Vacina oferece durabilidade contra o HPV

A vacina quadrivalente contra o HPV (Papilomavírus Humano) já está no mercado brasileiro há três anos. Porém, algumas novidades sobre a eficácia do recurso foram apresentadas no último mês, na Conferência Internacional sobre Papilomavírus, ocorrida na Suécia. A quadrivalente protege contra o HPV dos tipos 6, 11, 16 e 18.

“Uma das grandes novidades mostradas na conferência diz respeito à durabilidade da vacina. Foi apresentado um estudo que mostrou que a vacina monovalente – que contém a mesma proteína HPV 16 que está presente na vacina quadrivalente – teve sua eficácia mantida por oito anos e meio, sem que houvesse necessidade de reforço”, comenta uma das investigadoras da vacina quadrivalente contra o HPV no Brasil, Luisa Lina Villa, que é diretora do Instituto Ludwig de Pesquisa Sobre o Câncer, em São Paulo.

O período é considerado o mais prolongado já obtido com vacinas do tipo, sendo que o dado sugere que a vacina quadrivalente pode ter igual ou até maior durabilidade. “O estudo revela que as vacinas podem dar proteção prolongada contra o HPV, o que faz com que a logística e o custo das vacinas sejam facilitados. Só saberemos a durabilidade real da quadrivalente ao longo dos anos de vigilância epidemiológica. Porém, o resultado do estudo é considerado bastante positivo.”

Outra novidade se refere à eficácia da vacina em homens. Durante a conferência, foi mostrado que a quadrivalente também é capaz de prevenir verrugas genitais e infecções persistentes por HPV 6, 11, 16 e 18 em homens com idades entre 16 e 24 anos, tanto heterossexuais quanto homossexuais. “Foi comprovado que a vacina é igualmente segura e dispara as mesmas respostas imunopotentes para homens. Atualmente, ela é aprovada para a utilização em mulheres e homens em diversos países, como Austrália, Nova Zelândia e México. No Brasil, o uso ainda é exclusivo das mulheres”, diz Luisa.

Avaliação

Em território nacional, a utilização da vacina em pessoas do sexo masculino vem sendo avaliada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Atualmente, a crença é de que se houvesse ampla cobertura de vacinação entre as mulheres, os homens seriam beneficiados por um fenômeno conhecido como “imunidade de rebanho”. Desta forma, a carga da doença seria reduzida nas mulheres e os homens estariam protegidos por não a adquirirem delas. Entretanto, a proporção de mulheres imunizadas anda é muito pequena, pois a vacina só é fornecida por empresas privadas.

“Para que a vacinação fosse ampla entre as mulheres, a vacina teria que começar a ser oferecida pelo serviço público. Porém, mesmo que um dia tenhamos altas taxas de vacinação de mulheres no mundo, com a vacinação feminina não estaremos prevenindo o HPV entre homens que se relacionam apenas com homens”, afirma. “Pode acontecer o mesmo que aconteceu com a rubéola. No passado, só foram vacinadas contra a doença as mulheres, pelo risco que a mesma representa durante a gravidez. Porém, os homens começaram a transmitir rubéola e as mulheres passaram a ter problemas, o que fez com que fosse realizada uma campanha para a vacinação de todos.”

Participação paranaense em novo estudo

Ainda na conferência ocorrida na Suécia, foram apresentados dados de um estudo de eficácia de uma vacina que tem valência para os tipos 16 e 18 de HPV e que também tem se mostrado válida para os tipos 45 e 31. O mesmo foi coordenado pelo Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba. No local, está à frente das pesquisas relativas à HPV o professor de ginecologia e obstetrícia Newton de Carvalho.

A vacina, que já se encontra no mercado, apresentou eficácia de sete anos e três meses. Desta forma, mulheres que a receberam quando as pesquisas tiveram início no HC e em outros centros de estudos do Brasil, no ano 2000, se mantive,ram protegidas pelo período citado, sem que houvesse necessidade de reforço. “O período de sete anos e três meses sugere que a vacina pode se manter funcionando por dez anos ou até mais. No período, foi verificado que os níveis de anticorpos não caíram, se mantendo na mesma quantidade”, explica Newton.

A vacina foi administrada em 440 mulheres (cerca de setenta no HC) com idades entre 15 e 25 anos. Elas receberam três doses, sendo a segunda um mês após a primeira e a terceira aos seis meses. Após, as pacientes passaram por acompanhamentos constantes nos centros de pesquisas participantes. A vacina com valência para o HPV dos tipos 16 e 18 é do laboratório europeu GlaxoSmithKline. Já a quadrivalente, é do americano Merck Sharp Dhome. (CV)

Lesões de pele ou mucosa

Os vírus HPV podem provocar lesões de pele ou mucosa. Conforme informações do site do Instituto Nacional de Câncer (Inca), existem cerca de duzentos vírus do tipo, sendo que os mesmos são classificados em baixo e alto risco de câncer de colo de útero (detectado por exame preventivo de Papanicolau). “Os vírus de alto risco, com maior probabilidade de provocar lesões são os tipos 16, 18, 31, 33, 45, 58 e outros. Já os HPV de tipo 6 e 11, encontrados na maioria das verrugas genitais (ou condilomas genitais) e papilomas laríngeos, parecem não oferecer nenhum risco de progressão para malignidade, apesar de serem encontrados em pequena proporção em tumores malignos”, informa o Instituto. Os HPV são transmitidos através de contato direto com a pele infectada, sendo que os vírus genitais passam durante as relações sexuais. (CV)

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