Penedo, história às margens do Velho Chico

O Rio São Francisco banha parte da história do Brasil nos 2,7 mil quilômetros que percorre de Minas Gerais a Sergipe. Em Alagoas, o Velho Chico é o vizinho que se enxerga com facilidade das sacadas dos casarios históricos da pequena Penedo, cidade situada a 168 quilômetros de Maceió. Uma paisagem bem diferente das belas praias que fazem a fama da capital alagoana e arredores. Só por isso, uma ida a Penedo já vale a pena: conhecer uma outra face de Alagoas como destino turístico.

O município foi fundado em 1636, no auge do barroco, fato que reflete até hoje na arquitetura de igrejas, conventos e palacetes, erguidos nos séculos XVII e XVIII. E não são poucas as construções históricas que merecem visitação neste pequeno município de 57,8 mil habitantes. A contribuição dos colonizadores portugueses e holandeses e dos missionários franciscanos ajudou a fazer da cidade Patrimônio Histórico Nacional, tombado na década de 80. Hoje, 90% das fachadas do centro antigo estão preservadas, parte por conta do Programa Monumenta, uma parceria do governo federal e do BID (Banco Interamicano de Desenvolvimento). ?As pessoas aqui têm orgulho do patrimônio histórico da cidade?, diz o prefeito Marcius Beltrão Siqueira.

A suntuosidade do terceiro maior rio do Brasil é também um importante atrativo para a cidade, que recebe hoje de trinta a quarenta mil turistas por ano. A intenção da Prefeitura é trabalhar o turismo de forma mais profissional, posicionando melhor o setor na economia municipal. Hoje, o principal fator econômico é a agricultura, principalmente cana-de-açúcar, seguido da pecuária e do comércio.

Para fomentar o turismo no município, a Prefeitura pretende resgatar o festival de cinema, evento que atraía anualmente milhares de visitantes, entre as décadas de 60 e 70 e até 1982. A retomada da Festa de Bom Jesus dos Navegantes, que acontece na primeira semana de janeiro, com procissão a bordo de barcos pelo rio, também entrou nos projetos da cidade. Este ano, o evento atraiu cerca de cinqüenta mil visitantes, cinco vezes mais do que em anos anteriores.

Em breve, Penedo deve ganhar também o Museu do Rio São Francisco, uma espécie de homenagem a todas as mais de quinhentas cidades ribeirinhas. A previsão é iniciar as obras este ano. Apesar do atrativo de unir a história ao fato de ser banhado pelo imenso rio-mar, Penedo ainda esbarra em um fator importante para quem quer receber mais turistas: pouca oferta hoteleira. O município tem apenas 250 leitos. Para suprir essa necessidade, a Prefeitura está oferecendo bons incentivos fiscais para atrair hoteleiros. Com o aumento da oferta de hospedagem, a expectativa é esticar o tempo de permanência do turista que, geralmente, se hospeda em Maceió e vai para Penedo somente para passar o dia.

Penedo tem um patrimônio rico e curioso

Danielle de Sisti

Igreja São Gonçalo Garcia, de 1758, retrata o estilo arquitetônico do centro antigo de Penedo.

Se das sacadas de Penedo se enxerga a suntuosidade e beleza do Rio São Francisco, das águas é possível perceber o quanto é interessante a cidade que se formou lá no alto de um rochedo. Ao caminhar pelas ruas da cidade, é fácil ver porque ela é tombada como Patrimônio Histórico Nacional. São dezenas de igrejas, conventos, museus e casas que retratam parte da história do País, principalmente nos séculos XVII e XVIII.

Uma primeira visita à cidade pode começar pela Praça Barão de Penedo, também conhecida por Praça da Matriz ou Praça da Catedral. É a praça mais importante do município, não só por abrigar a Catedral Nossa Senhora do Rosário (de 1690), como também por reunir os prédios da Prefeitura e da Câmara Municipal; um oratório, conhecido popularmente como Oratório da Forca; e o sobrado que serviu de residência para o primeiro bispo da cidade, dom Jonas de Araújo Batinga.

Por entre as ruas estreitas da praça, o oratório chama a atenção dos turistas. Muito pequeno e literalmente sem rococós, o local, construído em 1769, serviu para os presos assistirem às missas, rezarem o terço, cantarem os hinos religiosos, depois que a cadeia foi construída na mesma praça. É conhecido como Oratório da Forca, segundo um pesquisador, porque ali os presos ficavam assistindo a missas ?até     

o momento da agonia?, quando partiam em cortejo para o cadafalso. Nunca houve provas de que houve, na época, algum enforcamento em Penedo ou que o local tinha essa destinação. O fato é que ele está lá, aberto ao público, e chamando a atenção dos que visitam a cidade pela primeira vez.

