Alta do dólar não atrai estrangeiros

Dólar alto não é garantia de mais turistas estrangeiros no Brasil na próxima temporada. A idéia de que a valorização da moeda americana deixa o Brasil com preços mais atrativos internacionalmente é questionada pelos operadores da Bito – Brazilian Incoming Tour Operators (Associação Brasileira de Operadoras de Turismo Receptivo Internacional). Como quase a totalidade das tarifas é negociada em dólar, não são visíveis para o turista que vem de fora do País as vantagens proporcionadas pelo real desvalorizado.

“Engana-se quem acredita que o turista estrangeiro acha o Brasil barato. O máximo que ele pode sentir é quando já está aqui e percebe, nas compras do dia-a-dia da viagem, que está gastando bem menos que esperava”, conta Enrico Lavagetto, presidente da Bito.

Segundo Lavagetto, alguns hotéis estão baixando a taxa de câmbio, mas não as tarifas. “Minha opinião particular é de que o ideal seria a negociação das tarifas em reais, pois só assim seria possível oferecer bons descontos para o turista”, informa, ressaltando que esta não é uma opinião unânime dentro da associação.

O operador Roberto Dultra, sócio da GB Internacional, concorda com Lavagetto: “Se houvesse coragem de utilizar o real nas tarifas, teríamos o dobro de turistas estrangeiros por aqui”, calcula. “E é só refletir: quando enviamos turistas brasileiros à França, pagamos em euros; na Inglaterra, pagamos em libras; no Japão pagamos em ienes; no Canadá, em dólares canadenses… por que é que no Brasil temos que trabalhar com o dólar americano?”, questiona. “A razão da ?dolarização? da indústria do turismo receptivo brasileiro foi a inflação alta, que não nos permitia garantir preços nem emitir tarifários. Utilizar o dólar era uma proteção. Hoje, no entanto, a economia do País é estável, a inflação é previsível. A média dos últimos oito anos não chega a 10%.”

Para a diretora da Bito, Vera Potter, o real desvalorizado ?é um desastre? para quem negocia com o mercado internacional. “Trabalhamos com cenários de longo prazo e não podemos garantir absolutamente nada. Perdemos em credibilidade porque os estrangeiros não estão acostumados a mudanças repentinas de preço”, explicou Vera, que já trabalha grupos para 2004. “Os negócios são fechados com antecedência e, quando eles chegam aqui, se deparam com outra realidade. Acabam achando que pagaram demais, que foram enganados ou que não valeu a escolha”, completa.

O custo Brasil é outro problema, que na avaliação da diretora da Bito, só piora com a instabilidade do câmbio. “A variação do dólar se reflete no custo dos nossos fornecedores, que os repassam para o preço, tornando o Brasil pouco atraente para o mercado internacional. Instabilidade não é bom para nenhum empresário. A alta do dólar, fatalmente, acabará se refletindo nos preços, o que aumentará o custo Brasil – é sempre esta a ciranda que acontece por aqui”, conclui.

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