Trânsito de Mercúrio dia 8 de novembro

Há exatamente 375 anos, em 7 de novembro de 1631, o primeiro trânsito de Mercúrio – previsto pelo astrônomo polonês Johannes Kepler (1571-1630) – foi observado pelo filósofo e astrônomo francês Pierre Gassendi (1592-1655), em Paris.

Agora, na próxima quarta-feira, dia 8 de novembro, uma passagem completa de Mercúrio à frente do disco solar será visível em todo Oceano Pacífico, na Antártica, ao longo da costa ocidental do México, Estados Unidos, Canadá e Alasca, na Nova Zelândia e parte oriental da Austrália.

No Brasil, só será visível o início do trânsito ao pôr do Sol. Como o ocaso do Sol ocorre por volta das 18 horas, será possível observar a entrada do planeta no disco solar. Na região norte a visibilidade deste fenômeno será mais favorável.

Além de ser espetáculo bastante interessante, sua observação foi de capital importância em vários estudos sobre o planeta. No entanto, trata-se de um fenômeno que não é visível à vista desarmada. Com uma luneta deve-se usar filtros especiais, como os utilizados na observação do eclipse do Sol. A observação sem proteção poderá provocar danos irreparáveis a retina.

Trânsito de Mercúrio

Em determinadas épocas, os planetas internos Mercúrio e Vênus passam no mesmo plano entre o Sol e a Terra, em conjunção inferior, quando então as silhuetas escuras deles podem ser observadas em contraste com a luminosidade do disco solar.

Nas conjunções inferiores, Mercúrio passa, geralmente, ao norte ou ao sul do Sol, porque a sua órbita é muito inclinada em relação à eclíptica. Todavia, em momentos excepcionais, Mercúrio passa a frente ao disco solar, destacando-se nessas ocasiões, visto através de um telescópio, como um pequeno círculo completamente negro sobre a superfície brilhante do Sol. O deslocamento do planeta sobre o disco solar durante o trânsito dá-se no sentido de Leste para Oeste do disco solar, ao contrário do que acontece durante os eclipses solares, onde o deslocamento da Lua se faz de Oeste para Leste.

Os trânsitos ocorrem no começo dos meses de maio ou de novembro. A grande excentricidade da órbita de Mercúrio faz com que as passagens de novembro sejam mais freqüentes que as de maio. Com efeito, a condição necessária para que esse fenômeno se realize é que a Terra esteja próxima aos nodos da órbita do planeta, ou seja, os pontos em que a órbita do planeta cruza a aparente do Sol. Como os nodos da órbita de Mercúrio se encontram nas longitudes heliocêntricas de 47,4 graus e de 227,4 graus, longitudes pelas quais a Terra passa, respectivamente, em 9 de novembro e em 7 de maio, as passagens só podem ocorrer alguns dias antes ou depois destas datas. Como, por ocasião da passagem de maio, o planeta está próximo ao seu afélio e, na de novembro, próximo do seu periélio, as passagens em novembro são duas vezes mais numerosas que as de maio, numa relação de sete para três.

O intervalo mínimo entre trânsitos sucessivos é de três anos e o máximo, de treze. Assim ocorrem cerca de 13 trânsitos do planeta em cada século. Desde que os períodos orbitais da Terra e de Mercúrio não constituem uma relação inteira (enquanto a Terra completa uma revolução ao redor do Sol, Mercúrio completa 4,15), é quase certo que a repetição de um trânsito – ou seja, a passagem de Mercúrio pelo mesmo ponto do disco solar – irá ocorrer somente após 217 anos.

O diâmetro aparente do disco de Mercúrio é um pouco maior durante os trânsitos de maio, pois o planeta se encontra nesta época mais próxima da Terra do que em novembro, como já registramos anteriormente. Todavia, o diâmetro aparente de Mercúrio nunca excede a 13 segundos de arco. Por este motivo, o disco do planeta não pode ser visto a olho nu durante o trânsito. Esta é a explicação pela qual não existem registros dos trânsitos de Mercúrio até mesmo depois que o telescópio foi inventado, embora os astrônomos estivessem alerta com relação a este fenômeno.

Ronaldo Rogério de Freitas Mourão é astrônomo, escritor e fundador e primeiro diretor do Museu de Astronomia e Ciências Afins. Autor de mais de 80 livros, entre eles do Livro de Ouro do Universo. Consulte a homepage: www.ronaldomourao.com

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