Impacto da crise ainda é incógnita para o turismo

Aumento do turismo doméstico, encarecimento ou barateamento das passagens aéreas e pacotes, incremento do volume de estrangeiros no Brasil, redução do fluxo de brasileiros nas viagens internacionais.

O que deve acontecer no Brasil em conseqüência da crise econômico-financeira mundial? O que tem sido falado por profissionais de vários setores seria apenas um “chutômetro”? Tem gente que aposta que sim, pelo menos quando o assunto é o turismo.

Durante a Feira das Américas, maior evento do setor nas Américas que ocorreu na semana passada no Riocentro, Rio de Janeiro, a reportagem de O Estado ouviu alguns dos profissionais do setor. Incerteza ainda é a palavra que soa mais forte e solidez, a considerada fundamental. Confira.

Agência de viagem

Carlos Alberto Amorim Ferreira, presidente da Associação Brasileira das Agências de Viagem (Abav), promotora do evento, afirma que até o momento, não foram registrados cancelamentos de viagens por conta da crise, mas admite que a grande oscilação do dólar em relação ao real freou as vendas de viagens internacionais. “Quem queria viajar para o exterior, agora deu uma parada, está esperando o dólar estabilizar”, diz.

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“É muito complicado fazer uma avaliação neste momento de turbilhão, por isso, não mudamos nada no nosso planejamento estratégico.” Klaus da TAM.

Kaká, como é conhecido pelo trade, informou que a maior parte dos pacotes até março do ano que vem já estava confirmada. Ele acredita em um aquecimento do turismo doméstico.

Companhia aérea

O diretor comercial da TAM, Klaus Kühnast, diz que a crise, por conta da variação do dólar, gerou uma queda, porém, ainda muito insignificante nas reservas de vôos internacionais.

“É muito complicado fazer uma avaliação neste momento de turbilhão, por isso, não mudamos nada no nosso planejamento estratégico”, informa. A revisão da malha aérea seria uma medida a ser tomada, conforme o impacto da crise no setor de aviação mundial.

“Acreditamos que vamos superar sem muitas dificuldades porque a TAM é uma empresa de grande solidez e também porque o Brasil está com sua economia forte e é um país acostumado com crises”, considera.

A TAM opera vôos para 18 destinos internacionais (cerca de 260 vôos semanais). Só este ano, lançou Lima, Orlando e Bariloche. Neste primeiro semestre, transportou 15,1 milhões de passageiros, dos quais 2,26 milhões em vôos para o exterior.

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“Dizem que vai aumentar o número de estrangeiros no Brasil, mas a crise atinge justamente os países emissivos para o Brasil.” González, de Foz

O vice-presidente da TAP, Luiz Mór, avalia que é cedo para saber o que vai acontecer com o setor e de que forma a crise vai afetar a economia real. “A desvalorização do real é uma ameaça para nós porque o brasileiro pode começar a viajar mais internamente. Talvez precisaremos buscar mais passageiros na concorrência e não em novos mercados”, diz Mor. “Por outro lado, pode ser uma ótima oportunidade de trazer mais europeus para o Brasil”, complementa.

A TAP é a maior transportadora de passageiros entre Brasil e Europa. Neste primeiro semestre, registrou um aumento de 40% no tráfego Brasil-Europa em relação ao mesmo período do ano passado. De janeiro a setembro deste ano, ,1,2 milhão de brasileiros viajaram pela empresa.

Destino internacional

O secretário de Turismo de Foz do Iguaçu, Felipe González, também prefere ponderar em relação a qualquer avaliação. “Ainda é muito cedo, é uma crise mundial que afeta vários países. Dizem, por exemplo, que vai aumentar o número de estrangeiros no Brasil, mas também isso não é possível afirmar porque a crise atinge justamente os países emissivos para o Brasil – Estados Unidos e os da Europa”, lembra.

As Cataratas do Iguaçu fazem de Foz o segundo maior destino internacional do Brasil, atrás somente do Rio de Janeiro. No ano passado, 1,05 milhão de pessoas visitaram a cidade e a expectativa é a de que este ano o número de turistas aumente para 1,2 milhão.

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“Houve uma redução das reservas, mas não cancelamentos. Se esta crise durar, o grupo tem condições de oferecer descontos com recursos próprios.” Foschi, da Costa.

González lembra que Foz está atenta às mudanças de mercado para direcionar suas ações de forma correta. Foi assim que surgiram programas como o Destino do Mundo, ação de marketing de âmbito internacional, e outras de divulgação para alavancar o turismo inter-regional.

Cruzeiro

A Costa Cruzeiros passou a oferecer desconto de 20% no preço dos pacotes. É uma estratégia para beneficiar o cliente, minimizando um pouco o impacto do aumento do dólar.

Ele lembra que a posição da empresa de origem italiana é até confortável já que a ocupação dos seus navios para esta temporada de cruzeiros (2008/2009) é de 75%. “Daqui para frente, depende um pouco da nossa estratégia frente a este cenário”, considera.

Para o CEO da Costa, o italiano Píer Luigi Foschi, para enfrentar uma crise como esta, é preciso ter solidez. “O setor de cruzeiros é forte, enfrentamos outras grandes crises, como a decorrente do (atentado de) 11 de setembro”, comenta.

“Houve uma redução das reservas, mas não cancelamentos. Nosso grupo é financeiramente muito sólido. Se esta crise durar um ou dois anos, o grupo tem condições de dar descontos e contar com os próprios recursos para superá-la”, afirma.

A jornalista viajou a convite da Abav Nacional.