Técnica previne seqüelas da entubação

Equipamento de ventilação
mecânica utilizado após cirurgias.

São Paulo (Agência Fapesp) – Uma pesquisa realizada na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) mostrou que o uso preventivo de uma droga antiinflamatória pode proteger os pulmões das graves seqüelas deixadas pela ventilação mecânica, método amplamente utilizado após cirurgias e em diversos casos de doenças pulmonares. O estudo, segundo o coordenador Itamar de Oliveira-Júnior, do Departamento de Medicina, avaliou os efeitos antiinflamatórios da pentoxifilina em uma situação clínica específica que geralmente leva à síndrome de aspiração do conteúdo gástrico que, por sua vez, causa a síndrome do desconforto respiratório.

Ao desentubar um paciente que passou por processo cirúrgico, freqüentemente ocorre um refluxo gástrico que atinge os pulmões, causando lesões e comprometendo a respiração. Para restabelecer a oxigenação dos tecidos, utiliza-se a ventilação mecânica. ?O problema da ventilação mecânica é que ela melhora a oxigenação, mas não protege o pulmão, causando danos nos tecidos e levando a um processo inflamatório. Isso provoca um efeito cascata em todo o organismo. É o que se conhece como falência múltipla de órgãos?, disse Oliveira-Júnior.

Os pesquisadores utilizaram modelos animais para estudar como os efeitos da pentoxifilina podem deter o processo inflamatório. Segundo Oliveira-Júnior, foi utilizado ácido clorídrico para induzir lesões pulmonares em quatro grupos de ratos, simulando a situação de um paciente com síndrome de aspiração do conteúdo gástrico.

Um grupo recebeu apenas ventilação mecânica. O segundo, ácido clorídrico e ventilação. Um terceiro recebeu ácido, pentoxicilina e ventilação. Ao último grupo foi dada a pentoxicilina previamente e, em seguida, ácido e ventilação mecânica. ?O quarto grupo teve uma proteção fantástica contra a cascata inflamatória. A droga protegeu o pulmão dos animais contra os mediadores inflamatórios e não apenas diminuiu o dano corrosivo do ácido como melhorou a oxigenação do animal?, disse o pesquisador.

O estudo indicou uma solução promissora para a proteção de pacientes que serão submetidos a cirurgia. ?Os resultados são animadores e a droga funcionou muito bem usada preventivamente. Agora, vamos estudar outras variáveis, considerando a doença de base do paciente para avaliar outras alternativas de drogas?, disse.

A pentoxifilina é utilizada freqüentemente para pacientes com problemas circulatórios. A droga tem a propriedade de mudar a forma das hemácias e de proporcionar dilatação alveolar, reduzindo os mediadores inflamatórios.

Na pesquisa, a equipe também constatou que os animais que foram submetidos à ação do ácido clorídrico e à ventilação mecânica apresentaram concentração menor de corticosterona nos pulmões. A substância, semelhante ao cortisol em humanos, é um bloqueador de mediador inflamatório. ?A corticosterona reduz o processo inflamatório, mas, no pulmão, ela quase não tem efeito, porque o ventilador mecânico faz uma pressão que não permite a ação antiinflamatória. Por outro lado, a alta concentração da droga na circulação aumenta o mediador inflamatório, levando o processo de inflamação à cronicidade e atingindo outros órgãos?, explicou.

Riscos são maiores em idosos

São Paulo (Agência Fapesp) – Todos os problemas causados pela ventilação mecânica se tornam muito mais graves em pacientes idosos. Por isso, a equipe da Unifesp iniciou, em julho, um novo estudo para comparar a resposta inflamatória entre animais adultos e idosos submetidos à ventilação mecânica. O projeto deverá ser concluído em junho de 2009.

?O volume de oxigênio aplicado no paciente é proporcional ao peso, desconsiderando a faixa etária. Achamos que isso precisa ser mudado. A caixa torácica e os alvéolos do idoso não se expandem como ocorre no adulto e os efeitos da ventilação são ainda mais graves?, disse Oliveira-Júnior.

Além dos pacientes que saíram de processo cirúrgico, a ventilação mecânica é utilizada em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica, asma grave ou enfisema pulmonar, por exemplo. ?Queremos encontrar ações preventivas viáveis, já que não há alternativas para o processo de ventilação mecânica?, afirmou.

Segundo Oliveira-Júnior, a maior parte dos idosos, principalmente os que moram em grandes centros, tem algum tipo de infecção crônica. ?Quando uma pessoa nessas condições entra em um centro cirúrgico, não há dúvida de que ela sairá de lá um pouco pior do que antes. Sabemos que não podemos ventilar o idoso da mesma forma que um adulto ou criança. Por isso, precisamos criar um processo protetor?, disse.

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