vestígios de uma cidade árabe, resultante da dominação do mouros. Embaixo desses vestígios árabes, ainda podemos encontrar resquícios de cultura deixados pelos romanos?, explica Rui Martinho, especialista em turismo.

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