Grávida?

Não é difícil encontrar particularidades nas diversas igrejas de Penedo. Um exemplo é a Igreja e Convento de Nossa Senhora dos Anjos, que começou a ser construída em 1660 e só foi concluída em 1759. Além do longo tempo de construção, outro detalhe virou atração: a pintura de uma imagem de Nossa Senhora com um grande ventre, sugerindo uma gestação. Até hoje não se sabe se essa era mesmo a intenção do autor da obra.

A Igreja de Nossa Senhora das Correntes gera curiosidade já pelo nome. De acordo com os guias de turismo da região, ela foi chamada desta forma porque a família Lemos, uma das tradicionais da cidade no século XVII e que vivia no imóvel que hoje abriga a igreja e o Paço Imperial, dizia que ouvia barulhos de correntes dos escravos que desciam a rua em frente à igreja. Outra curiosidade é que a imagem principal, a de Nossa Senhora talhada em madeira, foi roubada e voltou sem corrente e sem coroa. A pequena igreja, decorada com azulejos portugueses, teria sido um esconderijo para escravos. É o que sugere o espaço, muito estreito, próximo ao altar, fechado por uma porta de madeira.

Junto à igreja, o Paço Imperial exibe um acervo composto por trezentas peças dos séculos XVIII e XIX. Pertenciam tanto aos Lemos, moradores do imóvel, como de outras famílias penedenses. A entrada custa R$ 3 e é gratuita para crianças com até dez anos.

A jornalista viajou a convite da revista Turismo & Negócios, do Hotel Meliá e da TAM.

Delícias no alto da rocheira

Do alto do rochedo, que deu início à cidade, a vista do Rio São Francisco.

Uma dica de restaurante em Penedo é o Forte da Rocheira. Ele fica exatamente no alto da rocheira que deu origem à cidade e, portanto, proporciona uma bela e ampla vista do Rio São Francisco. Esse já seria um forte motivo para optar por ele em uma visita à cidade.

Além da possibilidade de almoçar apreciando o melhor da natureza de Penedo, o restaurante oferece pratos típicos nordestinos, oportunidade que não deve ser perdida por nenhum turista. O sururu ao molho de côco é um deles; o prato custa R$ 22,50. Uma boa pedida é experimentar o jacaré, também ao molho de côco, que custa R$ 30 e serve duas pessoas.

Além desses, há bacalhau e camarão, que acompanha arroz, feijão, farofa e puro. Vale pelas delícias, vale pela localização. Mais informações: (82) 3551-3273. (DS)

Teatro resgata tempos de glória

Interior do Teatro 7 de Setembro relembra época do seu auge, vivido até a década de 50.

O gracioso Teatro 7 de Setembro foi construído pela Imperial Sociedade Filarmônica e inaugurado em 1884. Foi o primeiro do Estado de Alagoas. O imóvel, em estilo neoclássico e formato de ferradura, foi totalmente restaurado na década de 80 e hoje possibilita aos penedenses e turistas a uma viagem no tempo.

A idéia é resgatar a importância do espaço que teve o seu auge por muitos anos até a chegada do cinema, no final da década de 50, quando abriram o Cine São Francisco e o Cine Penedo. Um orgulho para os penedenses é que o local chegou a ser visitado por Dom Pedro II. No interior, três andares, com camarotes, frisa, galerias e salão de público, com capacidade para acolher 410 pessoas. O terceiro andar, que possibilita menor visibilidade do palco, ainda alude à época em que os empregados ali ficavam, enquantos seus senhores apreciavam as peças e musicais. Hoje, é palco para apresentações de três grupos de teatro e quatro coros, mas não tem uma programação fixa.

Casa do Penedo

O Barão de Penedo, diplomata que viveu entre 1815 e 1906, é o homenageado na Casa do Penedo, assim como os índios, negros e colonizadores brancos que deram início à história da cidade. Criada em 1992, por iniciativa do médico penedense Francisco Sales, mantém acervo iconográfico e documental, além de objetos históricos e artísticos. Tem ainda uma biblioteca com 25 mil títulos para pesquisa. No espaço, são ministrados cursos sobre barroco – o local guarda uma das esculturas mais representativas deste estilo. A Casa do Penedo situa-se na Rua João Pessoa, antiga Rua da Penha. A entrada custa R$ 2 por pessoa, estudante paga meia-entrada. (DS)

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